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Não vale a pena ver de novo

Há algum tempo a Rede Globo incluiu em sua progra­mação a reprise de novelas famosas, atualmente está no ar “Laços de Família”, aquela onde Carolina Dieckmann, inter­preta a cena antológica em que seu personagem Camila tem a cabeça raspada devido ao tratamento da leucemia.O folhetim tem maior audiência da tarde entre todos os canais abertos. Interessante como algo repetido, onde todos já sabem o que vai acontecer pode atrair tanto interesse.

Nesta semana, nas eleições das presidências das mesas da Câmara e do Senado,também acompanhamos uma novela conhecida “A volta do Centrão”. Desta vez foi um remake com alguns atores diferentes, mas a história e os personagens foram os mesmos. Com a ampla cobertura da imprensa, assis­timos a um festival de traições, negociatas, rasteiras, quebras de acordos, beijos e abraços dissimulados.

Ambientada na capital da Terra Plana, um presidente da república segue cooptando senadores e deputados com pro­messas de mais cargos e acesso às verbas do governo federal, liberação de emendas, indicações políticas e investimentos nas bases eleitorais, conseguindo eleger seus companheiros.

Muitos dizem que novela é assim mesmo e os fins justi­ficam os meios. Interessante é comprovar que aqueles que assistem e curtem essa trama são os mesmos que criticavam quando isso ocorria em governos anteriores como, por exem­plo, os gastos do executivo.

Antes as despesas com alimentação eram divulgadas e ha­via uma gritaria geral, agora ao ser questionado, o presidente manda a imprensa dar um fim nada convencional às latas de condensado e seus apoiadores aplaudem. A situação mundial e local exige austeridade nos gastos e transparência na divul­gação, mas isso parece incomodar os governantes de plantão.

Em seu discurso de posse, o presidente afirmou que sua missão era: “restaurar e reerguer nossa pátria, libertando-a definitivamente do julgo da corrupção, da criminalidade, da irresponsabilidade e econômica e da submissão ideológica”. Após dois anos de mandato as primeiras continuam presen­tes e, para piorar, segue recorrente a tentativa de submeter o povo à sua ideologia.

De olho nas eleições do próximo ano, o Congresso deve acelerar as votações das chamadas pautas de costumes, entre as quais, a excludente de ilicitude, o voto impresso, a flexibili­zação à posse e porte de armas de fogo e mineração nas terras indígenas. Apesar do auto índice de rejeição, a crise sanitária, o desemprego e o aumento da miséria parecem não preocu­par. Com o domínio das Casas Legislativas o presidente segue com a certeza de que seus projetos serão aprovados e que qualquer pedido de impeachment será engavetado.

Laços de Família está chegando ao final e será substi­tuída por Ti-ti-ti (que significa situação confusa, ruido­sa). Na política, enquanto a família que governa o país continuar ampliando seus laços e tentáculos, e os novos e antigos parlamentares continuarem com as velhas práticas certamente teremos muito Ti-ti-ti. O final é triste e todos sabem que serão os prejudicados. Essa velha novela não vale a pena ver de novo.

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