Tribuna Ribeirão
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Nem o sofisma consegue disfarçar a crueldade 

José Eugenio Kaça *
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Confúcio, que viveu há dois mil e quinhentos anos, respondendo a uma pergunta de um aluno: é acertado pagar o mal com o bem? Não respondeu Confúcio! Como se pagaria então o bem? Recompense o bem com o bem e faça justiça ao mal. O que estamos vendo acontecer nos dias de hoje, no Brasil e em muitos países pelo mundo é pagar o mal com o mal e fazer justiça com o bem. A intolerância e a violência tomaram conta do cotidiano, e a cada dia que passa mais pessoas aderem a este estilo de vida. O mal prosperou de tal maneira, que Cristo está sendo abandonado, em algumas igrejas pentecostais se tirar o demônio da boca de alguns pastores, eles não vão ter mais o que falar – é ódio chamando ódio, e a violência do Velho Testamento vai aos poucos substituindo o amor que Cristo nos ensinou.

O ser humano está destruindo o Planeta, e as novas gerações que ainda nutrem a esperança de dias melhores estão vendo seus sonhos virarem pó. Sempre após uma grande catástrofe, aparece a esperança de dias melhores, mas o tempo cuida para estes ventos de paz e harmonia – virem tempestades. Foi o que aconteceu após o fim da Segunda Guerra Mundial, depois de tanta iniquidade e carnificina, os países se reuniram em 1948 para escrever um documento que exaltasse e valorizasse a vida humana, onde todos tivessem os mesmos direitos, esse documento foi a Declaração Universal dos Direitos Humanos, mas o gosto pelo poder bélico falou mais alto, e logo as carnificinas pelo mundo se proliferaram.

No passado, apesar das iniquidades, havia o sofisma que disfarçava a crueldade, no entanto, a sutileza que disfarçava a crueldade se desfez; a máscara caiu. A Declaração Universal dos Direitos Humanos, que deveria ser um documento que promovesse a paz entre as Nações não conseguiu seu intento, e a lei do mais forte se estabeleceu. A educação básica sempre foi a melhor forma de se trazer a cidadania para o cotidiano, mas as pedagogias que formam o cidadão foram deixadas de lado. No Brasil a educação básica pública, que deveria fazer o papel formador desta cidadania vive sendo atacada e tripudiada, para que este objetivo não seja alcançado. Do outro lado as escolas privadas, que se orgulham dos seus conteúdos, também não formam cidadãos autônomos e críticos, pois os que estavam acampados nas portas dos quarteis, a maioria tinha diploma universitário, inclusive teve alguns que fecharam seus consultórios durante sessenta dias, para pedir golpe militar, seguindo cegamente o “mito”. Essa educação não foi libertadora, apenas uma educação condicionadora para o mercado.

As campanhas eleitorais dos candidatos a prefeito estão dando ênfase a educação básica, aliais como acontece em todas as eleições, estão prometendo que as crianças serão alfabetizadas na idade correta, e que vão trabalhar para o fim do analfabetismo entre adultos e jovens. No entanto há uma novidade nestas eleições, aquela violência que era restrita aos rincões esquecidos, chegou com força na maior cidade do País, e a justiça eleitoral do Estado assiste de camarote, além desta iniquidade, enquanto isso a nona economia do mundo, ainda não resolveu o analfabetismo. Para mostrar aos governantes como deveriam cumprir a LDBEN, (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional) promulgada em 1961, foi elaborado em 1962, o primeiro Plano Nacional de Educação, que veio para corrigir a inépcia dos prefeitos e governadores, que afirmavam não ser possível cumprir a LDBEN, pois era uma lei muito complexa. O Plano Nacional de Educação estabeleceu os prazos e as diretrizes e a metas a serem cumpridas, mas como não havia punição para quem descumprisse a lei, o Plano foi parar no fundo de uma gaveta qualquer. A primeira diretriz do Plano Nacional de Educação de 1962 era a erradicação do analfabetismo, passados 52 anos, essa diretriz se repete no Plano Nacional de 2014: erradicar o analfabetismo – o que aconteceu?  O analfabetismo só piorou, pois além do analfabeto clássico, surgiu a figura do analfabeto funcional, que lê, mas não entende o que leu, e esses são a maioria.

Se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda. (Paulo Freire).

* Pedagogo, líder comunitário e ex-conselheiro da Educação 

 

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