São inaceitáveis as cenas de terrorismo e depredação de um dos principais símbolos da democracia. Manifestações são legítimas e fazem parte do regime democrático, porém, o que ocorreu neste domingo foi uma verdadeira barbárie e destruição. Este texto inicial, que grifei em itálico, foi o que enviei à imprensa na segunda-feira, dia 9 de janeiro, às 9h53 da manhã, a menos de 24 horas das invasões ocorridas em Brasília, quando manifestantes ocuparam os prédios do Congresso Nacional, do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Palácio do Planalto, atingindo assim os três poderes da República e superando todos os limites de tolerância.
No texto que enviei à imprensa na manhã de segunda-feira também informei do agendamento de uma reunião virtual da Frente Nacional de Prefeitos (FNP) – da qual sou Secretário Geral – para as 11 horas do mesmo dia, para debater a crise política, avaliar e deliberar sobre as implicações das invasões ocorridas. E assim fizemos. Participei da reunião virtual que contou com a presença (de forma online) de prefeitos e prefeitas das capitais e de médias e grandes cidades do país, com mais de 80 mil habitantes. Estiveram na reunião mais de 100 prefeitos, sendo 14 de capitais.
Durante o diálogo realizado, nos posicionamos exigindo investigação e punição rigorosa dos participantes, financiadores e incentivadores dos ataques ao estado democrático de direito. Também redigimos um documento – aprovado durante a reunião extraordinária da FNP – em que lamentamos os atentados contra os poderes constituídos. Entendo que manifestações são legítimas e fazem parte do regime democrático, porém, o que assistimos em Brasília passa longe de qualquer tipo de democracia. Foi terrorismo, atentado, tentativa de golpe e isso não podemos permitir.
Em quase 30 anos de vida pública, enfrentei manifestações, porque é impossível agradar a todos em todos os momentos. Em meu primeiro mandato como prefeito de Ribeirão Preto, por exemplo, enfrentei uma greve de servidores de seis dias que teve início no 6º dia de nossa gestão, no dia 6 de janeiro de 2017. E nem tínhamos responsabilidade direta com a reivindicação dos trabalhadores. Eles fizeram a paralisação porque os salários de dezembro e o 13º salário não haviam sido quitados pela gestão anterior. A volta ao trabalho só se deu com o pagamento dos atrasados, no dia 11 de janeiro, com recursos já arrecadados pelo novo governo.
Foi uma manifestação forte, intensa, com insultos vários à administração, mas sem vandalismos e atentados contra o patrimônio público. Depois desta, tivemos outras manifestações, greves e discussões judiciais – que não deixam de ser manifestações – que enfrentamos como determina a democracia, com o diálogo, o entendimento, as negociações. Na maioria das vezes venceu o bom senso e a compreensão de ambas as partes de que às vezes é preciso recuar para estabelecer o equilíbrio da situação.
Acredito na democracia e nas instituições do meu país. E a prova disso é que disputei 12 eleições. Venci oito e perdi quatro, sendo três majoritárias – para prefeito de Ribeirão Preto. Fui eleito para o Poder Legislativo por seis vezes consecutivas, sendo três para deputado estadual e três para federal e, assim, vivi a maior parte da minha vida pública em um dos principais pilares da democracia, o mediador que busca o equilíbrio e que representa a população.
Como democrata convicto, que sempre soube respeitar a decisão da maioria, também acredito no poder das manifestações pacíficas com a função de reivindicar direitos. Mas é justamente por ser democrata que não posso aceitar atentados e tentativas de golpe contras as instituições que mantêm viva a democracia.