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Neuropsicometria Cognitiva (5): Dor crônica

Dor é um grande problema de saúde pública, capaz de afetar todas as pessoas indepen­dente da idade, sexo, renda, etnia ou geografia. Estudos têm revelado que 20% dos adultos ao redor do mundo sofrem de dor e 10% são diagnosticados com dor crônica, durando, estas, de três ou mais meses a cada ano. Estima-se, também, que mais de 50% dos idosos, em qualquer comunidade, sofrem de dor. E que, até 70% dos idosos vivendo em casas de repouso viven­ciam dor, com a prevalência de dor crônica aumentando com a idade. Nos idosos dor crônica interfere com as atividades diárias, sendo associada a um maior risco de desenvolver incapaci­dade, risco de quedas, prejuízo funcional e generalizados problemas de saúde.

Dor crônica também pode afetar a cognição em idosos. De fato, variados estudos, ori­ginais e revisões sistemáticas, têm mostrado que dor crônica é associada com uma piora nas funções cognitivas nestes, particularmente com respeito à concentração, atenção e memória. Um estudo publicado por Landro et al (Pain, 2013, 154,972-977) tentou responder as seguin­tes perguntas: 1ª) Há uma relação entre os auto-registros do funcionamento cognitivo com os escores do funcionamento cognitivo avaliado por testes psicológicos quando controlando os sintomas depressivos? ; 2ª) Em que extensão são as funções neuropsicológicas objetivas preju­dicadas numa população com dor clínica?; 3ª) O funcionamento neuropsicológico varia entre subgrupos com dor localizada, generalizada e neuropática?; 4ª) O tratamento medicamentoso reduz as funções neuropsicológicas em pacientes com dor crônica?

Para respondê-las, o estudo contou com 72 pacientes submetidos a dois diferentes questionários de dor, que capturavam informações desde a história de dor de cada um destes até um escore médio de dor entre 0 a 10 percebida na última semana. As funções cognitivas avaliadas foram: inteligência geral, velocidade psicomotora e atenção, memória de trabalho, aprendizagem verbal e memória, bem como, foi aplicado um questionário para avaliar eventos mnemônicos da vida diária e sintomas depressivos.

De modo geral, os dados foram extremamente interessantes. Aproximadamente 20% dos pacientes desempenharam abaixo da nota de corte em qualquer teste cognitivo. Cerca de 47% dos pacientes desempenharam abaixo da linha de corte em, pelo menos, uma das tarefas cognitivas. Entre pacientes com dor generalizada e neruropática, um em cada três desempe­nhou abaixo da linha de corte de cada critério. Interessante também observar que os escores obtidos no questionário de eventos mnemônicos cotidianos se correlacionaram significativa­mente com as escalas de depressão, com a tarefa cognitiva do teste stroop (identificação de cor sobre cor) e com os escores obtidos no teste de aprendizagem verbal e memória.

Considerando a medicação para dor e o funcionamento neurocognitivo, os dados revelaram que os pacientes medicados tiveram mais sintomas depressivos quando comparados com aqueles que não tiveram qualquer medicação. Tomados juntos, esses resultados indi­cam que várias funções neurocognitivas básicas são prejudicadas de maneira substancial em pacientes com severa dor crônica, não maligna. Ademais, de algum modo, tais prejuízos são refletidos nas queixas subjetivas independentemente dos sintomas depressivos. Há, todavia, que se observar a existência de grande variabilidade entre pacientes e entre grupos indicando que uma avaliação sistemática das funções neurocogntivas nos centros que tratam de pacien­tes com dor crônica se faz fundamentalmente necessária.

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