Tribuna Ribeirão
Justiça

Ministra do STF autoriza inquérito

FOTO: FÁBIO POZZEBOM/AG.BR.

A ministra Cármen Lúcia, do Supremo Tribunal Federal (STF), foi designada relatora do pedido da Procuradoria­-Geral da República (PGR) para investigar o ministro da Educação, Milton Ribeiro, pelos crimes de corrupção passiva, tráfico de influência, prevaricação e advocacia ad­ministrativa. A magistrada determinou abertura de in­quérito e autorizou as diligên­cias solicitadas pelo Ministé­rio Público Federal na esteira da denúncia de captura do Ministério da Educação por pastores que intermediam o acesso a verbas da pasta.

Ao encaminhar ao STF na quarta-feira (24), o pedido de abertura das apurações con­tra o ministro da Educação, o procurador-geral da Repú­blica Augusto Aras já reque­reu a colheita de oito depoi­mentos: do próprio chefe do MEC; dos pastores Gilmar Santos e Arilton Moura; e dos prefeitos Nilson Caffer (Gua­rani D’Oeste-SP), Adelícia Moura (Israelândia-GO), La­erte Dourado (Jaupaci-GO), Doutor Santo (Jandira-SP) e Calvet Filho (Rosário-MA).

Em outra ação apresentada por deputados do PT, a magis­trada determina que Augusto Aras informe em 15 dias se irá investigar o presidente Jair Bolsonaro (PL) por envolvi­mento no gabinete paralelo e explique quais as eventuais providências que deverão ser tomadas. A ministra é relatora de quatro ações de parlamen­tares e do inquérito encami­nhado ontem pelo PGR à pre­sidência da Corte com pedido de autorização para investigar Ribeiro e os pastores Gilmar Santos e Arilton Moura.

O PGR também pediu o en­vio dos autos à Polícia Federal, para análise das “circunstân­cias de produção” do áudio em que Ribeiro admite que prio­riza o atendimento a prefeitos que chegam ao Ministério da Educação por meio dos pastores que integram o esquema de apa­relhamento da pasta. Além dis­so, Aras quer que o órgão e que a Controladoria-Geral da União esclareçam o cronograma de liberação das verbas do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação e os critérios ado­tados para os repasses.

Junto da solicitação de ins­tauração de inquérito, Aras enviou à Corte máxima seis representações recebidas pelo Ministério Público Federal após a denúncia de aparelhamento religioso do MEC. A petição do PGR acabou encaminhada ao gabinete de Cármen Lúcia, por prevenção, em razão de ter sido distribuído ao gabinete da mi­nistra uma notícia-crime contra o presidente da República Jair Bolsonaro (PL) e o ministro da Educação em razão de acusa­ções de mesmo teor.

Há ainda ao menos outras três petições enviadas por de­putados e senadores ao Supre­mo, que devem ser incorpo­radas à investigação principal. O MEC chegou a tentar blin­dar Bolsonaro de mais uma denúncia de irregularidade envolvendo seu governo, sus­tentando que o presidente não pediu tratamento preferencial a prefeitos ligados aos pastores Gilmar Santos e Arilton Mou­ra. Aras, no entanto, conside­rou que, em nenhum momen­to, Milton Ribeiro “apontou falsidade” das denúncias feitas pela imprensa, inclusive admi­tindo encontros com os pasto­res do gabinete paralelo.

A Comissão de Educação e Cultura do Senado aprovou nesta quinta-feira os requeri­mentos de convite apresenta­dos pelos senadores Jean Paul Prates (PT-RN) e Randolfe Ro­drigues (Rede-AP) para que o ministro Milton Ribeiro dê explicações sobre “gabinete pa­ralelo” instalado no Ministério da Educação (MEC) operado por pastores. O ministro com­parecerá à comissão na próxi­ma quinta-feira, 31 de março.

A atuação do titular do MEC tem sido “dirigida” por um grupo de religiosos sem nenhum vínculo com o mi­nistério ou o tema educação. Capitaneado pelos pastores Gilmar Silva dos Santos e Aril­ton Moura, o “gabinete parale­lo” age para facilitar a liberação de recursos, permitir o acesso de outras pessoas ao ministro e interferir na gestão da pasta. Além disso, em áudios divul­gados pela imprensa, o chefe da pasta afirmou priorizar os amigos do pastor Gilmar, no repasse de verbas aos muni­cípios, a pedido do presidente Jair Bolsonaro.

Em nota divulgada à im­prensa após a divulgação do áudio, Milton Ribeiro disse não haver nenhum tipo de fa­vorecimento na distribuição de verbas da pasta. Segundo o ministro, a alocação de re­cursos federais segue a legis­lação orçamentária. “Não há nenhuma possibilidade de o ministro determinar alocação de recursos para favorecer ou desfavorecer qualquer muni­cípio ou estado”, disse na nota. Mais cedo, a Procuradoria da República no Distrito Federal decidiu a apurar o caso na esfe­ra cível. O Tribunal de Contas de União (TCU) decidiu que vai realizar uma fiscalização extraordinária no Ministério da Educação.

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