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No musical ‘Everybody’s Talking About Jamie’, garoto tem ambição de ser uma drag

Por Mariane Morisawa, especial para o Estadão

Jamie New é um adolescente com um sonho: ser uma drag queen Mas, aos 16 anos, vindo de uma família da classe trabalhadora, em uma cidade conservadora do norte da Inglaterra, ele vai enfrentar certos percalços, incluindo bullying na escola e um pai nada presente. Mas essa história é a trama de um musical do West End escrito por Tom MacRae e Dan Gillespie – ou seja, tem muita alegria, canto e dança envolvidos. Everybody’s Talking About Jamie (“Todo o mundo está falando sobre Jamie”, na tradução livre), com direção de Jonathan Butterell no Amazon Prime Vídeo.

O musical é baseado na história real de Jamie Campbell, protagonista de um documentário de 2011 chamado Jamie: Drag Queen at Sixteen (Jamie: Drag queen aos 16, na tradução livre), dirigido por Jenny Popplewell. Butterell assistiu e, em uma festa, conheceu o roteirista de TV e dramaturgo Tom MacRae e o cantor e compositor Dan Gillespie, da banda The Feeling, que são amigos. Convidou os dois na hora para escrever o musical. E eles toparam, apesar de ser seu primeiro trabalho do gênero. O espetáculo estreou em Sheffield em 2017, sendo transferido para o West End logo depois.

Everybody’s Talking About Jamie representou outra série de primeiras vezes: o primeiro longa dirigido por Butterell, o primeiro roteiro de McRae, a primeira trilha de Gillespie. E eles agora precisavam encontrar o ator que faria Jamie no cinema Foram sete meses de procura até chegar, via redes sociais, a Max Harwood, outro estreante. “Foi uma loucura, tive sete rodadas de testes”, contou Harwood em entrevista ao Estadão, por videoconferência. “É muito bacana que este seja o primeiro papel para mim, um ator queer, porque não preciso esconder nenhuma parte de quem sou. Fui apoiado pela minha equipe a não temer ser eu mesmo. Então espero que possa servir como esperança e luz para outros atores jovens que desejem fazer o mesmo.”

É ainda raro, especialmente no cinema, um protagonista LGBT+ que é o herói de sua própria história, sem que ela seja de trauma. “Normalmente os personagens queer efeminados são vitimizados, ou são coadjuvantes, os melhores amigos, ou mortos no final da peça ou filme”, disse Harwood. “E acho que essas histórias de violência e trauma são importantes de contar, porque nós sofremos isso. Mas também queremos assistir a coisas que queremos ser. Se podemos ver algo, enxergamos a possibilidade de ser aquilo. Histórias empoderadas, de alegria, podem se infiltrar na vida real.”

O musical não trata de uma saída do armário. Desde o início, Jamie e todos a sua volta sabem muito bem que ele é gay. No fim das contas, o personagem é apenas um rapaz de 16 anos com um sonho. “Todo o mundo pode se identificar com isso, e também com ser um adolescente tentando encontrar seu lugar no mundo”, disse Harwood. “E como a gente só consegue fazer isso se as pessoas ao nosso redor nos amam e nos apoiam.”

Jamie pode ter um pai hostil a quem ele é, uma conselheira escolar que não compreende suas circunstâncias, e um valentão que vive xingando e fazendo brincadeirinhas. Mas também tem Margaret (Sarah Lancashire), a mãe que faz turnos extras para comprar o primeiro sapato de salto de Jamie, uma espécie de madrinha em Ray (Shobna Gulati), e Pritti (Lauren Patel), uma amiga para todas as horas. Elas estão a seu lado mesmo quando ele decide ir ao baile de formatura como drag queen.

Hardwood, que nasceu há 24 anos na pequena Basinstoke, disse admirar demais a coragem de Jamie Campbell, o homem que deu origem ao personagem. “Ele diz que o que fez na formatura não foi corajoso. Mas claro que foi”, afirmou o ator. “Imagine, isso foi anos atrás. Hoje a discussão é outra. Aqui no Reino Unido podemos nos expressar muito mais livremente do que cinco ou dez anos atrás. Então foi corajoso. E ele inspirou muitos com sua história. Ele não tem medo nem vergonha de se expressar. É um ser humano brilhante.”

Mas Everybody’s Talking About Jamie também tem o cuidado de mostrar que, se a luta de Max Harwood ainda existe, mas é mais suave do que a de Jamie Campbell, a vida de quem veio décadas antes de Campbell foi bem mais dura. No filme, essa perspectiva é representada por Hugo (Richard E. Grant), que foi uma drag queen no passado e mantém hoje uma loja de vestidos na cidade. Como tantos outros, ele marchou e exigiu seus direitos, sofreu preconceito, violência e a epidemia de aids. “É muito importante ter uma conversa entre gerações sobre os ombros que nos carregaram até aqui”, contou Max Harwood. “Nós não chegamos lá ainda. Por isso é importante continuar contando essas histórias, fazendo paradas do orgulho.” Porque, no fim, ele disse, é uma luta por algo muito simples. “Equidade e aceitação. É um pedido muito pequeno. E é só isso que a comunidade quer.”

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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