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Misoginia – o buraco é mais embaixo

No Brasil muitas obras de engenharia apresentam problemas nos projetos, na execução e na manuten­ção. Assim ocorreu em Belo Horizonte com o Viaduto Guararapes em 2014; no Rio de Janeiro com a Ciclovia Tim Maia em 2016 e na Barragem de Brumadinho em 2019, também poderíamos enumerar dezenas de outros exemplos. A cratera surgida na obra da Linha 6-Laranja do Metrô de São Paulo seria mais uma, porém, além da repercussão, transtornos e prejuízos, ganhou um ingre­diente especial: a misoginia.

O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente da República, postou vídeo nas redes sociais onde vincula o incidente à presença de mulheres e ironizou a capacidade das engenheiras envolvidas no projeto. Uma atitude misógina que merece ser repelida.

Muito utilizado atualmente, o termo misoginia, segun­do o Dicionário Aurélio, significa desprezo ou aversão às mulheres. Sua manifestação ocorre no lar, nos casos de violência doméstica, nas ruas e espaços públicos com o des­respeito e assédio, nas relações de trabalho com os salários menores e poucas mulheres nos postos de chefia e poder e os casos mais extremos chegam ao feminicídio.

É claro que o acidente deve ser investigado e a empresa responsável pela obra sofrer os rigores da lei, na medida de suas responsabilidades, mas um fato é incontestável e digno de louvor: sua política de respeito à diversidade, que segue a tendência mundial de estímulo à contratação e valorização das mulheres.

No passado a teoria de superioridade do sexo masculino foi consolidada, porém, em pleno século 21, é lamentável encontrar pessoas, das mais variadas classes e formações que insistem em perpetuar essa ultrapassada crença, entronizada no inconsciente e que prejudica os grupos minorizados. Diariamente inúmeras trajetórias profissio­nais são interrompidas por aqueles que insistem em julgar as pessoas pela cor da pele, gênero ou orientação sexual. Pior, ainda, é observar o comportamento de algumas mu­lheres que concordam e propagam teorias de submissão, de inferioridade e de exclusão.

No caso específico, o buraco é mais embaixo, pois a postagem do deputado não visa desqualificar e culpabilizar apenas as engenheiras e demais trabalhadoras na obra do metrô, ela tenta impedir a presença feminina em um dos setores produtivos mais dominados por homens, onde as barreiras contra a inclusão são já são imensas, especial­mente pelas brincadeiras, piadas, assédios e todo estereó­tipo machista. Também atinge todas as mulheres que com muita competência têm conquistado espaço e destaque na aviação, segurança, futebol, narração esportiva, ciências da computação, política, manutenção automobilística, enfim, nos diversos espaços profissionais anteriormente tidos como exclusivos para homens.

Um dos remédios contra a ignorância, o machismo, o sexismo e a misoginia é a educação, sempre libertária, ela abre os horizontes e traz a compreensão do ser humano e de seu papel na sociedade. Além da conscientização masculina, outro aspecto importante é a sororidade, ou seja, a aliança e união entre as mulheres que se ajudam, se empoderam e promovem a igualdade de gêneros. Agora, para os que insistem nas práticas preconceituosas, somente os rigores da lei.

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