José Aparecido Da Silva*
Acredito que estamos a entrar numa Era de Ouro da inteligência e, portanto, a investigação vai muito além das controvérsias quase extintas sobre se a inteligência pode ser definida ou medida e se os genes são envolvidos. Seja você psicólogo, médico, educador, político, pais ou estudantes, você precisa conhecer o que a neurociência do século 21 tem a nos dizer acerca da relação entre o cérebro e a inteligência. Muita coisa é muito útil para a prática clínica e educacional. Não tenham dúvidas. Muitos estudiosos, principalmente os psicometristas, usam o conceito de “g”, descoberto por Charles Spearman (1863-1945) quando ele observou que, numa série de testes acadêmicos e um teste de discriminação de tons, crianças que desempenhavam bem num teste tendiam a desempenhar bem em todos os outros testes. Similarmente, crianças que realizavam pobremente num teste tendiam a pontuar pobremente nos demais. Logo, a mesma habilidade mental causava as pessoas desempenharem similarmente em todos estes testes e, mais importante, um fator geral comum, abreviado de “g, estava subjacente a todos os testes e era o mais fundamental para o desempenho em todos os testes. Ele afirmou que o mesmo era equivalente a inteligência geral.
Baseados em inúmeros estudos, muitos pesquisadores da inteligência humana aceitam a hipótese de que “g” é equivalente a Inteligência geral, mas muitos outros argumentam que inteligência é um conceito que não é exato o suficiente para ser útil e que carrega uma grande bagagem cultural que pode não se aplicar ao achados relacionados à “g”. Para aumentar a controvérsia, há ainda outros que afirmam que inteligência inclui habilidades muito além de “g”, incluindo criatividade, aprendizagem implícita ou outros traços que não são mensurados nos testes de inteligência. O que os estudiosos, entretanto, concordam é que “g” é uma habilidade mental geral que é relacionada à todas as habilidades mentais, que ajuda os indivíduos a criarem e executarem planos, engajarem em raciocínio e aprenderem, que tem grandes implicações para a vida real. O fator “g”, ele próprio, não é uma simples soma de um conjunto, um agregado, de habilidades mentais. Ao contrário, análises estatísticas complexas, conhecida como análise fatorial, mostram a intersecção das variâncias dos escores de diferentes tarefas e elimina o componente único de cada um destes testes. Esta intersecção, esta porção comum, de todos os escores é o fator de habilidade geral, ou “g”. Pelo fato de “g” ser o ingrediente-ativo da habilidade que é mensurada em todas as tarefas cognitivas num teste de inteligência, a medida de “g” (em outras palavras, um escore de QI) tem pouco a ver com cada tarefa específica.
Assim considerando, “g” não é uma mistura ou uma média de um número de diversos testes representando muitas diferentes habilidades. Ao contrário, “g” é um destilado, representando um fator simples que todas as diferentes manifestações da cognição têm em comum. Ele não reflete o conteúdo do teste per se, ou qualquer tipo particular de desempenho. Como todas estas tarefas têm uma característica comum – “g”- é possível, então, haver uma medida global de habilidade mental. Também é importante mencionar que “g” é indiferente ao formato dos itens de um teste, isto é, o conteúdo aparente, da superfície de um teste, não importa muito (sejam eles verbais, pictóricos, numéricos, informativos, conhecimento, matrizes, espaciais, codificação, etc.),todos os itens cognitivos medem inteligência e “g” é indiferente ao formato dos itens de um teste.
Em anos recentes uma busca intensa e sistemática por princípios organizados que governam a inteligência humana representa um objetivo central e duradouro da neurociência cognitiva (para uma revisão geral, ver Haier, R.J.The Neuroscience of Intelligence, 2017). De um lado, as teorias de inteligência que têm focalizado a análise de um fator geral, conhecido como “g”, o qual subjaz ao desempenho numa vasta amplitude de habilidades cognitivas, propõem que o córtex pré-frontal fornece uma arquitetura neural unificada para a inteligência humana. Por outro lado, modelos teóricos supõem que os testes de inteligência refletem a atividade média, ou combinada, de muitas operações cognitivas separadas. De acordo com esta concepção, a inteligência geral depende de uma variedade de diferentes processos cognitivos mediados por regiões cerebrais funcionalmente especializadas. Este modelo supõe que a inteligência geral incorpora: 1) áreas específicas occipitais e temporais para processamento da informação sensorial; 2) córtex parietal para abstração e integração sensorial; 3)áreas frontais para solução de problemas e raciocínio e 4) o cingulado a anterior para a seleção de respostas e a inibição de respostas automáticas.Neste cenário, regiões discretas, dentro dessa rede cerebral distribuída, são necessárias para as competências-chave da inteligência geral, com ênfase no córtex pré-frontal dorso-lateral e córtex parietal.
Em artigo publicado por Barbey, Colom, e colaboradores (Brain. 2012 135 (4):1154-64), investigaram substratos neurais do fator geral de inteligência “g” em 182 pacientes com lesões cerebrais focais. A localização da lesão e o volume foram determinados por meio de imagens geradas por tomografia através de um software específico para a análise de lesões cerebrais. Por sua vez, a inteligência, geral, foi mensurada pela escala Wechsler de inteligência para adultos (WAIS). Desempenho afetado sobre essas medidas foi associado com lesões redistribuídas para as áreas cerebrais lateralizadas à esquerda, incluindo regiões no córtex parietal e frontal e tratos associados com a substância branca. Em outras palavras, a inteligência geral “g” foi associada à uma rede distribuída de regiões cerebrais, compartilhando substratos anatômicos comuns com compreensão verbal, memória operacional, organização perceptual e rapidez de pensamento. Tais resultados sugerem que “g” reflete a habilidade para integrar, com eficiência, processos verbal, espacial, motor e executivos via um conjunto circunscrito de conexões corticais. Assim, esse sistema cortical fornece uma arquitetura integrada para as competências-chaves envolvidas na inteligência humanas.
Professor Visitante da UnB-DF*