Tribuna Ribeirão
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Neurociência da vida cotidiana (23): Doença de Parkinson   

José Aparecido Da Silva* 

A Doença de Parkinson (DP) é uma desordem neurodegenerativa que afeta cerca de 1% da população com idade maior que 60 anos. Sua prevalência mundial é estimada em aproximadamente 4 milhões de pessoas. Ademais, cerca de 10% dos pacientes com DP são diagnosticados antes dos 50 anos de idade. A Doença de Parkinson recebe este nome porque o médico James Parkinson foi o primeiro, em 1817, a descrever os seus sintomas. A DP se caracteriza elos problemas motores que  dela decorrem, cujos principais indicadores clínicos são a lentidão dos movimentos (bradicinesia), temor, rigidez e instabilidade postural.  A DP também apresenta sintomas não-motores, tais como disfunção autonômica, dificuldade para perceber odores (hipoxemia), dor, alterações do sono noturno, excesso de sono durante o dia, fadiga, disfunção cognitiva, ansiedade e depressão. As manifestações da disfunção autonômica situam-se na área cardiovascular, gastrointestinal, sistema termo-regulatório, urinário e sexual, com sintomas tais como a incontinência urinária, constipação intestinal ou a disfagia, incluindo-se em estágios precoces da enfermidade. 

Os sintomas da DP podem aparecer de maneira gradual, usualmente num dos lados do corpo, mas evoluindo-se progressivamente ao longo do tempo.  Os sintomas principais  da DP são a lentidão de movimentos, a rigidez e, algumas vezes, o temor e a perda do equilíbrio. Os primeiros sinais da DP se podem manifestar num aumento da dificuldade para realizar movimentos precisos, por exemplo, escrever, costurar, maquiar-se e outros similares. Outros sintomas podem aparecer ao longo da fase pré-clínica ou iniciais de uma DP, como sensação de lentidão, sialorreia (babação), depressão, dor, falta de força ao falar (hipofonia), micrografia e transtorno durante o sono REM, entre outros sintomas. 

O diagnóstico pode ser difícil de concretizar nas fases iniciais da DP. Para tanto, devem-se requerer a realização de exames de neuroimagem e∕ou testes neuropsicológicos em adição aos exames bioquímicos e genéticos. Uma vez que se tenha uma hipótese diagnóstica da DP, o progresso da desordem deve ser avaliado periodicamente mediante uma ou mais escalas de mensuração quase sempre clínicas, nas quais o clínico mensurara e avalia as respostas do paciente a certos testes e estabelece uma pontuação na escala. Este tipo de escalonamento psicométrico ajuda o clínico a controlar a evolução do paciente com DP, permitindo-o escolher o tipo de tratamento mais apropriado em cada caso. Muitas destas escalas mensuram, ou graduam o nível de independência do paciente.  

Para além dos sintomas motores, aqueles de padecem da DP podem apresentar outros sintomas tais como a dor, a constipação intestinal e alterações afetivas, olfatórias ou do sono.  Uma grande parcela dos pacientes manifesta alterações cognitivas leves e sutis no momento do diagnóstico que afetam, sobretudo, as funções visual-espaciais, executivas (planejamento, sequenciação, inibição a estímulos interferentes e a realização de tarefas, levemente complexas) e de aprendizagem.  A demência pode aparecer nos estádios mais avançados da DP. 

A dor associada à DP parece ser multifatorial e inclui a dor musculoesquelética e radicular devido à imobilidade e rigidez, e a dor de fases avançadas associada à discinesias e distonia. Também podem ocorrer manifestações sensoriais de origem central. Algumas vezes ocorrem câimbras e sensações de dormência, frio ou calor. Estes sintomas são mais freqüentes nas pernas, embora possam ser comuns na dor lombar e nas cefaléias (dores de cabeça).  

Os pesquisadores espanhóis Camacho-Conde e Campos-Arillo (The phenomenology of pain in Parkinson’s disease. Korean J Pain. 2020 Jan 1; 33(1):90-96), recentemente, mostraram que a prevalência dor  (82%) é muita alta em pacientes com DP classificados em estágios leve a moderado, e 72% deles relacionaram sua dor com a DP.  O tipo de dor percebida pelos pacientes com DP é descrita como corrente elétrica (64%). Seus resultados também confirmam as conexões entre dor, sua evolução ao longo do tempo, sua faceta multimodal, com a ampla variedade de sintomas na DP, com maior incidência no sexo feminino. Sendo a dor uma das dimensões que mais afeta a qualidade de vida do paciente com DP.  

Assim considerando, os autores concluíram que dor tem um substancial impacto nos aspectos motores e não-motores dos pacientes com DP Independente das características clínica da dor. Ademais, dor foi significativamente influenciada pela depressão e prejuízo motor parkinsoniano.  

Professor Visitante da UnB-DF* 

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