Tribuna Ribeirão
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Neurociência da vida cotidiana (30): Princípios 

Jose Aparecido Da Silva* 

A neurociência cognitiva, como uma disciplina científica independente, talvez por sua origem recente, emergida nos anos 80, ainda é pouco conhecida em variados cenários acadêmicos, especialmente nos quadrantes brasileiros. O conceito de neurociência cognitiva originou-se da confluência de três tradições científicas claramente diferenciadas: a neurociência, a psicologia cognitiva e as ciências da computação, e dentro destas particularmente a inteligência artificial (ver, para detalhes: Valenzuela, P.E. Neurociência Cognitiva. UNED-Sanz y Torres; Madrid, 2014). 

De acordo com Valenzuela, coordenadora do volume especial dedicado à Neurociência Cognitiva (2014), é possível representar graficamente a interação entre estas três grandes disciplinas, domínios do saber, fazendo uso de um triângulo. Suponha que no vértice superior, o comportamento, cujo objetivo reside em conhecer as regras que explicam o funcionamento de um determinado sistema funcional, ou de constructo psicológico complexo, como a percepção, a memória, a linguagem, a ansiedade, a depressão, o amor, a felicidade, a inteligência, entre outros. Este conhecimento emerge essencialmente da psicologia cognitiva a qual oferece modelos sobre as operações mentais implicadas nas diferentes funções.  

O segundo vértice do triângulo corresponde à neurociência e os dados que dela emergem proporcionam informações acerca da neuroanatomia e a neurofisiologia do cérebro. Em ambos os casos, a descrição da organização cerebral pode ser abordada a partir de diferentes escalas. Do nível molecular, dos neurônios e sinapses, das redes neurais específicas e os sistemas neurais que se distribuem em distintas localizações cerebrais. Em cada um destes níveis se produzem descrições conceituais distintas acerca da organização estrutural e a atividade fisiológica do cérebro (hoje em dia in vivo), mas é fundamental  destacar que todas estas descrições  são abstrações  que refletem distintos níveis de análises da mesma realidade do cérebro, e que em seu funcionamento real  todos estes níveis de organização estão integrados. 

Finalmente, acrescenta Valenzuela (2014), no terceiro vértice do triangulo podemos representar as ciências da computação a partir das quais emergem os modelos computacionais que, usualmente, são inspirados na neuroanatomia e na neurofisiologia cerebrais. Assim considerando (detalhes não são aqui considerados), é evidente que o conhecimento neurofisiológico é fundamental para elaborar modelos computacionais que permitam refletir o modo em que a atividade de circuitos e sistemas cerebrais que pode resultar das habilidades funcionais complexas, como as que caracterizam os organismos biológicos.  

A neurociência cognitiva é, portanto, uma campo de estudo amplamente interdisciplinar baseado na integração de conceitos e estratégias originadas das 3 disciplinas implicadas na sua fundação. Ademais, a moderna neurociência cognitiva tem adaptado explicitamente uma perspectiva de sistemas funcionais que operam de forma dinâmica. Este caráter dinâmico de funcionamento cerebral possibilita em seu conjunto uma enorme riqueza e flexibilidade, fundamental para maximizar suas capacidades adaptativas, particularmente num mundo complexo e com pressa. 

 

Professor Visitante da UnB* 

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