Tribuna Ribeirão
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Neurociência da vida cotidiana (9): Felicidade 

José Aparecido Da Silva* 

O que é felicidade? As maiores mentes da humanidade têm profundamente se debruçado sobre esta temática. Uma grande parte da filosofia tem sido dedicada à definição do que constitui uma vida agradável ou vida feliz. Esforços similares têm sido feitos por psicólogos, os quais têm analisado quais ingredientes particulares e circunstâncias fazem as pessoas felizes ou infelizes.  Ela significa diferentes coisas para diferentes pessoas.  Porque felicidade é um conceito elusivo, faz pouco sentido continuar tentando definir o que é felicidade. Felizmente, há uma maneira útil de considerá-la. Em vez de tentar determinar o que é felicidade externamente, pode-se perguntar às pessoas o quão feliz elas se sentem. Em geral, assume-se que elas são os melhores juízes de quando elas são felizes e quando não são (Da Silva, J.A. Como ser Feliz? FUNPEC-Editora, Ribeirão Preto, 2008) 

Quais são os fatores que fazem uma pessoa mais feliz ou infeliz do que outras? Esta é uma questão crucial porque ajuda-nos a entender como e que grau a situação pode ser melhorada. Assim considerando, é, talvez, útil distinguir cinco tipos de determinantes: a) fatores de personalidade, tais como auto-estima, controle pessoal, otimismo, extroversão e neuroticismo; b) fatores sócio-demográficos, tais como idade, gênero, status marital e educação; c) fatores econômicos, tais como renda individual e agregada, desemprego e inflação; d) fatores contextuais e situacionais, tais como um emprego particular e condições de trabalho, o estresse envolvido no local de trabalho, as relações interpessoais com os colegas de trabalho, os parentes e amigos e, mais importante, o conjugue, bem como as condições de vida e saúde e, finalmente, e) fatores institucionais, tais como a extensão da descentralização política e os direitos de participação política direta dos cidadãos. No cerne da felicidade encontram-se componentes gerais, como, por exemplo, satisfação com a vida; com trabalho, casamento, religião e amizade; ou específicos, como, por exemplo, afetos positivos e negativos, existindo o primeiro por ocasião de elevada vivência de sentimentos agradáveis, e o segundo, quando da pouca vivência de sentimentos desagradáveis, que, tomados em conjunto, constituem a essência do bem-estar subjetivo. 

Poucos têm sido os estudos que investigaram a localização da felicidade no cérebro, bem como, por que algumas pessoas, e outras não, são felizes, e em qual intensidade. Estaria a felicidade, então, ligada a algum substrato neural específico? Se sim, ou não, o que muitos perguntam? Onde se esconde a felicidade? Para responder a esta questão, investigadores da Universidade de Kyoto (Sato, W., Kochiyama, T., Uono, S. et al. The structural neural substrate of subjective happiness. Sci Rep 5, 16891;2015) procuraram identificar as estruturas neurais por detrás da felicidade. Exercitar, meditar, procurar livros de autoajuda … todos procuram a felicidade, mas sabemos realmente o que é a felicidade? Sato e equipe usaram imageamento baseado em ressonância magnética estrutural foi relacionado com questionários que avaliavam a felicidade subjetiva, bem como, a intensidade das experiências emocionais positivas e negativas e o propósito de vida. Os participantes foram submetidos às escalas de felicidade subjetiva (usada para medir a felicidade subjetiva global) e de intensidade emocional (usada para avaliar a intensidade das emoções positivas e negativas), bem como, o teste de propósito na vida (usado para avaliar o componente cognitivo da felicidade) e o inventário de traços de ansiedade (usado para medir traços e estados associados com ansiedade) para que seus escores, posteriormente, fossem correlacionados com seus parâmetros individuais de volume de matéria cinzenta. 

As imagens de ressonância magnética funcional foram usadas para identificar as regiões cerebrais, em especial o volume de matéria cinzenta, associados com felicidade subjetiva e com intensidade de emoções positivas e negativas e escores de propósito na vida. As análises do imageamento estrutural revelaram que o escore de felicidade subjetiva foi associado com um aumentado volume da matéria cinzenta, numa região do lobo parietal denominada precuneus, área esta que sempre é ativada quando nos sentimos felizes. Além disso, a mesma região mostrou uma associação com intensidade emocional positiva e negativa combinada e com escores referentes a propósito na vida. Esses substratos neurais, de fato, mediam a felicidade subjetiva, integrando os componentes cognitivos e emocionais da felicidade. Em outras palavras, A investigação revelou que aqueles que pontuaram mais nos inquéritos acerca da felicidade tinham mais matéria cinzenta no precuneus. As pessoas que se sentem com um maior índice de felicidade, sentem a tristeza menos intensamente, e são mais capazes de encontrar um sentido para vida, apresentam precuneus maiores. 

Em suma, Wataru Sato e sua equipa mostraram que “A Felicidade, de forma geral, e de acordo com o seu estudo, é “uma combinação de emoções felizes e satisfação face à vida que se desenvolvem no precuneus, uma região no lóbulo parietal medial”.  

Professor Visitante da UnB-DF* 

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