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No mundo da Lua – 1 

Luiz Paulo Tupynambá *
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“Aquele beijo que te dei / Nunca, nunca mais esquecerei / A noite linda de luar / Lua testemunha tão vulgar” – Roberto Carlos

Nos tempos de Garrincha e do rádio de pilha, quando alguém dizia que “fulano vivia no mundo da lua” queria dizer que o tal fulano vivia sonhando com coisas à toa e sem noção da realidade. Enfim, uma pessoa que vivia em uma meta-realidade, fantasiosa e inexequível. A Lua, que é o único satélite natural da Terra, cumpria sua função de quatro períodos sem sequer saber da existência do tal Fulano. Porém, outros humanos tinham a Lua a seu alcance. Poetas sempre a enalteceram em rimas e versos. Sob o seu “vulgar testemunho”, casais trocaram juras de amor e apressados beijos ocultos. Coisa bem romântica, mas, na prática, contribuiu muito para o aumento da população mundial.

Até o final da década de 50, a Lua era um local fisicamente inalcançável para os humanos. Mas, como os poetas, os cientistas também sonham em transformar as coisas impensáveis em fatos realizados. Se o poeta pode roubar um raio de luar para iluminar o coração da sua amada, por que o cientista não poderia trazer e enfeitar sua mesa de trabalho com uma pedra lunar? Assim aconteceu e, acreditem, em menos dez anos o que era impossível tornou-se possível graças à disputa geopolítica da guerra fria, muito dinheiro, um grupo de cientistas “sequestrados”, organização e coragem de talentosos jovens oficiais.

A chamada “corrida espacial” teve sua largada oficialmente no dia 4 de outubro de 1957. Nesse dia, enquanto aqui na Terra se jogava futebol com bola de capotão e já tinha show de “roquenrol” no rádio, a pequena bola metálica com antenas, chamada de Sputnik 1, subia para a órbita terrestre levada por um pequeno foguete. Durante vinte e dois dias ela circundou o planeta emitindo o seu “bip” a cada cinco segundos para ser captada pelos radioamadores do mundo todo. A União Soviética comemorou a estrondosa vitória na guerra fria que travava com o ocidente.

No início da década de 1960, os dois países estavam competindo para ser o primeiro a colocar um homem no espaço. Em 1961, os soviéticos marcaram um golaço ao enviarem o primeiro homem ao espaço, Yuri Gagarin. Dois a zero para o proletariado. Em resposta os Estados Unidos lançaram o Projeto Apollo e confiaram a sua direção a um cientista alemão, “sequestrado” da Alemanha Nazista no final da Segunda Guerra. Wernher Von Braun durante a guerra foi o responsável pela criação de uma arma impressionante, o foguete V2, que era lançado de solo alemão e atingia em poucos minutos a Inglaterra. Von Braun e sua equipe desenvolveram um foguete capaz de levar a tripulação de uma nave até a órbita da Lua, possibilitando que um módulo lunar dela se desprendesse e levasse dois astronautas por vez até o solo lunar.

A grande sacada foi fazer o foguete Saturno V com três estágios. O primeiro estágio, com cinco motores, era responsável por tirar o foguete do chão e levar a nave até uma altitude de 67 quilômetros, vencendo a gravidade da Terra. Nesse ponto, o combustível do primeiro estágio acabava e ele se desprendia do resto do foguete. O segundo estágio, era composto por cinco motores. Era responsável por levar o foguete para uma altitude de 184 quilômetros e colocá-lo em órbita terrestre. Da mesma maneira, ao acabar o combustível, ele se desprendia do resto do foguete e caia. O terceiro estágio era composto por um motor J-2 e tinha combustível suficiente para colocar a nave espacial em órbita lunar e trazê-la de volta depois que a missão terminasse.

Em 20 de julho de 1969, Neil Armstrong se tornou o primeiro homem a pisar na superfície lunar. A última missão dessa época foi a Apollo 17 de 1972. Apenas doze humanos pisaram na Lua, todos estadunidenses.

Com as missões Apollo os Estados Unidos viraram o jogo e o capital bateu o proletariado na primeira fase da Corrida Espacial.

Agora a corrida terá uma nova etapa, com mais participantes interessados nos “segredos” e “dotes” que a Lua tem guardado em seu solo árido.

Oficialmente 6 países já pousaram naves exploratórias e equipamentos na Lua depois das missões Apollo. Estados Unidos, Rússia, China, Japão, Ìndia e União Européia. Todos têm programas espaciais que objetivam o estabelecimento de bases humanas lunares em um futuro muito próximo. Ao que tudo indica, a China deve chegar primeiro, tem o programa mais avançado e definido. Os estadunidenses sofrem com o atraso sofrido por terem abandonado os avanços técnicos do Projeto Apollo 

E aí você olha para o céu e, entediado, pergunta: e por que montar bases na Lua? E eu te dou a resposta de sempre: dinheiro e poder.

A Lua é rica em terras raras que são um grupo de 17 elementos químicos essenciais para a fabricação de eletrônicos, baterias e outros produtos. Elas são escassas na Terra, mas abundantes na Lua. Também existe lá muito titânio, silício e óxido de ferro. Mas o Hélio 3, o Santo Graal do futuro da energia barata e inesgotável, que é escasso aqui na Terra, existe em grande quantidade na Lua. Essa é a parte do dinheiro.  Estabelecer um marco possessório de uma área lunar representa muito como símbolo de poder para qualquer nação que visualize o futuro da exploração espacial. Ter um foguete e conseguir estabelecer uma base lunar seria, nos dias de hoje, o que foram as caravelas e os primeiros assentamentos coloniais, nos séculos XV e XVI.

Semana que vem, veremos as novas missões lunares.

* Jornalista e fotógrafo de rua 

 

  

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