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Museu Nacional apresenta meteorito Santa Filomena

Pesquisadores do Museu Nacional apresentaram na se­mana passada o Santa Filome­na, a primeira peça a ser incor­porada à coleção de meteoritos da instituição após o incêndio de 2018. Pesando cerca de 2,8 kg, o fragmento foi adquirido pelo museu após uma chuva de meteoritos em 2020, sobre a cidade de Santa Filomena, em Pernambuco. A cidade foi lite­ralmente “invadida” por deze­nas de curiosos, pesquisadores e até caçadores do exterior atrás das pedras.

A pesquisadora do Museu Nacional/UFRJ, Maria Eliza­beth Zucolotto, que é pioneira na pesquisa dos meteoritos, juntamente com Amanda Tosi, Diana Andrade e Sara Nunes, estavam entre as primeiras pessoas a chegar na cidade, as únicas representantes da ciên­cia. Elas conseguiram obter as amostras estudadas.

De acordo com a professora Elizabeth Zucolotto, “dentre os diversos fragmentos caídos na cidade este foi o escolhido para compor a coleção do museu por apresentar características únicas. Entre elas, a presença de uma crosta de fusão fresca e depres­sões na superfície que parecem marcas de dedo, menos comuns de serem vistos em exemplares do tipo rochoso”. A professora destaca que o meteorito apre­senta linhas de fluxo descendo pelas laterais, formadas em me­teoritos que mantêm uma orien­tação bastante estável à medida que passam pela atmosfera.

Fóssil do Sistema Solar
O meteorito Santa Filome­na pode ser descrito como um “fóssil” do sistema solar, ou seja, trata-se de um fragmento de um asteroide com propriedades muito primitivas, que se formou bem no início da criação do Sistema Solar, tendo uma idade aproximada de 4,56 bilhões de anos, segundo explicou a pes­quisadora Amanda Tosi.

“Podemos destacar que, desde então, não ocorreram mudanças físicas e químicas significativas em seus minerais, estando quase da mesma forma de sua formação há bilhões de anos”. Ela afirmou que um dos focos do trabalho publicado é sobre como alguns minerais ajudam a estimar o máximo de temperatura a que a rocha foi submetida, assim como a taxa de resfriamento do corpo asteroidal que deu origem ao meteorito. Dessa maneira, eles são vestígios de como era nosso sistema solar primordial e nos dão pistas de como os corpos planetários, asteroides e cometas se formaram.

Chuva de estrelas
Amanda Tosi explicou que o meteorito Santa Filomena pode ser classificado como um con­drito, que são meteoritos rocho­sos comumente encontrados. “O que não é comum é o fato de partes desse meteorito terem atingido uma zona urbana, in­cluindo o pedaço relativamente grande recuperado para o Mu­seu Nacional/UFRJ”.

Outro ponto de destaque, de acordo com a astrofísica e professora no Observatório do Valongo, Diana Andrade, é a possibilidade de documentar a passagem do meteoro por câmeras, o que viabilizou o es­tabelecimento de sua trajetória. Além de propiciar uma melhor noção de onde os pedaços caí­ram, pode ser comprovado que o meteorito Santa Filomena veio do cinturão dos asteroides, que fica entre Marte e Júpiter. Tal fato foi registrado pela pri­meira vez em uma queda de meteorito no Brasil.

As Meteoríticas
O nome do grupo surgiu quando Maria Elizabeth Zu­colotto foi a campo, junto com as “marinheiras de primeira viagem” Amanda Tosi e Diana Andrade, quando caiu um me­teorito na Bahia, no segundo semestre de 2017.

Na longa viagem que fize­ram, as pesquisadoras criaram um grupo de trabalho para en­contrar as “pedras que caem do céu”, atuando em todas as etapas da pesquisa, desde o trabalho de campo, passando pelo estudo em laboratório, e, sobretudo, na divulgação dessa ciência.

De acordo com a professora Beth, “as pesquisas sobre meteo­ritos são realizadas já há algum tempo, mas poucos são os que se dedicam a este ramo da ci­ência no Brasil, especialmente mulheres. Uma coisa é estar no laboratório e receber um pedaço de algum meteorito para fazer a análise, mas outra bem diferente é ir ao campo para prospectar e encontrar essas raras e impor­tantes evidências do universo”. Ela afirmou que sempre procura incentivar novos pesquisadores a encontrar esses registros, o que é uma tarefa bastante árdua.

Publicação do estudo
O artigo foi publicado na Meteoritics & Planetary Scien­ce (MaPS), revista mensal in­ternacional de ciência planetá­ria publicada pela Meteoritical Society, uma organização aca­dêmica que promove pesquisa e educação em ciência planetá­ria, após passar por um extenso estudo de mineralogia, química e petrografia para compreen­der os processos de formação e eventos ocorridos antes de che­gar à Terra.

O diretor do Museu Nacional, Alexander Kellner, fala durante apresentação do meteorito

Reabertura do Museu Nacional
Segundo Alexander Kell­ner, diretor do Museu Nacional, apresentar uma peça como essa é muito importante para a pes­quisa, para a história e para o acervo. A instituição conta com uma coleção de minerais de ex­trema relevância para a ciência.

“Esse trabalho, publicado em uma das principais revistas da área mostra, mais uma vez, que os profissionais do Museu Na­cional continuam gerando pes­quisa de qualidade e realizando parcerias, demonstrando que a instituição está mais viva do que nunca! A previsão é de abrir grande parte do museu nos pri­meiros meses de 2026, exibindo peças de destaque como o mete­orito Santa Filomena”, comemo­ra o diretor Alexander Kellner.

Regulamentação de propriedade de meteoritos
Outro aspecto importante foi a discussão sobre quem de­veria ser o dono de um meteori­to. A corrida ao meteorito Santa Filomena abriu uma discussão que tramita no Congresso Na­cional sobre a regulamentação da propriedade de meteoritos que caem em solo brasileiro.

Com a polêmica, a Socie­dade Brasileira de Geologia en­trou em ação e, com ajuda de cientistas e demais interessados, conseguiu propor um comple­mento ao projeto de lei, no qual se regula que 20% de um novo meteorito encontrado, respei­tando-se o limite máximo de 1kg, deverá ser disponibilizado para a ciência e depositado em uma instituição científica.

Neste momento, esse pro­jeto de lei segue tramitando no Congresso Nacional. De um lado, pesquisadores que relutam na venda e posse de meteoritos e, do outro, os que apoiam a re­gulamentação, que pode garan­tir mais meteoritos brasileiros para a pesquisa, uma vez que a lei prevê uma porcentagem da rocha para a ciência, liberando o restante para o comércio.

“A venda da propriedade dos meteoritos regulamentada por lei impossibilita que eles saiam do país ilegalmente e indica que haverá uma fiscalização su­ficiente para proibir o contra­bando. Um exemplo que temos próximo de uma lei que proíbe a venda está na Argentina e, desde então, ‘praticamente não existe’ mais meteorito argentino, pois a maioria é tirada clandestina­mente do país e vendida como se tivesse caído em outro lugar”, explicou Zucolotto.

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