Tribuna Ribeirão
Geral

MPF pede apuração sobre maus-tratos contra casal

TOMAZ SILVA/AG.BR.

Após audiência nesta terça­-feira, 30 de julho, com os quatro presos na Operação Spoofing, suspeitos de invadir celulares de autoridades, o Ministério Público Federal (MPF) do Distrito Federal pediu instauração de inquérito para apurar os relatos de maus­-tratos e se houve crime de abuso de autoridade. O juiz Vallisney Oli­veira, da 10ª Vara da Justiça Fe­deral do DF, negou o pedido, mas concedeu a cópia dos depoimen­tos prestados, para que o MPF possa estudar um novo pedido.

Agressões verbais e psicoló­gicas foram descritas por Gustavo Henrique Santos e Suelen Priscila Oliveira, casal preso em São Pau­lo. Além disso, eles e os outros dois presos, Walter Delgatti Neto, o “Vermelho”, e Danilo Marques, alegaram que viajaram algema­dos de São Paulo a Brasília, o que vai contra as regras do Supremo Tribunal Federal. Porém, os dois revelaram que estão sendo bem tratados. “Vermelho” ainda disse que confessou os crimes por li­vre e espontânea vontade, tanto no apartamento dele, em Ribeirão Preto, quanto na Polícia Federal em São Paulo e Brasília.

Tanto Gustavo como Suelen se disseram constrangidos em di­versos momentos pelos policiais federais desde que a PF entrou na residência do casal. “Eu estava dormindo pelado e eles não deixa­ram, de jeito nenhum, eu colocar a roupa. Pedi para colocar cueca e não me deixaram. Fui, inclusive, constrangido a ficar nu em frente a uma policial federal por cerca de dez minutos. Pedi então, por di­versas vezes, que queria ligar para meu advogado, para saber o que estava acontecendo. Eu disse que eles estavam confundido. Não dei­xaram eu falar com ninguém”, dis­se Gustavo Henrique Elias Santos, primeiro suspeito a depor.

Segundo Gustavo, foram pra­ticadas agressões verbais diver­sas vezes, desde a entrada dos policiais em sua residência, lo­calizada em Araraquara. “Desde o começo eu colaborei [com os policiais], mas fui bastante agre­dido verbalmente. Me chamavam de hacker; de bandido… diziam a todo momento ‘tá preso, perdeu’. Até então não sabia o que estava acontecendo. No aeroporto tam­bém fui tratado como verdadeiro bandido pela polícia”, disse.

As ofensas continuavam após a chegada na PF. “Ouvi muita pia­dinha dizendo que eu ia invadir [os celulares dos policiais] e que, por isso, eu não podia olhar para o nome deles [escrito na farda]. Re­almente achei tudo isso muito des­necessário”, acrescentou Gustavo. Namorada de Gustavo, a suspeita Suelen Priscila de Oliveira disse também ter sido alvo de maus­-tratos e de abusos. Chorando ao longo de boa parte do depoimento, ela disse que, além de ofendê-la, os policiais não a teriam deixado beber água, nem ir ao banheiro ou tomar banho.

“Passei frio durante toda a noi­te porque eles me deram apenas um travesseiro e uma toalha. Não deram absorvente nem papel higi­ênico. Prefiro morrer do que voltar para lá. Fui humilhada, mal tratada, e não pude beber água”, disse ela em meio a queixas sobre “piadi­nhas” e xingamento feitos pelos policiais federais. “Tive de tomar água do chuveiro, só quando já es­tava na penitenciária”.

Diante do relato, a defesa de Suelen conseguiu convencer o juiz a transferi-la à sede da PF no Aeroporto Internacional de Brasí­lia. “O magistrado determinou que imediatamente Suellen saia do presídio onde se encontra e volte para a sede da PF no Aeroporto. Ela a todo momento dizia estar sendo mal tratada desde São Pau­lo. Acredito que vindo à imprensa essa situação não mais ocorra”, disse o advogado de defesa do ca­sal, Ariosvaldo Moreira.

Preso durante curso – Danilo disse que não tinha a menor ideia do que estava acontecendo, no momento em que os policiais che­garam para prendê-lo. Ele encon­trava-se em um curso de primeiros socorros, em uma empresa na qual pretendia trabalhar. “Eles me pe­garam e me algemaram. Na hora achei que era brincadeira, porque o policial disse ‘perdeu… é a PF’. Isso pegou mal para mim. Não esperava isso”, disse. “Só na oitiva é que eu fiquei a par do que se tratava”.

Walter Delgatti Neto também não reclamou do tratamento dado pelos policiais. “Não sofri agressão física nem psicológica”. Ele acres­centou que em nenhum momento lhe foi negada a possibilidade de ligar para o advogado. Ao final dos depoimentos, o juiz Vallisney acatou o pedido dos advogados de defesa, para que tenham aces­so ao conteúdo dos depoimentos já prestados, bem como o direito a um banho de sol por dia, algo que, segundo os investigados, não vinha sendo permitido. Diante das declarações de Gustavo e Suelen na oitiva, a Justiça Federal e o Mi­nistério Público Federal pretendem averiguar o ocorrido junto à Polícia Federal. A PF informou que não se manifestará sobre o tema.

O juiz Vallisney justificou que seria “açodado” autorizar neste momento a abertura do inquérito, e por isso autorizou apenas o en­vio da cópia. De posse dos depoi­mentos, a Procuradoria-Geral da República vai avaliar um eventual pedido de instauração de inquérito por abuso de autoridade. A procu­radora Márcia Brandão também pediu o envio do material à corre­gedoria da Polícia Federal para que investigue possível má conduta de policiais no caso. O juiz Vallisney concedeu em parte apenas as có­pias, mas não aceitou a abertura de investigação específica para apurar o ato. Ele afirmou que o Mi­nistério Público deve encaminhar para a Corregedoria o que quiser que seja apurado.

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