Tribuna Ribeirão
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Mudança   

Rui Flávio Chúfalo Guião *
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Depois de mais de trinta anos morando no Condomínio Chácara Hípica, cedi à pressão de meus filhos, que queriam que eu morasse mais perto deles, tornando assim mais fácil seus cuidados para comigo e minha esposa.

Mudar depois de tantos anos mostrou-se uma operação difícil e trabalhosa.

Primeiro, foi preciso mentalizar a mudança. Morávamos num paraíso, cercado de verde por todos os lados, animado pelo canto dos pássaros, que nos saudavam logo cedo, enquanto tomávamos o café da manhã. Suas alamedas eram cruzadas por minhas caminhadas matinais, suas flores encantando meus exercícios.

Mas, na idade provecta em que nos encontramos, válida a atitude dos filhos de quererem proximidade de suas casas. Reconhecemos que a distância jogava contra nós e acabamos nos mudando para um condomínio mais próximo da cidade e vizinhos  dos  filhos que moram em Ribeirão. Estes filhos foram responsáveis pela reforma da casa adquirida, cuidando com extrema dedicação das obras, tendo ficado sob cuidados deles a restauração total do imóvel.

Tomada a decisão, começamos a mentalizar as etapas da mudança, imaginando como fazê-la de tal sorte que o desconforto fosse o menor possível. Iniciamos por uma análise dos itens mais frágeis, documentos e afins, mentalizando quais deles deveriam ser transportados por nós ou deixados para a transportadora.

Um vai vem da casa antiga para a nova consumiu grande tempo, transportando coisas miúdas, que já eram colocadas em seus lugares definitivos.

A bagunça se instalou na casa antiga, com pacotes e objetos separados em cantos, à espera do transporte pessoal ou profissional.

Descobrimos uma série de objetos desnecessários, papéis antigos sem validade, uma miríade de coisas que deveriam ter sido eliminadas há muito tempo, que geraram sacos e sacos de lixo.

Para o grosso da transferência, tivemos a sorte de contratar excelente empresa de mudança, que adotou um procedimento profissional exemplar.

A casa foi dividida por setores, atacados a cada dia. Enormes caixas de papelão brotaram na sala, que foram enchidas durante a manhã, etiquetadas e conduzidas no período da  tarde para a casa nova.

Ali, sob supervisão nossa, estas caixas eram empilhadas em seu destino final.

Ajudados por nossa filha querida, começamos então a abri-las

Numa operação interna, íamos analisando o conteúdo trazido e tentando colocá-lo nos seus lugares definitivos. Operação de guerra, difícil para quem não está acostumado e que me rendeu boas dores de costas e pernas.

Instalou-se um caos controlado. Procurávamos a caixa com  determinados ítens e ela se perdia nas inúmeras embalagens.  Abertas, começamos a ver que faltavam vários deles. Onde estavam as colheres ?Só os garfos vieram? Durantes uns dois dias, tomamos nosso iogurte diário com garfo, experiência frustrante.

Trabalho diuturno o de abrir as embalagens. De vez em quando, descobríamos o que estávamos procurando no dia anterior, uma grande comemoração.

Meu escritório, de onde escrevo estas crônicas, estava montado pela metade. A impressora funcionava, mas onde estavam os pacotes de papel?

Enfim, um trabalho que tomou duas semanas. A instalação do cabo das televisões levou três dias, pois a retransmissora tinha dificuldade em sintonizar todo os aparelhos. Fiquei duas noites sem ver meus streamings. À exceção da Folha, que prontamente mudou o endereço, os demais jornais que assino ainda não conseguiram entregar suas edições diárias. Restou lê-los online, o que não substitui o prazer de vê-los em sua forma impressa.

Hoje escrevo esta crônica quase instalado, mas vendo pela ampla janela que bordeja meu escritório, as plantas se desenvolvendo e sentindo a aragem que refresca o ambiente. As árvores são pequenas ainda, sinto falta dos grandes exemplares que plantei e vi crescerem, os pássaros aparecem muito timidamente, mas, estou instalado, depois de uma desgastante batalha que é mudar de casa.

* Advogado e empresário, é presidente do Conselho da Santa Emília Automóveis e Motos e secretário-geral da Academia Ribeirãopretana de Letras 

 

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