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Neuropsicometria Cognitiva (8): Transtorno Bipolar

Transtorno Bipolar (TB) é uma doença mental crônica muito comum, afetando mais que 1% da população mundial. Uma crescente evidência tem mostrado disfunção cognitiva relacionada à atenção, velocidade de processamento, memória de trabalho e memória visual muito prevalente nas desordens bipolares, mesmo em estágios eutímicos, ou seja, naqueles em que o paciente apre­senta tranquilidade ou serenidade de espírito, que afetam o funcionamento ocupacional ou psicos­social, posteriormente afetando a qualidade de vida do paciente e aumentando o custo econômico.

Ao longo da última década, tem havido grande interesse em identificar e tratar os problemas cognitivos associados com transtorno bipolar, desde que ele persista nos períodos de remissão, bem como, quando as evidências indicam que as disfunções neurocognitivas podem significativa­mente influenciar as atividades psicossociais dos pacientes.

Dentre os inúmeros estudos recentemente publicados mostrando que os processos cognitivos são prejudicados em pacientes com transtorno bipolar, um deles, publicado por Luo et al (Psychia­try Research 284, 2020, 112669) merece ser aqui sumariado pelo fato de ter analisado a disfunção cognitiva subjetiva, a disfunção cognitiva objetiva e o funcionamento psicossocial e ideação suicida em pacien­tes com transtornos bipolares diversos.

Para isso, foram formados dois grupos de participan­tes. O primeiro consistindo de 92 pacientes bipolares, de 18 a 60 anos de idade, incluindo 42 pacientes bipolares deprimidos e 50 pacientes bipolares eutímicos. O segun­do grupo consistindo em um grupo controle de pacien­tes saudáveis, entre 18 a 60 anos de idade. As medidas subjetivas incluíram um questionário de avaliação das queixas cognitivas em pacientes bipolares (questionário conhecido como COBRA), o qual é um instrumento de autoavaliação, constituído de 16 itens buscando capturar uma única dimensão. As medidas cognitivas objetivas foram feitas através de variados testes neuropsicológicos, incluindo fazer uma trilha, amplitude digital, codificação de dígitos simbólicos, memória operacional, reconheci­mento visual e reprodução, fluência verbal e teste verbal e de cores para avaliar funções executivas. Finalmente, uma escala de funcionamento global foi aplicada visando avaliar as atividades sociais e ocupacionais na vida diária dos mesmos. Por adição, a medida de ideação suicida (vontade de findar com a própria vida) foi feita através da escala BECK de ideação suicida, que quantifica o nível de ideação suicida.

Os resultados foram relevantes. Em relação ao funcionamento cognitivo subjetivo (queixas), aproxi­madamente 87% dos pacientes bipolares apresentaram queixas cognitivas, incluindo quase todos os pacientes deprimidos (97,6%) e aproximadamente 78% dos pacientes eutímicos com TB. Em termos estatísticos, os escores do grupo deprimido foram mais elevados do que o grupo eutímico, com ambos os grupos de pacientes mostrando escores do COBRA mais elevados do que o grupo controle de pacientes saudáveis. Em relação ao funcionamento cognitivo objetivo, não houve dife­rença estatística significativa entre os dois grupos de pacientes, exceto que os pacientes deprimidos desempenharam pior nas funções executivas do que os pacientes bipolares eutímicos. Não obstan­te, quando comparados com os pacientes saudáveis, os pacientes bipolares mostraram desempenho no funcionamento cognitivo objetivo pior que o grupo saudável, incluindo funcionamento cogniti­vo global, atenção, velocidade de processamento, memória visual e funções executivas. Interessante que o funcionamento cognitivo subjetivo foi relacionado ao funcionamento psicossocial, ideação suicida e status ocupacional. Em outras palavras, pacientes com TB desempenharam de forma mais pobre no funcionamento cognitivo subjetivo, na disfunção psicossocial e na ideação suicida quando comparado com pacientes do grupo saudável.

Tomados em conjunto, todas essas análises revelam que pacientes bipolares, mesmo duran­te a fase eutímica, mostraram disfunções cognitivas subjetivas significativas quando compa­rados com indivíduos saudáveis. Ademais, o funcionamento cognitivo subjetivo foi associado significativamente com funcionamento psicossocial e ideação suicida. Esses achados sugerem que especialmente as avaliações cognitivas subjetivas devem ser melhor e regularmente enfati­zadas na prática clínica.

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