Para melhor entender as razões subjacentes às diversas reações psicológicas, manifestadas em reação a, e ao longo de, uma pandemia, é importante considerar os fatores de personalidade e de vulnerabilidade das pessoas. Estudiosos da psicologia pandêmica (por exemplo: Steven Taylor em The Psychology of Pandemics: Preparing for the Next Global Outbreak of Infection Disease. Cambridge Scholars Publishing, 2019) têm sugerido que vários traços de personalidade possam estar conectados às emoções negativas associadas às respostas ou reações aos estressores desencadeadores de surtos pandêmicos. Um destes traços é a emocionalidade negativa, também conhecida como neuroticismo, tendência geral das pessoas se tornarem facilmente estressadas por estímulos aversivos. A literatura revela que pessoas pontuando de forma elevada nesse traço tendem, frequentemente, a experenciar emoções negativas, tais como ansiedade, irritabilidade e depressão, em resposta aos fatores estressantes. Emocionalidade negativa é um fator de risco para vários tipos de desordens de ansiedade e ânimo, bem como, é um fator associado com a saúde geral da pessoa. Pessoas que pontuam de forma elevada no traço de emocionalidade negativa tendem, também, a mal interpretar as sensações corporais como indicadores de doenças sérias.
O traço de ansiedade e de evitação do dano são dois outros traços de personalidade investigados em relação aos surtos pandêmicos. O traço ansiedade é a pré-disposição a experenciar ansiedade. Pessoas pontuando alto no mesmo tendem a ver o mundo como perigoso e ameaçador. Por outro lado, evitação ao dano refere-se à tendência para evitar risco potencial. Pessoas que pontuam elevado neste traço tendem a ser medrosas e a se preocuparem excessivamente com a doença e suas formas de contágio. Evitação ao dano e ansiedade são traços usualmente correlacionados com desordens de ansiedade, com alterações no ânimo, nas desordens obsessivo-compulsivas, nas desordens psicossomáticas e com a ansiedade na saúde.
Um outro traço investigado tem sido a superestimação da ameaça. Pessoas que escoram ou pontuam de forma elevada no traço de superestimação da ameaça tendem a superestimar o custo, o malefício da infecção e a probabilidade dos eventos aversivos, vendo a si próprias como sendo especialmente vulneráveis a eventos aversivos. A superestimação da ameaça é associada com uma amplitude de condições clínicas, particularmente desordens de ansiedade e desordens obsessivo-compulsivas. Estudos têm mostrado que a superestimação da ameaça prediz ansiedade em resposta aos surtos epidêmicos. Outro traço interessante que tem sido investigado é a incerteza à intolerância. Pessoas com alto índice de incerteza à tolerância têm forte desejo de previsibilidade, tendendo a endossar fortemente afirmações do tipo “Eu estou sempre adiante para evitar surpresas”. Também, um alto grau de intolerância à incerteza é associado com desordens relacionadas à ansiedade e ânimo, bem como, às desordens obsessivo-compulsivas e com a tendência a se preocupar excessivamente consigo mesmas. Uma maneira de reduzir tal intolerância à incerteza, essas pessoas adotam comportamentos do tipo checagem contínua e busca de se assegurarem que estão bem de saúde e que não contraíram a infecção.
Por último, há um traço conhecido como otimismo não realista. Pessoas com este traço tendem a acreditar fortemente que eventos positivos ocorrem mais provavelmente a elas do que a outros, enquanto os eventos negativos ocorrem mais para terceiros do que para elas. Tais pessoas também tendem a subestimar os perigos, como, por exemplo, doenças e dificuldades em geral, cujas existências elas aceitam, mas, sem acreditar que possam ser acometidas das mesmas. Tendem ao otimismo não realista, vendo a si próprias como não susceptíveis à infecção.
Assim considerando, pessoas, com altos escores nesses traços, são mais prováveis de se tornarem mais estressadas com a ameaça decorrente da pandemia do coronavírus. Particularmente, em relação à ansiedade relacionada à saúde.