A incidência de epilepsia em adultos aumenta significativamente com o avanço da idade, particularmente naqueles acima de 60 anos. Comparados com pessoas saudáveis, idosos com epilepsia demonstram variados déficits nos domínios cognitivos. Do mesmo modo, adultos com epilepsia demonstram deficiências cognitivas quando comparados com indivíduos que têm disfunção cognitiva claramente definida. Todavia, a relação entre declínio cognitivo e as características da epilepsia ainda é complexa, não estando ainda completamente entendida.
Recentemente, vários autores têm se preocupado em analisar o impacto da epilepsia sobre a cognição em idosos. Estudos interessantes são Gramstad et al (Archives of Clinical Neuropsychology 2019, 1-10), Loughman et al (European Journal of Neurology, 2016, 1-8) e Miller et al (Epilepsy and Behavior, 2016, 113-7), dos quais sumariaremos os resultados deste último.
Miller e colaboradores utilizaram 38 adultos com epilepsia e 29 adultos cognitivamente intactos com 55 anos de idade ou mais velhos. Os indivíduos no grupo com epilepsia foram diagnosticados de forma documentada por um neurologista enquanto que os indivíduos saudáveis não tinham qualquer histórico de convulsões ou epilepsia, tampouco qualquer queixa convulsiva. Todos os participantes completaram uma grande bateria de testes envolvendo funcionamento emocional e testes neuropsicológicos.
Nos primeiros testes, eles completaram um inventário de depressão e um inventário de ansiedade, traço, estado. Em relação aos testes neuropsicológicos, os participantes completaram uma bateria de testes neuropsicológicos reconhecidamente populares nas áreas de Psicologia, Neurologia, Psiquiatria e outras especialidades médicas afins. Os testes foram de cognição global, que avaliavam orientação, atenção básica, memória de trabalho, aprendizagem, nomeação, construção, compreensão e repetição. Um teste para checagem de estados demenciais. Um teste de memória verbal, avaliando aprendizagem e o relembrar uma lista de doze palavras ao longo do curso de três tentativas. Um teste de memória visual de figuras geométricas. Um teste de velocidade psicomotora e de atenção, no qual se pedia aos pacientes para conectarem uma série de 25 pontos numerados em ordem ascendente o mais rapidamente que podiam.
Neste contexto, também realizaram um teste de função executiva, o qual envolvia subtestes de fazer trilhas, de associação oral de palavras e um que requeria copiar figuras com múltiplos componentes. Um teste de linguagem no qual os pacientes deveriam nomear as figuras desenhadas e um teste de fluência animal e, por fim, dois subtestes de habilidade visuoespacial envolvendo copiar figuras complexas e julgamento de orientação de linha.
Os dados foram reveladores. Deficiência cognitiva foi obtida em todos os domínios cognitivos para o grupo com epilepsia, incluindo 39,5% com prejuízo na memória visual; 23,7% nas funções atentivas e executivas; 18,4% nas habilidades espaciais; e 15,8% na memória verbal e na linguagem. As análises revelaram que idosos com epilepsia desempenharam pior nos testes neuropsicológicos em quase todos os domínios cognitivos quando comparados com idosos sem epilepsia. As taxas de deficiência cognitiva tendo sido elevadas neste grupo, particularmente para os escores de memória visual, atenção e função executiva.
Ademais, este estudo demonstrou uma piora na função cognitiva em idosos com epilepsia, mesmo naqueles sem lesões cerebrais, comparados com os participantes saudáveis. O impacto de drogas antiepiléticas, incluindo politerapia e ansiedade, tendo sido identificado como preditor de algum aspecto da cognição.
Assim considerando, entender a natureza do declínio cognitivo nessa população, bem como, os fatores de risco a ela associados, podem assistir o diagnóstico diferencial das incapacidades cognitivas e melhorar a escolha das intervenções para idosos com epilepsia.