Segundo a Carta aos Hebreus, “a fé é uma posse antecipada do que se espera, um meio de demonstrar as realidades que não se veem” (Hb 11,1). No Batismo mergulhamos no “útero” da Igreja, a Pia Batismal, tornando-nos filhos adotivos, herdeiros de tudo aquilo que é de Deus. E uma vez filhos de Deus, formamos a Sua Família, tornando-nos partícipes de todos os benefícios que são inerentes a uma família bem estruturada e formada. E então recebemos como dom a fé, na medida em que a precisamos durante a vida!
A mística da fé concentra-se no dom, e dom é presente dado. Imaginemos um namorado sugerindo seu noivado com a namorada. Ele o faz, dando a ela um anel – chuveiro de brilhantes. A namorada aceita o noivado, recebe o anel com alegria. Certamente esse anel encontra-se num lindo estojo invólucro num belíssimo papel de presentes. A namorada nem se dá o trabalho de puxar a fitinha do presente.
Guarda-o no fundo da gaveta de seu criado mudo, e lá fica o anel ao invés de estar no dedo da noiva. Qual será o sentimento do noivo, senão de decepção e tristeza? Muitas vezes fazemos o mesmo com a nossa fé. Nós a recebemos, mas a guardamos no fundo do coração, sem nenhuma expressão. É preciso cultivar a fé, colocando-a em prática, para que surta o efeito esperado por todos aqueles que sabem de nossa aliança com Deus que nos adotou. Para isso, é necessário um comportamento compatível ao amor do Pai e de tudo aquilo que a fé nos inspira, como a confiança, a credibilidade, a segurança, o afeto, o carinho, a solidariedade e disponibilidade em relação aos outros.
Nossa fé tem estágios que se expressam de acordo com seu amadurecimento no dia a dia de nossas relações. Havia um pai com quatro filhos, que estava prestes a comemorar seu aniversário natalício. Os filhos reunidos, decidiram que cada um faria sua própria homenagem ao pai. A menina de quatro anos de idade, pôs-se diante do pai, que sentado em sua cadeira e começou a declamar: “Batatinha, quando nasce, se esparrama pelo chão. Menininha, quando dorme, põe a mão no coração.”
A menina declamou com gestos e impostação de voz, que encantou o pai aniversariante. Mesmo que o próprio pai já declamara a mesma poesia, quando criança, gostou da homenagem da filhinha, porque ela o fez do fundo do coração. Deu de si o melhor.
O menino de doze anos colocou-se também diante do pai e desenrolando um pergaminho começou a discursar: “Excelentíssimo, Ilustríssimo Senhor, meu Genitor! Data vênia de Vosso natalício, venho prestar-vos minha modesta homenagem…” e assim continuou, parecendo um político, embora nada combinasse com sua tenra idade. Mas o pai também gostou da homenagem do menino, porque percebeu o quanto se esforçou, pesquisando pronomes de tratamento, para mostrar ao pai seu empenho.
A menina de quinze anos nada disse. Levou nas mãos um grande buquê de rosas vermelhas aveludadas e perfumadas e colocou-o no colo do pai. O pai arrepiou-se de tanto que gostou da homenagem da adolescente que não disse nada, mas traduziu sua homenagem naquelas lindas rosas. Também a jovem de dezoito anos nada disse: chegou pertinho do pai e deu-lhe um longo beijo no rosto, e o pai chorou, de tanto que gostou da homenagem da filha mais velha. São os estágios do amadurecimento de nossa fé.
Quando não sabemos a não ser rezar orações já formuladas, Deus aceita nossa oração, quando bem rezada, saindo do fundo do nosso coração. Deus também aceita nossos discursos, às vezes questionadores e difíceis, desde que nos empenhemos e nos aprofundemos em nossa fé. Já, Deus arrepia-se de tanto que aceita num boque de rosas, nossa oração e nossa expressão da fé, em gestos de ternura e carinho que dispensam qualquer discurso.
Finalmente, Deus chora de tanto que aceita a maturidade de nossa fé, quando chegamos ao seu rosto e lhe damos um longo beijo, que também nos dispensa de qualquer outro gesto ou palavra. Este beijo deve encontrar o rosto de Deus na pessoa do outro, e então estaremos prontos para viver a mística de nossa fé, principalmente em tempo de pandemia! Tudo passa, só Deus não passa. Tenhamos fé nele!