A prevalência, complicação e sobrecarga funcional das desordens depressivas são condições de grande impacto social, detentoras do risco de tornarem-se crônicas. Recentemente, registrou-se que a depressão afeta mais que 300 milhões de pessoas no mundo, com o número de casos aumentado de 18% entre 2005 e 2015. Na Europa, a prevalência de depressão na população idosa (≥ 65 anos) tem se situado entre 10 a 15%, elevando-se para 20-25% entre aqueles que vivem em residenciais para idosos. Ademais, com amplo uso de drogas antidepressivas, o risco da recorrência de episódios depressivos é muito elevado, com formas crônicas de depressão situando-se em torno de 20% dos pacientes afetados, especialmente aqueles que apresentam sintomas depressivos residuais durante remissões.
Os sintomas típicos da desordem depressiva incluem aspectos físicos e emocionais. Mas, nos últimos anos, deficiências e incapacidades cognitivas têm ganhado atenção em relação a outros sintomas psiquiátricos associados com as desordens depressivas, incluindo a atenção, funções executivas, memória e velocidade de processamento. Em alguns casos, a perda da função mental domina o quadro clínico, tendo impacto significativo no funcionamento global do indivíduo acometido por depressão. A ponto de mais de 75% dos pacientes com depressão registrarem perda na produtividade do trabalho, estimando-se que o prejuízo neste fique entre 30 a 90% dos gastos atribuídos à depressão.
De fato, inúmeros estudos têm mostrado uma associação substancial entre desordens depressivas e deficiências cognitivas. Para ilustrar tal fato, uma meta análise realizada por Rock et al (Psychological Medicine, 2014, 44: 2029-2040), revelou deficiências cognitivas moderadamente significativas nas funções executivas, memória e atenção em pacientes com depressão em relação aos pacientes do grupo controle, isto é, sem depressão. Ademais, deficiências cognitivas moderadamente significativas nas funções executivas e tarefas de atenção, e deficiências pequenas não significativas na memória, foram encontradas persistir em pacientes cujos sintomas depressivos tinham sido remitidos, indicando que a incapacidade cognitiva ocorre separadamente desde a depressão episódica até a desordem depressiva mais grave.
Outros estudos, publicados mais recentemente, têm não só comprovado estes dados, como, também, ampliado os domínios cognitivos que a depressão afeta. De fato, os estudos indicam que a grande maioria de pacientes com depressão registram deficiências cognitivas nas tarefas de solução de problemas, tomada de decisão, julgamento, memória e atenção nas atividades diárias. Ademais, mais que 30% dos pacientes deprimidos, que têm respondido à intervenções terapêuticas para depressão, têm registrado problemas residuais, incluindo desatenção, apatia, esquecimento, dificuldade em achar palavras e lentidão mental.
Além disso, as deficiências cognitivas podem ocorrer antes, durante ou após um episódio depressivo. Podendo servir, em idosos, como fator precipitante para depressão subsequente. Importa lembrar que episódios repetidos de depressão podem aumentar a vulnerabilidade para posteriores deficiências cognitivas, conduzindo a um suave efeito, secundário apenas àqueles dos episódios depressivos repetidos.
Tomados juntos, tais dados indicam que as deficiências cognitivas decorrentes da depressão não podem ser consideradas um epifenômeno inteiramente secundário aos sintomas de baixo ânimo, mas ao contrário. Tais deficiências devem ser consideradas como um “alvo” visando futuras intervenções terapêuticas.