Por Mariane Morisawa, especial para o Estado
Quando eles chegaram à internet, era tudo mato. Valley of the Boom, nova série mista de ficção e documentário da National Geographic, conta um pouco a história de alguns dos pioneiros do Vale do Silício, antes dos Mark Zuckerbergs e Jack Dorseys da vida.
Os seis episódios recuperam o Netscape, primeiro navegador comercial, que entra numa guerra com o Internet Explorer da Microsoft, theglobe.com, a rede social antes do Facebook, e o Pixelon, uma empresa de streaming de vídeo que existiu antes do YouTube.
“Havia uma pureza quando começamos a internet, mais de 25 anos atrás”, disse em entrevista Stephan Paternot, um dos fundadores do The Globe, que é personagem (interpretado por Dakota Shapiro) e um dos entrevistados da série. “Queríamos criar uma aldeia global onde todos estariam conectados, uma espécie de utopia. E, claro, para executar esses sonhos é preciso uma quantidade enorme de capital. A série mostra como precisamos do capital casado à criatividade para que coisas possam ser inventadas. Mas também expõe como o capital corrompe a visão original.”
Entre os outros personagens estão James Barksdale (Bradley Whitford, de The West Wing) e Marc Andreessen (John Karna), cofundadores da Netscape, e Michael Fenne (Steve Zahn), criador do Pixelon e um charlatão condenado anteriormente por fraudes no mercado de ações.
O showrunner Matthew Carnahan (House of Lies) não tinha pensado em fazer uma série sobre o tema até ser procurado pela produtora Jada Miranda e a National Geographic. Quando começou a pesquisa, logo viu que havia material, mas fez uma proposta quase indecente ao canal. “Disse que faria, mas que ia arruinar o canal, explodir a coisa toda. Precisava tentar ser tão ‘disruptor’ quanto aqueles criadores que começaram a internet, inventaram o navegador, criaram as redes sociais.” Então ele fez pequenas loucuras como ilustrar a disputa entre Netscape e Microsoft com uma batalha de rappers.
Valley of the Boom vai um pouco na linha de A Grande Aposta, filme de Adam McKay que fala de forma divertida sobre a crise de 2008, e também do programa de John Oliver na HBO, em que aborda temas sérios de maneira bem-humorada. “A internet afetou demais a maneira como assimilamos informação, entretenimento, imagens. Tudo ficou mais acelerado”, explicou Carnahan.
Para Arianna Huffington, fundadora do Huffington Post e produtora da série, é preciso despertar a imaginação do público para poder entreter e informar ao mesmo tempo. “Acho a série importante porque só entendendo as origens podemos lidar com os estragos de agora – por exemplo, o aumento da depressão e ansiedade entre garotas viciadas nas mídias e a dificuldade de distinguir fatos e ficção. Tudo isso começou em outra era, quando jamais se imaginou o que poderia acontecer.”
Arianna acredita que a única maneira de combater os efeitos maléficos da rede é retomar o controle. “A internet é apenas uma ferramenta. Podemos usar para o bem e o mal. E agora é a hora de decidir que precisamos proteger nossa humanidade, nossas relações em vez das conexões que a internet gera. E isso requer ação. Por exemplo, podemos começar desligando todas as notificações. Não me importo se você começou a me seguir no Instagram. Isso pode esperar. Nossa atenção, nosso tempo, nossas vidas foram sequestrados. Nessa terceira fase da internet, precisamos recuperá-las.”