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Moradores de RP se mobilizam em áreas desmatadas pelo fogo

ALFREDO RISK

João Camargo

Diante do incêndio que atingiu cerca de 460 hectares na região Sul de Ribeirão Pre­to, no dia 18 de setembro, e da grande quantia de focos que tem sido registrada nos últi­mos meses, moradores de con­domínios têm se mobilizado para recuperar as áreas verdes devastadas pelo fogo.

Nesse sentido, foram cria­dos grupos, sendo que um deles conta com cerca de 250 pessoas de várias regiões da cidade, que estão sensibiliza­dos com a causa. De acordo com Lucas Miranda, presiden­te municipal do Partido Verde em Ribeirão Preto e que faz parte desse grupo, o foco prin­cipal é em centralizar as ações.

Moradores de condomínios registram incêndio na zona Sul da cidade

“Estão havendo muitas ações solitárias. Nós preci­samos centralizá-las. Vamos conversar com o Ministério Público e com a Prefeitura para saber quais são as ações que devem ser tomadas. Ações que, inclusive, devem aconte­cer de forma continuada. Por­que não adianta plantarmos árvores agora e, em novembro e dezembro, ninguém cuidar disso”, disse Miranda, que acredita que envolver a comu­nidade em ações como esta é importante para uma consci­ência ambiental.

Além de Miranda, Maria­na de Moraes Olivio, também moradora de um condomínio de Ribeirão Preto, se reuniu com outros moradores para encontrar uma maneira de po­der reflorestar a área perdida no incêndio.

“Em um primeiro momento, os moradores estão se organi­zando em grupos para ir até lá [local do incêndio] nos fins de semana e fazer uma busca por animais que possam ter sobre­vivido ou que possam estar feri­dos. Além disso, vamos espalhar frutas e água pela área”, relatou.

Na sexta-feira, 18 de setembro, um incêndio atingiu cerca de 460 hectares na zona Sul de Ribeirão Preto

Mariana informou que na quarta-feira, 23 de setembro, foi realizada uma reunião entre a Secretaria do Meio Ambiente, os moradores dos condomínios que foram mais atingidos e al­guns representantes da Câmara dos Vereadores.

Questionada sobre essa reunião, a Secretaria do Meio Ambiente informou, por meio de nota, que está inicialmen­te identificando toda a região atingida e as devidas matrícu­las das áreas afetadas.

“A partir das informações quanto à propriedade e respon­sabilidade sobre as áreas, será possível fazer o planejamento da recomposição, em conjunto com os órgãos relacionados ao meio ambiente, como o Gae­ma, Ministério Público, Cetesb e Fundação Florestal”, completou a Secretaria.

Para quem se interessar em ajudar, foi criado uma página no Instagram (@amigosdafau­narp), na qual há o link para participar de um grupo do WhatsApp, onde são aceitas do­ações de mudas e frutas.

Ação do grupo Amigos da Fauna RP leva frutas à mata atingida por
incêndio

O incêndio
Na sexta-feira, 18 de setem­bro, um incêndio atingiu cerca de 460 hectares em uma área de cana-de-açúcar, APP e vegeta­ção nativa, localizada próxima à Rodovia Prefeito Antônio Du­arte Nogueira, o Anel Viário Sul, em Ribeirão Preto.

De acordo com informações do Corpo de Bombeiros, na oportunidade, foram encami­nhadas ao menos seis equipes para o combate das chamas. O clima seco e a alta temperatura podem ter auxiliado para que o fogo se espalhasse.

Diante da magnitude do in­cêndio, as chamas se aproxima­ram de condomínios daquela região e chegaram a causar pâ­nico nos moradores. Segundo Juliana Oliveira, que reside nas proximidades, dentro de seu condomínio também ocorreu focos de incêndio, que podem ter sido provocados pelas faíscas do fogo na mata.

“Tivemos alguns lotes in­cendiados, mas, como a grama está baixa, foi só superficial. Ti­vemos a grama da APP incen­diada e parte de nossas árvores da APP interna também”, co­mentou Juliana.

Por conta da gravidade do incêndio, o Grupo de Atuação Especial do Meio Ambiente (Gaema) de Ribeirão Preto so­licitou a abertura de um inqué­rito policial para investigar a autoria do início das chamas. De acordo com a promotora Cláu­dia Habib, do Gaema, a Polí­cia Ambiental e o Corpo de Bombeiros informaram que o incêndio tinha todas as carac­terísticas de ter sido criminoso.

Além do fato ocorrido no dia 18 de setembro, a promotora relata que moradores da região informaram terem visto uma pessoa, com as mesmas carac­terísticas, ateando fogo no local no sábado, 19 de setembro, e no domingo, 20 de setembro.

“Viram na sexta-feira e ou­tros dois ataques, no sábado e no domingo. Nesses últimos dias, contidos pela população. A in­vestigação da Polícia Civil busca por registros de câmeras de con­domínios que possam ter flagra­do essa pessoa”, disse Cláudia.

Em entrevista ao Tribuna, a promotora comunicou, ainda, que este crime pode acarretar pena de dois há quatro anos de reclusão, além da reparação do dano e de uma multa adminis­trativa proporcional a extensão do incêndio. “São vários des­dobramentos em relação à fau­na, à flora e à saúde pública”, comunicou Cláudia.

Na quinta-feira, 24 de se­tembro, foram divulgadas ima­gens de uma pessoa colocando fogo, no dia 8 de setembro, em uma área na Avenida Francis­co Gugliano, próximo ao local atingido pelo incêndio inves­tigado. Diante desse registo, a Polícia Civil apura se essa pes­soa tem relação com o caso do dia 18 de setembro.

No caso de a população ter informações de pessoas sus­peitas de cometer esse tipo de crime, o Gaema pede para seja contatado para que estas sejam localizadas. O e-mail para con­tato é: [email protected].

Animais resgatados
O Bosque e Zoológico Dr. Fábio Barreto resgatou cinco animais vítimas do incêndio na zona Sul de Ribeirão Preto. De acordo com o bosque, foram resgatados um ouriço-cacheiro, uma jiboia­-cinzenta, um tucano-toco, um choca-barrada e um periquito-rei.

Tucano é resgatado pelo Bosque e Zoológico Dr. Fábio Barreto com lesões nas asas

Ainda segundo o bosque, o ouri­ço-cacheiro sofreu queimaduras em todos os espinhos, pelos, pés e focinho; o tucano-toco sofreu lesões superficiais em suas asas; a jiboia-cinzenta sofreu quei­maduras em 90% do corpo; já o choca-barrada e o periquito não sofreram lesões.

Jiboia-cinzenta sofre queimaduras em 90% do corpo e é tratada no Bosque Fábio Barreto

Diante dessas lesões, os animais estão passando por avaliações diárias. Até o momento, eles permanecem no bosque, porém, dependendo de suas recupera­ções, podem ser destinados à reintrodução.

Distribuição de mudas
Relacionado a causa dos mo­radores e do replantio na área devastada, o Parque Ecológico Ângelo Rinaldi – Horto Munici­pal Florestal, em uma ação para comemorar o Dia da Árvore, celebrado em 21 de setembro, vai receber pedidos de munícipes e agendar a retirada de mudas.

No horto, há diversas espécies de pequeno, médio e grande porte, nativas e ornamentais. As doações, em razão da pandemia do novo coronavírus, estão sendo feitas mediante a solicitação prévia, com análise da proposta apresentada pelo interessado, para posterior orientação da doação.

As solicitações podem ser enca­minhadas via ofício, ou por meio dos e-mails gabinete@meioam­biente.pmrp.com.br e wecos­[email protected]. com.br, com uma proposta de plantio que conste identificação individual ou coletiva do interes­sado, local do plantio desejado, quantidade de mudas, espécies pretendidas e acompanhamento do desenvolvimento do plantio.

Em nota, a Secretaria do Meio Ambiente ressaltou que, diante dessa comemoração, realizou vários plantios. Inclusive um simbólico na área que sofreu incêndio no dia 18 de setembro.

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