José Eugenio Kaça *
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O educador português, José Pacheco afirmou que o Brasil tem os maiores teóricos da educação básica mundial, e que o futuro da educação está no Sul, e não no Norte, que temos de deixar de nortear e passar a sulear, e neste contexto o Brasil, segundo o educador vai ser a referência desta nova ordem. Entretanto, a síndrome de vira-lata materializada por Nelson Rodrigues nos anos 1950, não permite que os grandes teóricos brasileiros sejam absorvidos pelas estruturas da educação básica brasileira. O Movimento da Escola Nova, ocorrido em 1932, descortinou um mundo de possibilidades para que o Brasil deixasse de ser um País de analfabetos, e trilhasse o caminho do desenvolvimento técnico e humano, através de uma educação básica pública de qualidade para todos.
No entanto, a base escravagista e parte da Igreja Católica, trabalharam com afinco para que este projeto não prosperasse, pois, a segregação social é o estigma perpetuado por uma casta que afirma a sua branquitude, de ascendência europeia, e assim vão destruindo o sonho de um dia sermos uma Nação. Mesmo com todas as arbitrariedades e perseguições, alguns projetos que se espelharam em teóricos como Paulo Freire, Anésio Teixeira, Lauro de Oliveira Lima e outros, resistiram e começaram a frutificar, e isso incomodou os detratores de uma educação básica pública. Manter a segregação social no mais alto nível sempre foi a prioridade dessa gente de “bem”. Entretanto, a luz emitida por estes projetos, embora sejam tão poucos ofuscaram a visão dos obscurantistas, que reagiram atacando a Constituição cidadã, que odeiam tanto.
Começaram com o movimento escroto da chamada escola sem partido, cujo seus membros invadiam as escolas básicas públicas, para intimidar os professores, alegando que os mesmos estavam doutrinando os alunos, com ideias esquerdistas, coisa de gente canalha. Concomitantemente e ardilosamente propuseram o ensino domiciliar (homeschooling), como parte continua da segregação, mas o Supremo Tribunal Federal tratou de enterrar estes projetos, que confrontavam a Constituição; ai surgiu a bala de prata, que são as escolas cívico-militares, onde essa gente desagregadora está jogando todas as suas fixas. Falar em escola básica militarizada, em um País que tem os maiores teóricos do mundo, além de ser um sacrilégio é coisa de criminoso.
A Audiência Pública realizada na quarta-feira dia 09/04, no Legislativo municipal, para debater com a população, e se posicionar radicalmente contra a implantação pelo governo do Estado, do modelo arcaico e marginalizador das escolas cívico-militares, que só vão acontecer nas periferias pobres, de maioria negra, para doutrinar e disciplinar de maneira violenta o comportamento e bloquear qualquer pensamento libertador que essa juventude ouse imaginar, pois a liberdade de pensamento do pobre é perigoso para o sistema. Diferentemente de outras audiências realizadas no espaço legislativo, onde a truculência dos vereadores de extrema direita imperou, desta vez a democracia se fez valer. A Audiência foi conduzida democraticamente pelas vereadoras, Duda Hidalgo, Judeti Zilli e Perla Muller. Nesta Audiência a participação da juventude representando suas entidades estudantis, como os secundaristas e universitários, marcaram suas posições totalmente contraria a estas arbitrariedades, e que não vão descansar até que esta famigerada lei seja sepultada.
A atuação da policias militar no Estado de São Paulo tem sido desastrosa. As mortes causadas pela polícia militar acontecem majoritariamente nas periferias pobres, e o principal alvo é a população preta. E vão ser nas escolas periféricas e pobres que essa gente violenta vai atuar. O caput do artigo 5º da Constituição não vale para a policia militar. O comandante da Rota, afirmou em entrevista: “a polícia de branco rico tem que ser diferente da policia de negro pobre, e que as abordagens nos bairros das periferias pobres têm que ser mais duras, do que de regiões nobres da cidade”. E alicerçado no pensamento do comando, estes policiais vão atuar para disciplinar os filhos dos trabalhadores das periferias pobres para que não ousem sonhar, e ter ideias libertadoras.
“Depois que o tá ruim chegou nunca mais melhorou”
Escolas militarizadas é um crime contra a educação básica pública!
* Pedagogo, líder comunitário e ex-conselheiro da Educação