Tribuna Ribeirão
Artigos

Não as escolas civico-militares, a educação merece coisa melhor! 

José Eugenio Kaça *  
[email protected] 
 
O Manifesto da Educação Nova (1932)apontou o norte para a educação básica brasileira, mas a força do tradicionalismo fincado nos dogmas da Igreja Católica, impediu que este projeto alcançasse seus objetivos, pois uma educação libertadora mudaria a velha política da oligarquia coronelista, que sempre dominou o cenário político, e nos dias de hoje este domínio está sendo capitaneado pelos movimentos pentecostais. Mas está escuridão intelectual, não arrefeceu o ânimo e nem a resistência dos educadores abnegados, que defenderam a educação básica pública como ferramenta de cidadania. 
 
A chamada elite brasileira (que não é elite, apenas lambedores de botas do país poderoso da vez), nunca permitiu que uma educação básica de qualidade chegasse as populações pobres que habitam as periferias, pois se uma educação libertadora chegasse a essa gente, os grilhões que as acorrentam na ignorância se romperiam, e com isso as novas gerações não precisariam continuar presas ao velho hábito, que observavam em seus pais, que ficavam de cabeça baixa repetindo para seus “senhores” sim senhor, não senhor”, afinal o conhecimento liberta, e a liberdade traz consigo a autonomia, e autonomia cria a criticidade, mas como essa gente que tem em seu âmago a velha oligarquia escravocrata, iria permitir que este tipo de educação libertadora e cidadã chegasse as periferias pobres, que na visão deles são habitadas por seres humanos inferiores. 
 
Mesmo com todos os obstáculos que as “elites” impuseram ao Manifesto da Educação Nova, suas ideias clarificaram e produziram projetos educacionais reconhecidos mundialmente. Um dos projetos mais exitosos ancorado nas ideias do Manifesto foi o Centro Educacional Carneiro Ribeiro, conhecido como Escola Parque, idealizada por Anísio Teixeira, inaugurado em 1949 em Salvador na Bahia. Essa escola tinha uma concepção pedagógica que dava uma resposta avançada, capaz de preparar os educandos para uma vida em sociedade, e exercer a cidadania com dignidade. Anísio Teixira gostava de chamar o Projeto de Centro de Educação Popular. A Escola Parque era um Escola de tempo integral, que proporcionava aos educandos diversas oficinas e atividades sociais – esportivas, teatro, música e atividades culturais. Cada aluno tinha uma conta bancária, e um talão de cheque para aprender a lidar com seu orçamento. Um projeto maravilhoso dedicado aos filhos dos pretos e pobres.  
 
Mesmo com todo o sucesso, este tipo de escola moderna, e totalmente nacional, não teve o acolhimento que deveria, e merecia ter pelas nossas autoridades, preferiram continuar com o modelo arcaico, baseado na linha de montagem fordista, que não produz o conhecimento e não é libertador. Depreciar as crianças oriundas das periferias pobres, afirmando que elas, por sua condição de pobreza não conseguem acompanhar os ensinamentos, que tem um déficit cognitivo, tudo balela. A Escola Parque desmente essa teoria. Atualmente há projetos exitosos pelo Brasil, que produzem conhecimento e cidadania. O Projeto Âncora em Cotia, a EMEF Amorim Lima em São Paulo, o Centro Popular de Cultura e Desenvolvimento no Vale de Jequitinhonha, a EE Campos Sales na favela de Paraisópolis São Paulo,  são alguns exemplos que mostram que se pode fazer uma educação de qualidade para os pobres. 
 
No entanto, apesar de todas a evidências mostrando que se pode fazer uma educação básica pública de qualidade para todos, a velha oligarquia escravocrata e de extrema direita prefere militarizar a educação básica destinada as periferias pobres. Sem debate nenhum com a sociedade civil, o governador de São Paulo usando o velho esquema do rolo compressor, aprovou na Assembleia Legislativa o infame projeto de lei, que cria as escolas cívico-militares no Estado. A mesma polícia militar que deu guarida a golpistas criminosos, que bloqueavam as estradas, impedindo o ir e vir, agiu de forma violenta e desproporcional contra um grupo de estudantes que se manifestava legitimamente contra o projeto, mesmo se retirando do local, foram agredidos com violência, e ainda foram presos e acusados de tumulto – apanharam e ainda  são culpados pelos danos que seus lombos causaram aos cacetetes dos policias militares. A luta vai ser árdua, não podemos deixar as nossas crianças nas mãos dessa gente. Uma polícia que tem prazer em matar, não tem nada a oferecer para a nossa educação básica! Modelos de escolas exitosas nós temos – basta querer implantar. NÃO AS ESCOLAS CIVICO-MILITARES! 
 
* Pedagogo, líder comunitário e ex-conselheiro da Educação 

Postagens relacionadas

Fragilidade e resiliência

Redação 1

Labaredas, poder, riqueza e pobreza 

Redação 2

Comunicação violenta faz parte da sua realidade?

Redação 1

Utilizamos cookies para melhorar a sua experiência no site. Ao continuar navegando, você concorda com a nossa Política de Privacidade. Aceitar Política de Privacidade

Social Media Auto Publish Powered By : XYZScripts.com