Crenças, medos e temores sobre doenças, de modo análogo às doenças, espalham-se através das mídias sociais de forma coletiva. Por sua vez, as crenças também influenciam a disseminação da infecção. Se há uma disseminação ampla da crença na importância do comportamento de se lavar as mãos, por exemplo, isto mitigará a progressão da pandemia. Em geral, crenças e medos espalham-se de três modos principais: (1º) transmissão de informação, tais como as espalhadas pelos registros da mídia, como textos e imagens, ou como informações verbais recebidas de outras pessoas, como rumores e boatos; (2º) experiências pessoais diretas, incluindo eventos condicionados, como exposição ao trauma; e (3º) aprendizagem observacional, como testemunhar terceiros lutando em resposta a alguns estímulos. Especificamente, um rumor, como definido nas ciências sociais, refere-se a “uma história, ou parte de informação, de grau de confiabilidade desconhecido, transmitido de pessoa a pessoa”, ou seja, notícias improvisadas espalhando-se rapidamente quando a demanda por informação supera a oferta, tal qual ocorre em períodos de incerteza sobre temas importantes, como sobre surtos pandêmicos, por exemplo.
Os rumores podem se espalhar quando ajudam as pessoas a encontrarem sentido em situações ambíguas, do tipo ameaça de infecção, oferecendo orientação sobre como enfrentar os riscos percebidos, tal como ocorre nos conselhos de uma pessoa a outra (Taylor, 2019, The Psychology of Pandemics). Podem, também, surgir de forma anônima, causando incerteza sobre a veracidade da informação. Tradicionalmente, rumores foram disseminados de modo oral, mas, agora, o são principalmente pelas mídias social e coletiva. Podendo ser verdadeiros, falsos ou mistos destes, os rumores podem, à medida que avançam, ser diminuídos ou simplificados, com omissão de detalhes; o contrário também ocorre. Uma vez alterados, buscam serem ajustados aos estereótipos sociais de uma população. Ao longo de uma pandemia, os rumores podem ser espalhados maliciosamente, ou visando promover estereótipos e estigmatizações, de pessoas e regiões infectadas.
Por sua vez, a aprendizagem observacional revela de que modo é possível destacar quão importante é a sua conexão com as emoções, aqui incluindo medo, ansiedade e agressividade. Aprendizagem observacional também envolve aquisição de informação, habilidades e comportamento de observar desempenho de outros. Medos podem ser adquiridos via aprendizagem observacional, tais como vendo ou ouvindo pessoas demonstrarem temor sobre algo, como, por exemplo, medo de uma pandemia. Aprendizagem observacional também pode incluir ver faces amedrontadas, posturas comportamentais e ouvir vozes de pessoas esbravejando contra o infortúnio, o isolamento, a restrição de locomoção, as campanhas de vacinação etc. Evidências também sugerem que alguma combinação de aprendizagem observacional e transmissão de informação desempenham um papel importante no medo relacionado a uma pandemia.
Neste contexto, a imprensa midiática tenta lidar com vasta quantidade de informação de notícias, filtrando-as e distribuindo-as, em poucas colunas em jornais diários e em poucos bytes nos programas jornalísticos noturnos. Tais veiculações noticiosas podendo tanto refletir quanto reforçar as ansiedades e preocupações da comunidade. A mídia televisiva, por exemplo, tem sido constantemente acusada, por exemplo, de exagerar os perigos e, até mesmo, de criar um exagerado pânico ou medo público. Complicando tal cenário, os registros exagerados da mídia podem conduzir, também, o público a manifestar reações as mais diversas durante o consumo e o acompanhamento das mesmas. Um exemplo? Algumas pessoas reagem com medo excessivo enquanto outras negligenciam os novos registros como exacerbação grosseira. Ambos os tipos de reações são muito comuns.
O efeito conhecido como fadiga midiática coletiva (zoom fatigue) podendo, então, enfraquecer os esforços da equipe sanitária, que tenta conter a disseminação da infecção. De qualquer modo, notícias sensacionalistas podem promover ansiedade, medo e temores, levando a problemas sociais que conduzem à dessensibilização enquanto resposta emocional diminuída em relação aos registros midiáticos negativos. As pessoas podem seguir as precauções de saúde recomendadas durante a fase inicial da pandemia, mas tornam-se relaxadas ao longo do tempo, quando se dessensibilizam em relação aos novos registros divulgados pela mídia. Em relação às mídias sociais, como twiter, facebook, youtube etc, verifica-se a constituição de uma grande fonte de informação à saúde no mundo, o que tem permitido criar informações muito úteis voltadas ao controle e as medidas preventivas do surto pandêmico, bem como, da comunicação de risco à saúde ao longo da pandemia.
Todavia, há um grande problema em relação a isso: muitos usuários tomam por conta decisões sobre quais informações compartilhar e onde compartilhar, o que ocasiona, seletivamente, a amplificação de determinada cobertura midiática ignorando outras igualmente necessárias, quando não criam seu próprio conteúdo sobre, sem qualquer apoio em literatura científica válida. Isto, obviamente, potencializa problemas com a disseminação de medo excessivo. Crenças, rumores, má informação e medo podem se espalhar rapidamente através das mídias sociais. Particularmente através das mídias sociais individuais.