O escritor Dalton Trevisan morreu aos 99 anos na segunda-feira, 9 de dezembro, em sua casa, em Curitiba. A informação foi confirmada por Fabiana Faversani, agente literária do autor. Dono de uma das obras mais singulares da literatura brasileira, é considerado o maior contista contemporâneo do país.
Recluso, o escritor viveu isolado em uma casa ao longo de mais de sete décadas, saindo apenas em raras ocasiões e se relacionando com um grupo pequeno de amigos. Não dava entrevistas, não recebia seus prêmios, não frequentava o meio literário. Mas escrevia, e publicava.
Nos últimos anos, já com a idade avançada, ele se mudou para um apartamento no Centro de Curitiba, onde dedicou seus últimos anos a reler e reorganizar sua obra. Em 2022, ele lançou uma antologia de contos, em edição do autor e com uma tiragem de 50 exemplares.
Nenhuma linha sobre eles, apenas os textos –– e alguns poucos desenhos de Poty entre os textos e ao final, incluindo um retrato de Trevisan na contracapa. Dalton nasceu em Curitiba, Paraná, no dia 14 de junho de 1925. Formou-se em Direito pela Faculdade de Direito do Paraná.
Exerceu a advocacia durante sete anos, mas abandonou a atividade para trabalhar na fábrica de cerâmicas da família. Dalton Trevisan estreou na literatura com a novela Sonata ao Luar (1945). Entre 1946 e 1948, liderou em Curitiba o grupo literário que publicava a revista Joaquim, que tornou-se porta-voz de vários escritores, críticos e poetas e reunia ensaios de Antônio Cândido e Mário de Andrade e poemas de Carlos Drummond de Andrade.
Em 1946, publicou na revista seu segundo livro de ficção, “Sete Anos de Pastor” (1946). Ele ganhou repercussão nacional a partir de 1959, com a publicação de “ovelas Nada Exemplares”, que reuniu sua de produção literária. Recebeu pela obra, o Prêmio Jabuti de Câmara Brasileira do Livro.
Em seguida publicou “Cemitério dos Elefantes” (1964) e “O Vampiro de Curitiba” (1965). Por seu temperamento recluso e avesso a entrevistas, recebeu o apelido de “Vampiro de Curitiba”. Publicou também “A Morte na Praça” (1965) e “Desastres do Amor” (1968). Isolado dos meios intelectuais, ele ganharia novamente o Jabuti em 1965, 1995 e 2011.
Seu livro “A Guerra Conjugal”, de 1969, posteriormente foi transformada em um premiado filme, dirigido por Joaquim Pedro de Andrade. Seu único romance é “A Polaquinha”, de 1985. Em 1994, Trevisan publicou “Ah, é?”, marco do estilo minimalista. No ano de 1996, ele ganhou o Prêmio Ministério da Cultura de Literatura. Já em 2003, venceu o 1º Prêmio Portugal Telecom de Literatura Brasileira juntamente com Bernardo Carvalho. Na ocasião, o livro premiado foi “Pico na Veia”.
O autor foi eleito por unanimidade vencedor do Prêmio Camões de 2012, ano em que também recebeu o Prêmio Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letras, pelo conjunto de sua obra. A obra de Trevisan, publicada pela Editora Record ao longo das últimas décadas, foi transferida para a Todavia no segundo semestre deste ano. A editora preparava suas edições para 2025, ano do centenário de Dalton Trevisan.