A superintendente do Instituto de Previdência dos Municipiários de Ribeirão Preto, Maria Regina Ricardo, afirma que ao longo da história o Instituto foi usado de maneira errada por administrações municipais. Para ela, apesar de alguns bons gestores terem passado pelo Instituto, eles não terminaram seus mandatos por discordarem de intervenções de alguns governos que tiraram dinheiro do IPM para usar em outras áreas da Administração.
Advogada, especialista em Direito Constitucional, Administrativo e Previdenciário ela, que também é servidora concursada na Prefeitura de Ribeirão Preto, tem como função encontrar saídas para o Instituto que, este ano, segundo estimativas, deverá ter um déficit de R$ 300 milhões para o pagamento dos aposentados e pensionistas. Em 2018 o IPM teve um custo de R$ 491.223.385,93 para o pagamento dos 5.832 aposentados e pensionistas.
Tribuna Ribeirão – Uma das críticas que se faz ao sistema de aposentadorias do IPM é o pagamento do salário integral com o qual o servidor se aposentou. A senhora concorda com estas críticas?
Maria Regina Ricardo – Concordo à medida que parece irracional que alguém contribua com 33% para o Instituto por 25, 30 ou 35 anos e quando se aposente passe a receber 100%, ou até o dobro. Sem contar que o servidor não contribui o tempo todo em que trabalha sobre o valor que receberá quando se aposentar, pois o salário fica maior no período próximo da sua aposentaria. Mas, discordo veementemente de culpar o servidor por isso, afinal a Constituição Federal garante que seja assim. Então essa crítica precisa ser feita onde de direito, ou seja, ao Presidente da República e ao Congresso que podem propor a mudança, via emenda constitucional. Discutir isso no município não adianta, somos obrigados a pagar desta forma.
Tribuna Ribeirão – Para os novos servidores a Prefeitura tenta limitar este teto ao do Instituto Nacional de Seguridade Social. Em quanto tempo efetivamente, caso seja aprovado, este novo sistema deverá ajudar a diminuir o déficit do Instituto?
Maria Regina Ricardo – É preciso deixar claro que esta mudança é prevista para novos servidores contratados depois da aprovação da lei que será analisada e votada pela Câmara de Vereadores. Em média um ato feito no presente, atuarialmente falando, levará de 30 a 35 anos para ter impacto significativo. Entretanto, uma vez implementado, após cinco anos já poderemos conceder aposentadorias, por tempo de contribuição na nova regra. Outra mudança será o pagamento de outros benefícios com teto menor, por exemplo, Auxílio Doença, Salário Maternidade e Pensões, pois para receber integralmente os novos servidores, que assim quiserem, terão que contratar um seguro.
Tribuna Ribeirão – Quantos aposentados e pensionistas recebem hoje acima do Teto do INSS?
Maria Regina Ricardo – Essa pergunta não deve ser relacionada à mudança da lei que pretende criar a Previdência Complementar, porque para os que recebem acima do teto nada mudará, pois eles possuem direito adquirido em seus benefícios. Considerando que a partir de 2019 o teto é R$ 5.839,45, temos com base em dezembro de 2018, um total 5.832 beneficiários, sendo 4.491 aposentados e 1.341 pensionistas. Desses, apenas 2.081 recebem acima de R$ 5.839,45, sendo 1.834 aposentados e 247 pensionistas. Esses dados mostram que a mudança não vai impactar na maioria das carreiras dos novos servidores, pois suas remunerações são menores que o teto do INSS.
Tribuna Ribeirão – Por que o déficit do Instituto tem crescido tanto?
Maria Regina Ricardo – Esse fenômeno é mundial, pois o Sistema de Previdência foi montado sob uma perspectiva de sobrevida das pessoas de apenas dez anos após se aposentarem e hoje esta perspectiva ultrapassa os trinta anos. O IPM, ao logo dos anos, não capitalizou adequadamente seus recursos para fazer caixa para pagar seus beneficiários. Depois da segregação de massas muitas gratificações foram criadas, majorando salários de algumas categorias, e obrigando o Instituto a revisar quase todos seus benefícios concedidos. Em 2012 pagamos um total de 3.073 benefícios e investimos naquele ano R$ 143.303.726,47. Já em 2018 para o pagamento dos 5.832 benefícios tivemos um custo de R$ 491.223.385,93. Enquanto o número de benefícios aumentou 90%, o total de recursos necessários aumentou mais de 300%.
Tribuna Ribeirão – Quantos servidores se aposentaram em 2017 e 2018?
Maria Regina Ricardo – Em 2017 foram formalizadas 378 aposentadorias e no ano passado 573.
Tribuna Ribeirão – Além de tentar criar o teto para as aposentadorias dos novos servidores a serem contratados após a aprovação da lei, o que o IPM tem feito hoje para reduzir custos?
Maria Regina Ricardo – Como todas as medidas decorrem de mudança em leis, e algumas são federais, por enquanto, essa é a segunda medida legal que estamos tentando implementar. A primeira foi a que economizou mais de R$ 16 milhões em repasse, ao passar 239 aposentados do plano Financeiro para o Previdenciário. Já administrativamente limitamos 26 benefícios ao teto do Prefeito que é de R$ 23.054,20. Alguns eram de até o dobro.
Tribuna Ribeirão – Alguns especialistas dizem que o déficit atuarial do Instituto, hoje em R$ 15 bilhões, dificilmente será resolvido. A senhora concorda com estas afirmações?
Maria Regina Ricardo – Na verdade não há o déficit atuarial quanto se opta por segregação de massas. Entretanto, a legislação nos obriga a apurar o montante das reservas matemáticas. O IPM faz essa atualização a cada três meses e, em 31 de dezembro de 2017, ele era de R$ 15.581.391.998,00, mas não pode ser chamado, tecnicamente, como déficit, pois é uma estimativa futura.
Tribuna Ribeirão – O cargo que a senhora ocupa tem dois lados lhe cobrando soluções. De um lado os aposentados e do outro o próprio Governo. Como é lidar com cobranças tão antagônicas?
Maria Regina Ricardo – Trabalho sendo imparcial e aplicando todo conhecimento que obtive ao longo dos 25 anos de IPM e 27 anos como servidora de Ribeirão Preto. A função de qualquer gestor é seguir a lei. Fui escolhida pelo prefeito, por minha capacidade e é isso que tenho que mostrar a ele e aos servidores. Como gestora não posso dizer que há um lado e outro. Eu tomarei decisões que contrariariam até meus interesses pessoais para preservar a saúde do órgão para que eu mesma tenha no futuro, algo a receber. Por isso, a visão do governo e a do IPM são as mesmas que as minhas. Que é a de adotar medidas que serão importantes no futuro, para garantir a sustentabilidade do sistema. Antes de ser superintendente, sempre trabalhei no Instituto em defesa dos interesses coletivos e não apenas de alguns.
Tribuna Ribeirão – Como está a ação judicial sobre o furto cibernético que o Instituto sofreu em outubro de 2018?
Maria Regina Ricardo – Está tramitando na Justiça, na Segunda Vara da Fazenda Pública da Comarca de Ribeirão Preto.
Tribuna Ribeirão – Dois anos depois à frente do IPM dá para fazer uma análise dos motivos que ao longo dos anos levaram o IPM a situação que ele está atualmente?
Maria Regina Ricardo – Sempre soube da situação complexa, pois estou no IPM desde sua criação. Entre os motivos que geraram esta crise está, por exemplo, o fato de que muitos benefícios nunca foram capitalizados e são pagos com valores elevados e o fato da súmula 33 do Superior Tribunal Federal estar sendo aplicada de forma errada pelo TJ/SP, garantindo aposentadoria sobre o valor do último salário para quem só contribuiu por 25 anos. Os governos municipais anteriores agiram de forma errada na capitalização dos recursos do IPM, e apesar de alguns bons gestores terem passado pelo Instituto, eles não terminaram seus mandatos, por discordarem de intervenções de alguns governos passados que tiraram dinheiro do IPM para usar em outras áreas da administração. Vale lembrar que todos esses recursos foram devolvidos graças ao Ministério Público.