Tribuna Ribeirão
Polícia

Mudança na PGR dificulta suposta delação de Palocci

De acordo coma revista Piauí, a aguardada delação do ex-ministro dos governos Lula e Dilma, Antônio Palocci, corre o risco de não acontecer. A pu­blicação destaca que os advo­gados do escritório de Adriano Bretas, que negociam a possível colaboração premiada do ex­-ministro petista, não deixam transparecer nenhuma anima­ção quando tratam do assunto. “Imagina uma carruagem pesa­da, na subida, o terreno molha­do, os cavalos cansados… E nós lá atrás, empurrando”, compa­rou um deles.

O problema crucial da proposta de delação de Paloc­ci é “a dificuldade dele em se incriminar”, além do natural embaraço que o fato de estar preso há mais de um ano im­põe à produção de provas que corroborem o que o outrora grão-petista diz ter a entregar aos investigadores.

“Fazer delação é como ir ao analista. De início, você não consegue falar nada, mas, com o tempo, começa a admi­tir o que fez. Palocci já trilhou esse caminho. E é um homem que ouve e respeita seus ad­vogados”, disse um dos advo­gados, que acredita que parte considerável do obstáculo a ser vencido pelo cliente está a centenas de quilômetros de Curitiba: a sede da Procura­doria-Geral da República, em Brasília revela o repórter da Piauí, Rafael Moro Martins.

“Tudo mudou por lá. Tí­nhamos até o Whatsapp dos caras. Isso acabou”, relembra, falando dos tempos de Rodrigo Janot, que deixou o comando da PGR em setembro. “Agora, tem que mandar um e-mail para a secretária para marcar uma reunião com a nova tur­ma”, explicando os novos pro­cedimentos instaurados pela mandatária Raquel Dodge. A nova procuradora-geral é cer­tamente mais cautelosa que o antecessor no que toca às de­lações. Há algumas semanas, a revista Época relatava que, a in­terlocutores, Dodge já afirmou acreditar que Janot exagerou ao eleger as delações como as prin­cipais peças das investigações.

“Nos tempos do Janot, a PGR era um restaurante re­pleto de advogados propondo colaborações premiadas, com ‘garçons’ da PGR circulando de mesa em mesa, ouvindo os pedidos, cozinha a todo vapor. Agora, quase todos os assen­tos estão vazios, mas é difícil chamar a atenção de um aten­dente”, comparou um defensor que já negociou delações pre­miadas para pesos pesados da Lava Jato.

Como parte de quem está na mira da delação de Palocci são políticos ou agentes pú­blicos com foro privilegiado, não há como a colaboração driblar a PGR. Em Curitiba, ainda que as conversas entre os defensores do ex-ministro e os procuradores da Lava Jato nunca tenham de fato cessado, o óbice parece ser outro. “Aqui a investigação está já na maturidade. A ten­dência é ir diminuindo, até porque o que não se refere à Petrobras foi retirado daqui”, disse, há algum tempo, o pro­curador Carlos Fernando dos Santos Lima, um dos cabeças da operação.

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