Tribuna Ribeirão
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Neurociência da vida cotidiana (31): Métodos 

José Aparecido da Silva* 

 

Ao longo da década de 70, os principais fatores que alavancaram a área de neurociência cognitiva foram as modernas técnicas de neuroimagem, que permitiram visualizar tanto a estrutura quanto a atividade funcional do cérebro humano in vivo. Até então, a única forma de entender a relação entre a estrutura e a função do cérebro em sujeitos humanos se baseava na análise neuropsicológica das alterações funcionais que acometiam os pacientes com lesões cerebrais, bem como, a análise histológica post mortem das estruturas danificadas. 

Paralelamente, estes avanços tecnológicos para além de permitir um conhecimento mais robusto da organização anatomofisiológica do cérebro, impulsionaram a busca das relações cérebro-comportamentos, possibilitando registrar in vivo os padrões de atividade cerebral que se produzem durante a realização de tarefas experimentais concretas, algo impensável até então. Por exemplo, saber quais regiões cerebrais, isoladas ou integradas, são ativadas quando realizamos uma tarefa (um teste cognitivo) verbal, tarefa motora ou uma tarefa visuo-espacial. 

De acordo com Morales e Garcia (em P.E. Valenzuela, 2014. Neurociência Cognitiva. UNED-Sanz y Torres, Madrid), um dos avanços técnicos e metodológicos mais importantes em neurociência cognitiva tem advindo das técnicas de imagem funcional, que permitem identificar in vivo os correlatos neuroanatômicos dos processos cognitivos. Duas destas técnicas são a Ressonância Magnética Funcional (fMRI, na sigla em inglês) e a Tomografia por Emissão de Pósitrons (TEP, na sigla em inglês), capazes de detectar mudanças no metabolismo ou no fluxo sanguíneo do cérebro enquanto os participantes (observadores, sujeitos, pacientes) realizam diferentes testes cognitivos. Elas proporcionam informação direta sobre eventos neurais, além de permitir medidas das alterações metabólicas associadas, correlacionadas, ou produzidas como conseqüência do aumento da atividade neuronal.  

No caso da fMRI, a comparação do padrão de atividade cerebral obtido durante  a realização de uma tarefa (motora, cognitiva, etc.), com o padrão obtido durante  a fase de relaxamento, proporciona  uma imagem das áreas cerebrais que apresentam maior taxa de metabolismo de oxigênio durante a fase ativa. No caso da TEP é possível, também, determinar o nível de atividade metabólica de cada região, área, do cérebro, haja vista que este metabolismo aumenta nas regiões com maior atividade neuronal. Deste modo, as regiões implicadas no processamento cognitivo, por exemplo, das palavras, mostram maiores níveis de ativação durante a condição experimental do que durante s condição controle. Mas, quando comparada com fMRI, a TEP quando usada no estudo da função cerebral apresenta uma baixa resolução temporal e tem uma alta invasividade. 

O uso intenso de ambas as técnicas em diferentes laboratórios no mundo amplia nossa compreensão de variados constructos fisiológicos, tais como: consciência, memória, atenção, percepção social, felicidade, envelhecimento, emoção, linguagem, lateralização hemisférica, funções executivas e transtornos mentais, para citar apenas alguns. Ademais, a neurociência cognitiva constitui, hoje, um autêntico e genuíno fórum de interação multidisciplinar. Muitas interpretações e novos resultados têm emergido acerca das relações cérebro-comportamentos fundamentadas nas abordagens integradas da neurociência cognitiva. Atrevo-me a dizer que, não obstante, estamos apenas no começo. 

 

Professor Visitante da UnB* 

 

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