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Neuropsicometria Cognitiva (23): covid-19, hesitação e aderência à vacinação

Desde o reconhecimento de que a covid-19 foi reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como uma doença pandêmica, laboratórios de pesquisa ao redor do mundo, de modo individual ou em conjunto, estão buscando algum medicamento para alívio ou recuperação rápida dos acometidos, bem como, a criação de uma vacina que possa prevenir a infecção pelo coronavírus. De fato, a vacinação desempenha um papel fundamental no manejo de qualquer tipo de influenza e, certamente, pode desempenhar um papel extremamente importante nas diferentes manifes­tações físicas, psicológicas, cognitivas, mentais e outras, e muito mais na propagação do surto pandêmico.

Entretanto, diferentes fatores atitudinais e crenças sobre a vacinação podem afetar a aderência à vacinação. A decisão de uma pessoa em querer ser vacinada diminui não apenas o seu próprio risco de contaminação mas, tam­bém, o risco das pessoas com quem ela interagem. Ao contrário, atitudes anti-vacinação, ou recusa à vacina, podem contribuir para a disseminação da infecção.

A relutância, ou a hesitação, à vacina para si próprio ou seus dependentes tem sido identificada pela OMS (2019) como uma das dez ameaças à saúde global. Pessoas que são hesitantes à vacinação expressam preocupação com o valor ou segurança da vacinação. Também, segundo Taylor (2019), em The Psychology of Pandemics, a hesi­tação à vacinação entre os próprios trabalhadores de saúde é um problema que está crescendo. Segundo o autor, há dados indicando que menos de 50% dos profissionais de saúde, incluindo aqueles envolvidos no contato direto com o paciente, foram vacinados.

Programas convencionais, que buscam elevar as taxas de vacinação, incluem campanhas educativas públicas sobre a importância da vacinação e ações que tornam esta um processo fácil e confortável de ser obtido. Em geral, mesmo em termos da gripe sazonal, as pessoas são improváveis de buscar vacinação se elas: 1º) acreditam acurada­mente ou não que elas são improváveis de serem expostas a um vírus da gripe; 2º) vejam a si próprias como sendo imunes à infecção; 3º) não percebem que a infecção seja um problema sério; 4º) percebem que há significativas in­conveniências, ou barreiras, para aderirem à vacinação; 5º) têm informações incorretas sobre a segurança e a eficá­cia da vacinação. Em resumo, pessoas com crenças muito fortes acerca dos efeitos negativos, adversos ou colaterais da vacina podem se recusar serem vacinadas mesmo reconhecendo que a infecção é potencialmente perigosa.

Muitas pessoas acreditam que as vacinas são ineficazes ou que os riscos sobrepujam os benefícios. Algumas pessoas se recusam a serem vacinadas porque acreditam que as vacinas não sejam saudáveis por elas não serem na­turais. Ademais, experiências aversivas passadas com vacinação podem contribuir para a hesitação à mesma. Tem sido demonstrado que pessoas com altos níveis de emocionalidade negativa tendem a interpretar incorretamente os sintomas comuns ou as sensações corporais como efeitos negativos da vacinação, isto é, o efeito nocebo. Pessoas com altos níveis de vulnerabilidade à doença, comparadas com aquelas de baixos escores para o mesmo, são mais prováveis de se engajarem em práticas higiênicas, tais como, lavar as mãos. Paradoxalmente, pessoas com altos níveis de vulnerabilidade percebida também tendem a ter atitudes negativas em relação à vacinação. Em outras palavras, aversão elevada às fontes percebidas da doença prediz mais atitudes negativas em relação às vacinas. Se­gundo Taylor (2019), uma explicação evolutiva supõe que as vacinas têm: a) apenas recentemente tornaram-se um elemento do ambiente humano; b) são usualmente administradas via as rotas comuns da transmissão patogênica, como, por exemplo, a picada na pele; c) intencionalmente dispara uma resposta biologicamente imune.
Outro fator que contribui para a hesitação da vacinação é a crença nas teorias conspiratórias associadas à vacinação. Algumas delas? Interesses comerciais, interesses farmacêuticos, crenças na supremacia de um país sobre outros e crenças em dizimar populações especiais, entre outros. Um fato relacionado a este contexto refere-se à falta de confiança nas autoridades sanitárias, creditadas por alguns como aquelas que querem restringir a liberdade e tirar a autonomia das pessoas.

Recentemente, movimentos anti-vacinação têm pressionado e persuadido muitas pessoas a rejeitarem os efeitos benéficos da vacinação, acusando-a de provocar até mesmo o autismo, sendo, também, céticos em relação aos achados da ciência para controle da propagação de doenças infecciosas. Importa saber que atitudes acerca da obri­gatoriedade da vacina não são estáticas, mas, sim, podem mudar ao longo do tempo, pois algumas pessoas, ainda que possam ser inicialmente resistentes à idéia da obrigatoriedade da vacinação, podem mudar de idéia com o passar do tempo. A hesitação à vacinação é, portanto, um problema muito disseminado, mesmo entre profissionais da saúde e durante tempos de pandemia. Por favor, tão logo uma vacina para combater o coronavírus seja aprovada pelas agências sanitárias mundiais, não deixe de se vacinar. Pelo contrário, seja o primeiro.

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