Em 10 de julho de 1917 o imigrante espanhol José Martinez, de 21 anos, foi morto em São Paulo por arma de fogo disparada por policiais durante uma manifestação grevista em frente a fábrica Mariângela, da família Matarazzo. O operariado da greve geral de 17 cobrava jornada de 8 horas diárias, proibição do trabalho de menores de 14 anos e fiscalização do trabalho infantil, proibição de trabalho noturno das operárias, aumento de salários (o preço médio das mercadorias crescia e o salário não comportava à vida).
A Intensa repressão policial (prisões, espancamentos, dispersão de greves na pancada) e do Estado (Lei Adolfo Gordo, de 1907, que autorizava a expulsão de estrangeiros; Decreto 1637/1906, que impedia que diretores sindicais fossem estrangeiros – com ressalvas; O Código Penal, que só não criminalizava “greve pacífica”; e outras mais) foi marca do início da chamada Primeira República, tanto quanto foi a imigração e, junto dela, a xenofobia.
E, um pouco antes, por necessidades econômicas, abolia-se a escravidão sob a política pública de segregação dos ex-escravizados, plenamente legalizadas no conteúdo da Lei do Ventre Livre, do Sexagenário, e nas Leis que recepcionaram os imigrantes europeus no que foi chamado de “branqueamento” da população.
Hoje, em janeiro de 2022, o suco dessa mistura brasileira que marginalizou o negro, formou a “ralé”, o “povão”, o “desempregado”, o “vagabundo”, como é tratado o pobre, o imigrante, o negro, se fez estampado nas manchetes. Um imigrante negro, um “indesejado”, um trabalhador, foi espancado até a morte por cobrar seu salário.
Me parece que não estamos tão longe da Primeira República.
Algumas fontes – (Sem ABNT porque obviamente o espaço não permite): BIONDI, Luigi. A greve geral de 1917 em São Paulo e a imigração italiana: novas perspectivas – 2009 / CARNEIRO, Cynthia Soares. Políticas Migratórias no Brasil e a Instituição dos “Indesejados”: A Construção Histórica de um Estado de Exceção para Estrangeiros – 2018 / KOWARICK, Lucio. Trabalho e vadiagem: a origem do trabalho livre no Brasil – 3ª ed. 2019 / FAUSTO, Boris. Trabalho Urbano e Conflito Social: 1890 – 1920. 2ª ed. 2016).