Por Fernando Scheller
O gerente predial Edivaldo Grosso, de 63 anos, encaixa-se perfeitamente no perfil “clássico” do consumidor da classe C. Ao lado da esposa, que trabalha como auxiliar de serviços gerais, ele contabiliza uma renda total de R$ 3 mil em sua residência. Apesar de ele a mulher estarem empregados, a alta do custo de vida nos últimos anos fez a família “cortar tudo o que é supérfluo”.
“Eu não sei onde os preços dos alimentos caíram. Eu, toda vez que vou ao supermercado, acho tudo mais caro”, diz Edivaldo. Outro vilão do orçamento, segundo ele, é o preço do gás de cozinha, que está perto de R$ 100 no bairro onde mora, na região do Jabaquara, zona sul de São Paulo.
Os gastos fixos da casa – onde vivem Edivaldo, a esposa e uma filha já adulta – se resumem à compra de comida e ao abastecimento do carro. “Eu tenho carro porque preciso para o meu trabalho”, explica. Os tempos de compras e trocas de eletrodomésticos ficaram para trás, até porque Edivaldo tem dois cartões de crédito que foram bloqueados. “Hoje eu pago o acordo que fiz com o banco. Enquanto não pagar, não tenho crédito.”
Quando precisa de dinheiro extra, precisa recorrer à família. “Tenho mais dois filhos casados. E aqui é assim: às vezes o pai ajuda o filho, às vezes o filho ajuda o pai.” Edivaldo não tem nenhuma compra programada para 2018. “Tenho televisão e computador, mas a gente não pensa em comprar modelos novos. Se quebrar, vamos mandar consertar. Se não tiver conserto, espera a hora de conseguir comprar.”
Quanto às opções de diversão, a residência de Edivaldo – que não paga aluguel, pois a esposa herdou o imóvel onde a família mora – tem pacote de internet de 1GB (o mais barato disponível no mercado), TV a cabo básica e assinatura do Netflix. “Essas são coisas mais para a minha filha. Eu só uso a internet para ver o Facebook.”
Chegando aos 64 anos, Edivaldo se movimenta também para requerer a aposentadoria no ano que se inicia. “Mas eu vou continuar a trabalhar, mesmo que em um ritmo mais sossegado”, diz o gerente predial. “Senão as contas não fecham”, finaliza.
IBGE
Ainda que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) tenha apurado um crescimento da economia nos últimos trimestres e detectado uma deflação de 4,6% no preço dos alimentos entre janeiro e outubro deste ano, esses indícios de melhora econômica não foram percebidos pelas classes C e D, segundo pesquisa realizada pelo instituto Plano CDE, especializado no comportamento de consumo das famílias de baixa renda. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.