Tribuna Ribeirão
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Neurociência da vida cotidiana (5): Empatia 

José Aparecido Da Silva* 

Seja ver um amigo cortar-se com papel ou olhar para a fotografia de uma criança refugiada, observar o sofrimento de outras pessoas, próximas ou não, pode evocar um profundo sentimento de angústia e tristeza — quase como se isto estivesse acontecendo conosco. Isto é o que chamamos de empatia. Empatia, a nossa a capacidade natural de compartilhar e compreender as emoções dos outros enquanto conscientes da distinção entre o eu e os outros, tem grande importância em nossa sociedade vida. A empatia nos dá informações importantes sobre outras pessoas e o meio ambiente. Por exemplo, a exclusão social regula negativamente a empatia pela dor, nos permitindo sermos mais eficazes em lidar com ameaças potenciais e em promover comportamentos pró-sociais.  De fato, vários estudos têm revelado que a empatia é influenciada por fatores contextuais, como justiça, distância social competição e cooperação, estado de ansiedade, depressão, medo, interesses e valores pessoais, bem como exclusão social e desigualdades de qualquer natureza. 

Ao longo dos últimos 30 anos (ver, por exemplo: de Tommaso M. Editorial: The cognitive neuroscience of empathy and its correlates. Front Hum Neurosci. 2023) os neurocientistas estão sistematicamente buscando  identificar algumas das regiões específicas do cérebro responsáveis ​​por esta sensação de interligação.  Onde está no cérebro a empatia? Ou seja, estão discutindo a neurociência por trás de como processamos os sentimentos dos outros. Para alguns neurocientistas quando testemunhamos o que acontece aos outros, não ativamos apenas o córtex visual como pensávamos há algumas décadas, mas também ativamos nossas próprias ações como se agíssemos de maneira semelhante. Ativamos nossas próprias emoções e sensações como se sentíssemos de forma similar. 

Alguns outros pesquisadores descobriram que observar a ação, a dor ou o afeto de outra pessoa pode acionar partes das mesmas redes neurais responsáveis pela execução dessas ações e experimentando esses sentimentos em primeira mão. Muitos outros têm focado em explorar como este sistema contribui para a nossa psicologia. Este sistema de espelhos (espelhando a mente) nos ajuda a entender o que acontece nos outros? Isso nos ajuda a ler suas mentes? Podemos “captar” as emoções dos outros? Para explorar se o sistema de espelho motor nos ajuda a compreender os estados internos por trás das ações dos outros, neurocientistas solicitaram aos participantes que assistissem a um vídeo de uma pessoa segurando bolas de brinquedo escondidas dentro de uma grande lata de lixo. 

Numa condição, os participantes determinaram se a pessoa no vídeo hesitava ou não antes de selecionar uma bola (uma tarefa de teoria da mente). Usando estimulação magnética transcraniana (TMS, na sigla em inglês) em combinação com fMRI (Ressonância Magnética Funcional), eles foram hábeis em mostrarem que interferir no sistema de espelhos prejudicava a capacidade das pessoas de detectar o nível de confiança dos outros, fornecendo evidências de que este sistema realmente contribui para perceber os estados internos dos outros. A realização de fMRI e TMS em outras regiões do cérebro, como a junção temporoparietal (TPJ), sugere ainda que esta simulação motora no sistema de espelhos é então enviada para regiões mais cognitivas na TPJ. Os pesquisadores relataram que eles obtiveram uma noção unificadora, no sentido de que quando testemunhamos os estados dos outros, reproduzimos esses estados em nós mesmos como se estivéssemos no lugar deles, e é por isso que chamamos estas atividades de ‘estados vicários. Dados têm revelado que esta capacidade de mentalizar as experiências dos outros de forma tão vívida pode levar-nos a tomar medidas pró-sociais para reduzir a sua dor.  

Por outro lado, estudos de contágio emocional em modelos animais permitiram aos investigadores examinar mais detalhadamente o papel da atividade cerebral profunda, que pode ser difícil de neuroestimular em humanos. A inibição de uma região análoga ao ACC (Córtex Cingulado Anterior) no cérebro dos ratos reduziu a sua resposta à angústia de outro rato, mas não o seu medo de serem chocados, sugerindo que a área lida especificamente com o medo desencadeado socialmente. Ademais, investigando os processos que regulam a dor em primeira mão e aqueles que causam empatia pela dor, empregando analgésicos estudiosos mostraram que os participantes que tomaram um “analgésico” placebo relataram níveis mais baixos de dor após receberem um choque do que os do grupo controle. Quando esses mesmos participantes observaram um cúmplice ficar chocado, relataram uma queda semelhante na percepção da dor do ator. 

Assim, concluíram os estudiosos: Se reduzirmos a dor que as pessoas sentem, se induzirmos analgesia, isso não só ajuda as pessoas a lidar com a sua própria dor, mas também reduz a empatia pela dor de outra pessoa. No nível neural, afirmaram eles, exames de ressonância magnética mostraram que as pessoas no grupo placebo apresentaram níveis mais baixos de atividade cerebral na ínsula anterior e no córtex cingulado médio em ambos os casos. Esses resultados foram confirmados em outros estudos em que participantes que receberam apenas o placebo analgésico foram comparados com aqueles que receberam placebo e Cloridrato de Naltrexona, um antagonista opioide que impede o cérebro de regular a dor. Isto resultou numa “reversão completa” do efeito placebo, fazendo com que os participantes relatassem tanto a sua própria dor como a dor dos outros a taxas próximas da linha de base, corroborando o papel do sistema de dor na empatia. Logo, isso sugere que a empatia pela dor se baseia na representação da dor dos outros dentro do próprio sistema de dor. 

Assim considerando, os sumários destes trabalhos revelam que as associações das respostas comportamentais com diferentes indicadores cerebrais desvendam possíveis relações entre a empatia humana com sensações corporais, emoções e interações sociais. A rigor, alguns segredos do cérebro estão sendo revelados, ainda que lentamente, mas brilhante pelos neurocientistas do comportamento. 

Professor Visitante da UnB-DF* 

 

 

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