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Neuropsicometria Cognitiva (1): A Pressão Arterial

Durante o processo de envelhecimento, vários fatores podem contribuir para o declínio tanto das funções cognitivas globais quanto específicas. O declínio cognitivo pode ser devido a fatores não modificáveis, tais como, mudanças hormonais, fatores genéticos e traumas, bem como, por fatores modificáveis como estilos de vida, estresse prolongado e diferentes condições clínicas, usualmente manifestado por dificuldades mnemô­nicas, pobre flexibilidade mental e menor habilidade para respostas inibitórias. A severidade do declínio cognitivo e a rapidez em que ocorre são únicos para cada indivíduo. Em alguns casos, dificuldades cognitivas tornam-se clinicamente relevantes, envolvendo a demência. O declínio cognitivo parece ser amplificado por vários fatores, tais como, o hábito de fumar, o uso crônico de álcool, hábitos alimentícios inadequados e obesidade, exercício inadequado, estresse crônico ou por algumas patologias, tais como, o diabetes mellitus ou depressão. Ademais, o risco da inca­pacidade cognitiva parece aumentar na presença de desordens cardiovasculares, tais como, alta pressão arterial, cardiomiopatia, arteriosclerose, infarto cerebral e derrame. Alguns estudos têm demonstrado associação entre a exposição de alta pressão arterial e lesões na microcirculação cerebral, o que, por consequência, provoca prejuízo cognitivo.

Assim considerando, um recente estudo publicado no Journal of Clinical Medicine (2020, 9, 34) elaborou uma revisão sistemática da literatura na qual investigou se a alta pressão arterial representa um fator de risco para o declínio de diferentes cognitivos. Ademais, ava­liaram-se algumas funções cognitivas, mais que outras, são negativamente afetadas por alta pressão arterial. Para isso, os autores do estudo selecionaram cinquenta trabalhos que incluí­am 107.405 participantes. Os resultados foram registrados considerando diferentes domínios cognitivos separadamente: funcionamento cognitivo global, atenção, velocidade de processa­mento, funções cognitivas, linguagem, memória e habilidades visuo-espaciais. Os resultados mostraram que pressão arterial elevada influencia o desempenho cognitivo bem antes de um diagnóstico bem estabelecido de demência e na ausência de doenças cardiovasculares severas como o derrame. Os resultados também demonstraram que esta relação parece ser independente dos fatores demográficos como sexo e educação, comorbidade médica, diabetes e desordens psiquiátricas e depressão, mas apresentam uma associação direta com a idade. Especificamente, alta pressão arterial foi associada com um pobre funcionamento cognitivo global, ao passo que, baixa pressão arterial foi relacionada a um declínio também saliente do funcionamento cognitivo global. A presença dessa relação tendo sido confirmada por estudos comparando hipertensivos com normotensivos.

Em relação à memória, os estudos revelaram que as habilidades mnemônicas parecem estar associadas tanto com a pressão alta quanto com a pressão baixa. Esta associação parece ser mais robusta com o aumento da idade nos homens e mais saliente em pacientes hipertensivos. Elevada pressão arterial diastólica ou alta pressão arterial em geral foram associadas com pobre desempenho linguístico. Em relação à atenção, em geral os estudos mostraram que o pico de pressão sanguínea elevada ou hipertensão afeta negativamente o desempenho atentivo, sendo, em alguns casos, uma relação mediada pela idade. Interessante, também, que, inversamente, alguns estudos identificaram efeito positivo da alta pressão arterial sobre o desempenho atentivo.

Em relação às funções executivas, elevada pressão arterial, considerando tanto a pressão sistólica quanto a diastólica, ou ambas, parecem ser associadas a um prejuízo das funções exe­cutivas. Importante é que esta relação pode ser mediada pela idade ou sexo, revelando como esta relação parece ser potencializada com o aumento da idade e nos homens. Esta revisão sistemática também indicou que a pressão arterial negativamente afeta a velocidade de proces­samento de informação. Especificamente, uma alta pressão arterial, ou uma elevada pressão sistólica, são associadas com processamentos de informação mais lentos. Ademais, as pesqui­sas selecionadas revelaram que sexo e idade são possíveis mediadores, de forma que, a relação entre pressão arterial e velocidade de processamento é mais robusta nos homens e nas pessoas mais velhas. Por sua vez, as habilidades visuo-espaciais parecem mais prejudicadas em pessoas com alta pressão arterial sistólica, alta pressão arterial diastólica ou com valores elevados em ambas. Esta tendência foi confirmada mesmo considerando pacientes hipertensivos, que exi­biram desempenho pior do que os indivíduos normotensivos; e, em alguns casos, um prejuízo mais elevado foi observado com o aumento da idade e nos homens.

Tomados juntos, os resultados afirmam que alta pressão arterial é associada com risco mais elevado de declínio cognitivo em pessoas sem demência ou derrame. Importante: os resulta­dos indicam a necessidade de introduzir um controle preventivo da pressão arterial mesmo na ausência de hipertensão clínica, com o propósito de prevenir o risco de um declínio das funções cognitivas associadas ao envelhecimento.

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