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Moura Lacerda Dragons: o futebol americano de RP

Equipe, que hoje disputa elite do Paulista, começou como brincadeira entre amigos (Divulgação)

Por Hugo Luque

Tom Brady, Peyton Manning, Joe Montana, Jerry Rice, Jim Brown, Patrick Mahomes. A lista dos maiores jogadores da história do futebol americano é longa. Em comum, todos esses mencionados são naturais dos Estados Unidos. Porém, nas últimas décadas, sobretudo nos últimos anos, a modalidade ultrapassou as fronteiras ianques e chegou ao Brasil.

O primeiro jogo da National Football League (NFL) em terras tupiniquins aconteceu no ano passado, e mais um está programado para este ano, novamente em São Paulo. Na liga, o kicker brasileiro Cairo Santos marca presença em tradicionais equipes há 11 anos. Já no cenário universitário, Davi Belfort, filho do ex-lutador Vitor Belfort, é um prospecto badalado na posição mais conhecida, a de quarterback

Mas, mesmo longe da América do Norte, em Ribeirão Preto, milhas e milhas distante, a bola oval voa sobre o gramado do Moura Lacerda Dragons. Hoje em dia, o conjunto disputa o Brasileirão e a elite do Campeonato Paulista, e ostenta conquistas como a Liga Nacional e a Super Copa São Paulo, ambos em 2018. Quem vê essas taças nem imagina o humilde início dessa história.

Videogame, Orkut e Challengers

No fim da década de 1990, o futebol americano crescia em popularidade nas areias do Rio de Janeiro (RJ), onde tudo começou em solo brasileiro. No interior de São Paulo, o então garoto Elias Silva jogava esse peculiar e ainda pouco divulgado esporte no videogame. Em busca de companhia para o passatempo, convidou um amigo para tentar, até que, alguns anos mais tarde, surgiu a grande ideia: comprar uma bola.

“Não era tão fácil de comprar coisas lá fora e importar. Lá para junho ou julho de 2006, começamos a ir atrás de uma bola de futebol americano. Encontramos o eBay, que nem fazia tanto frete internacional. Demorou três ou quatro meses para chegar, mas chegou no fim de 2006 e começamos a brincar”, conta Elias.

A dupla cresceu virou um grupo que trocava passes e aprimorava a técnica em qualquer campo que estivesse disponível. A paixão na prática se transformou em presença religiosa em frente à televisão para acompanhar os grandes jogos nas noites de domingo. Em uma dessas partidas, um dos amigos entrou em contato com a emissora detentora dos direitos e mudou tudo para sempre.

“Em janeiro de 2007, ele falou que tínhamos um grupo no Orkut e o Paulo Mancha (comentarista) leu. Nessa época, só tinha uma transmissão, de domingo à noite. Ele falou em um domingo. No outro, quando fomos brincar, lotou de gente. Éramos no máximo sete ou oito pessoas. No fim de semana seguinte, apareceram 35 caras.”

A brincadeira ficou mais séria, com 11 praticantes de cada lado e muito contato, mesmo sem equipamentos. O grupo, então, foi atrás de adversários.

Challengers

Improvisados, os treinos ficaram mais complexos. Cada vez mais preparados, os jogadores buscaram rivais e tiveram de encontrar um nome. Foi no desafio – “challenge”, em inglês –, que se forjou o time.

“Tinha muita dificuldade, porque a gente ia em um campo e estava fechado, tinha de mudar sempre, eram muitos desafios. Por isso, um dos meninos sugeriu Challengers. Todo mundo gostou, então fomos atrás de um mascote. Vimos que o rinoceronte é um animal que sempre enfrenta o inimigo de frente, até para deixar um combate. Então, por causa da força e desse ímpeto de desafio, adotamos o rinoceronte”, explica o fundador, que até hoje atua pela agremiação.

Com tudo pronto, inclusive o azul e cinza como cores, também como forma de homenagem à cidade, a equipe realizou amistosos. O primeiro foi no antigo Iate Clube, com “goleada” por 34 a 0 sobre um conjunto de Rio Preto. Depois, 93 a 0 diante de um rival de Campinas. Eles precisavam de um desafio maior.

“Jogamos muitos torneios nessa época. Um deles foi em Uberlândia, sem equipamento nenhum, mas fomos campeões. Depois, fomos atrás de comprar as ombreiras. O avô de um atleta emprestou o dinheiro e pagamos aos poucos. Então, jogamos outro torneio só de ombreiras, com mais um título.”

Enfim, compraram, em conjunto, capacetes reformados vindos do Mato Grosso. Tomava forma, ali, o principal expoente do futebol americano em toda a região. Com o apoio de seus companheiros, Elias mirou ainda mais alto.

Torneio Touchdown

Em 2010, um passo importante: com o Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ) criado, o time passou a buscar uma forma de entrar no cenário das grandes equipes. Com a federação estadual, porém, não houve conversa, já que o preço de inscrição no principal torneio era exorbitante. Em meio a tudo isso, uma divisão ocorreu na cúpula do esporte no Brasil.

No ano seguinte, o narrador húngaro-brasileiro André José Adler aproveitou a deixa e tomou a iniciativa de criar um outro campeonato nacional, chamado Torneio Touchdown. Após conversas com o organizador, falecido em 2012, o Challengers recebeu a oportunidade de participar, mas com uma condição: derrotar o São Paulo Sharks.

Em Tambaú – Ribeirão Preto não tinha um campo de tamanho ideal para o confronto –, os paulistanos não viram a cor da bola e o Challengers avançou à competição. Mas os “perrengues” não paravam e a criatividade teve de entrar em jogo.

“Foi uma experiência magnífica, porque o grupo comprou a ideia. Durante a competição, a gente precisava ir para Jaraguá do Sul, em Santa Catarina. A viagem custava R$ 11,7 mil e o salário mínimo estava em cerca de R$ 570. Decidimos fazer pizza”, relembra.

As atenções eram divididas entre treinos, trabalho de cada atleta (afinal, trata-se de um esporte amador) e a cozinha. Cada jogador ficou encarregado de uma tarefa e, no fim, foram vendidas 1,6 mil pizzas. A viagem aconteceu e o grupo evoluiu no campeonato.

No ano seguinte, mais uma discordância de ideias impactou o esporte, desta vez no âmbito estadual. Com a criação da Federação de Futebol Americano de São Paulo (Fefasp), um novo estadual começou e, logo de cara, os representantes de Ribeirão foram à semifinal. Elias guarda aquele dia na memória como se tivesse acontecido ontem.

“Na época, o Corinthians era o ‘bicho-papão’, tinha vencido o Brasileirão em 2011 e tinha um americano que era um fenômeno. A gente jogou contra o Palmeiras na semifinal em Caucaia do Alto diante de quase 10 mil pessoas. É um marco importante porque quando cheguei, após a semi do Corinthians, vi o Alexandre Frota, que fazia parte da equipe deles, dando entrevista para a televisão local. Ele disse: ‘Agora é descansar e esperar o Palmeiras na final’. Contei para todo mundo no vestiário, a galera entrou numa pilha e, no fim, foi 38 a 14 o jogo.”

Parceria com Botafogo e Dragons

Na final, não teve como. O Corinthians levou o troféu, mas o Challengers marcou seu nome no cenário Brasil. Ainda em 2012, a equipe assumiu os holofotes de Ribeirão de uma vez por todas quando fechou uma inusitada parceria com o Botafogo e viu a torcida do Pantera abraçar a causa.

Era comum, mesmo em jogos de futebol da bola redonda, a presença de tricolores com os uniformes do Challengers. Um motivo para celebrar após uma árdua luta para ter suporte, que incluiu portas fechadas do maior rival botafoguense.

“Fui atrás do Botafogo e do Comercial. O Comercial pediu, na época, R$ 15 mil para usarmos o campo, e o Botafogo só não tinha disponibilidade, mas se dispôs a conversar. Eles tinham o Olé Brasil, ofereceram para lá e fizeram a locação por R$ 1,5 mil. O primeiro jogo equipado em Ribeirão Preto foi no antigo CT do Olé Brasil.”

“Com a necessidade de ter campo, voltamos, em 2012, atrás dos dois clubes. O Comercial fechou as portas, nem quis conversar com a gente, e nós conversamos com o pessoal do Botafogo”, acrescenta Elias.

Depois do “apadrinhamento” por parte do Pantera, a popularidade da equipe aumentou e vieram os principais títulos, em 2018. O tempo passou, o time deixou de ser parte do Botafogo e, em 2020, após uma fusão com o Barões, transformou-se em Dragons.

Fato é que os desafios nunca foram poucos, mas o tradicional time busca superar mais alguns percalços para voltar a conquistar um troféu. Após derrota no pontapé inicial do Paulista desta temporada, no último dia 23, para o Ocelots, os ribeirão-pretanos trabalham em busca de um resultado melhor. No próximo domingo (13), às 14h, na Casa do Dragão, a equipe enfrenta o Werewolves, e conta com o apoio dos apaixonados por futebol americano da cidade. Os ingressos estão à venda no Instagram da equipe.

 

 

 

 

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