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Neuropsicometria Cognitiva (12): declínio cognitivo pós-cirúrgico

Independente do progresso dos cuidados pré-operatórios, declínio cognitivo pós-opera­tório (POCD, na sigla inglesa) tem sido aceito inequivocadamente como uma complicação significante e frequente da cirurgia em pacientes idosos. Todavia, não há uma definição con­sensual da POCD na comunidade médica e, amplamente falando, ela se refere a um declínio na cognição associado à cirurgia. Em casos em que POCD venha a durar mais de três meses, a mesma é definida como declínio cognitivo pós-operatório de longa duração. Nesta situa­ção, uma considerável proporção de pacientes não se recupera três meses após a cirurgia. Um exemplo? De 7-69% na cirurgia cardíaca.

De acordo com Fitzpatrick & Owen (2018, Anaestesia), a disfunção cognitiva pós-opera­tória refere-se a uma deterioração na cognição temporariamente associada à cirurgia, confor­me quantificada por testes neuropsicológicos. A nomenclatura e classificação desta condição continuam a evoluir, e tem havido trabalhos significativos para alinhar as literaturas geriá­trica e anestésica acerca desta condição. A idade, deficiência cognitiva pré-existente, baixo nível educacional, e suscetibilidade genética foram identificados como fatores de risco para a DCPO. Há evidências insuficientes para se recomendar técnicas anestésicas específicas para a prevenção desta condição

Disfunção cognitiva pós-operatória é definida como um declínio nos escores dos testes neuropsicológicos a partir do desempenho pré-cirúrgico, podendo ser detectada em 15% ou mais dos pacientes cirúrgicos três meses após a cirurgia. Geralmente o declínio é modesto e estudos têm tentado verificar se tal declínio é associado com atividades desempenhadas na vida diária. O estudo de Deiner et al (Annals of Surgery, 2020) foi realizado com o propósito de verificar se o desempenho cognitivo pós-cirúrgico é relacionado à independência nas ati­vidades de vida diária que realizamos. Para isso, considerou-se 167 idosos que se submeteram a grandes cirurgias não cardíacas, as quais requeriam, no mínimo, dois dias de internação. Pacientes com história de demência e procedimentos cardíacos ou intracraniais não foram incluídos. Para todos foi administrada uma bateria de testes neuropsicológicos pré-cirúrgicos e novamente três meses após a cirurgia.

Os subtestes incluíram fazer trilhas, amplitude de dígitos crescente e decrescentes, testes de inteligência, histórias de memória lógica, relembrar coisas de modo imediato e atrasado, listas de animais e vegetais, nomeação e testes de aprendizagem verbal. Os pacientes também com­pletaram o teste de miniexame mental antes da cirurgia, quatro dias após, uma semana após e três meses após. Em adição, uma avaliação funcional foi investigada utilizando uma escala de atividade de vida diária adaptada para pacientes com incapacidade cognitiva leve. Também foi verificado indicadores de fragilidade, resistência, ambulação e perda de peso. Dor foi avaliada antes e três meses após a cirurgia usando uma escala geriátrica de dor.

Os dados revelaram que pacientes com POCD tiveram duas vezes mais a proporção de novas incapacidades em indicadores de atividades diárias quando comparados com aque­les sem POCD. As áreas mais comuns de declínio foram atividades sociais, habilidades para encontrar itens ao redor da casa, relembrar agendamentos, fazer compras e pagar contas, ir na lavanderia, lavar suas próprias roupas, dirigir o próprio carro, usar o transporte público e fazer o trabalho doméstico.
Em geral, os pacientes com POCD experienciam uma incidência mais elevada de novas incapacidades após cirurgia. As limitações funcionais e o escore cognitivo pré-cirúrgico, linha de base, são também fatores de risco para as novas incapacidades. Muitos pacientes não estão conscientes de suas limitações antes da cirurgia. Assim considerando, muitos pacientes necessitam ser informados de seu risco para nova incapacidade após cirurgia. Forma, esta, que possibilita melhores decisão médica e intervenções visando suporte social e emocional que os ajude a uma recuperação otimizada.

Em outras palavras, além de considerar a dor pós-cirúrgica, sintomas depressivos e redu­ção das capacidades cognitivas devem ter prioridades nas intervenções pós-operatórias.

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