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Música composta pelos Mutantes com Tim Maia é descoberta

Por Renato Vieira

A irreverência, o deboche e a alegria aproximaram Arnaldo Baptista, Rita Lee e Sérgio Dias, os Mutantes, de outro artista que também faria história. Tim Maia era um desconhecido quando se encontrou com o trio nos bastidores do programa Quadrado e Redondo, da TV Bandeirantes.

“Tínhamos as mesmas influências. Tudo o que ele cantava a gente conhecia”, relembra Sérgio. A banda deixou marcas na trajetória do amigo – e vice-versa. Os Mutantes recomendaram Tim ao diretor da PolyGram, André Midani, que o contratou para gravar seu primeiro LP. Uma gíria criada pelo cantor para designar maconha, baurete, foi usada no título do disco Mutantes e Seus Cometas no País do Baurets (1972).

Parcerias entre os Mutantes e Tim nunca chegaram ao grande público. Mas ao menos uma foi enviada em 1971 à Censura Federal, que aprovou a gravação. Uma folha submetida ao órgão com a letra de Quero Mais Dinheiro, assinada pela banda e pelo cantor, circula em comunidades sobre música brasileira no Facebook. A origem do papel é o site do Sistema de Informações do Arquivo Nacional (SIAN), com mais de um milhão de documentos.

Todos os integrantes dos Mutantes à época – Arnaldo, Dinho Leme, Liminha, Rita e Sérgio – foram contatados pelo jornal O Estado de S. Paulo diretamente ou por meio de assessores. Nenhum deles se lembra da música e em quais circunstâncias ela foi feita. Muito menos de um registro. Mas Quero Mais Dinheiro está preservada nos arquivos da gravadora Universal Music, detentora do acervo da PolyGram. Se houver autorização dos cinco e de Carmelo Maia, filho de Tim que administra o espólio do cantor, a faixa pode ser lançada.

Quem confirma a existência da gravação é o pesquisador Marcelo Fróes. Ele assinou a produção executiva de Tecnicolor, álbum que os Mutantes gravaram na França em 1970 e que saiu 30 anos depois Com livre acesso ao arquivo da Universal, ele ouviu outras fitas de 4 e 8 canais com material bruto do grupo e se deparou com Quero Mais Dinheiro.

A música é uma paródia de Não Quero Dinheiro (Só Quero Amar), grande sucesso de Tim, e é sobra das sessões de estúdio do disco Jardim Elétrico (1971).

O pesquisador afirma que a letra de Quero Mais Dinheiro cabe perfeitamente na melodia de Não Quero Dinheiro. O longo refrão do hit de Tim foi substituído por repetições da frase “quero mais dinheiro”. A faixa foi gravada em quatro canais, com piano, baixo, guitarra e vozes. Rita canta primeiro e depois entra Arnaldo. “Quando ouvi, ri pra caramba e vibrei. É uma gravação perfeita, a única dos Mutantes com Rita que permanece inédita”, ressalta Fróes, que cogitou colocá-la em uma caixa com discos dos Mutantes que estava montando.

Ele conta que, na época, a gravadora disse ser “complicado” incluir a faixa no projeto, que acabou cancelado, por causa das autorizações devidas. Anos antes, Tim havia entrado na Justiça contra a PolyGram por conta de uma coletânea feita sem permissão

Quero Mais Dinheiro foi liberada pela Censura para gravação em 4 de fevereiro de 1971, oito meses antes de o disco de Tim com Não Quero Dinheiro chegar às lojas. O que sugere que os Mutantes ouviram a música do amigo em primeira mão. O fato de uma paródia ser lançada antes da canção que a inspirou pode ser um dos motivos da parceria ter saído de Jardim Elétrico.

Também é possível cogitar que a música ficou de fora do repertório porque Benvinda, que entrou no disco, é interpretada por Arnaldo emulando o estilo de Tim – um texto na contracapa ironicamente assinala que “qualquer semelhança com Tim Maia é mera coincidência”.

Ainda na ativa com os Mutantes, Sérgio é a favor do lançamento da gravação. “Achei o maior barato a letra, essa descoberta é um diamante. Libero na hora, mas tem que ver o que os outros querem fazer. A música tem que ser lançada.”

Autora de Discobiografia Mutante – Álbuns que Revolucionaram a Música Brasileira, que conta a história dos discos da banda, a jornalista Chris Fuscaldo cita a existência de Quero Mais Dinheiro no livro. Mas ela somente teve acesso à letra após ser consultada pela reportagem. “Acho importante o resgate desse registro e uma campanha para que a faixa seja lançada em alguma plataforma.”

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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