Com base no preço da cesta básica de São Paulo, de R$ 654,15, a mais cara observada pela pesquisa mensal do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), em janeiro o salário mínimo necessário para suprir as despesas de um trabalhador e da família dele seria de R$ 5.495,52, o que corresponde a cinco vezes o valor atual e já reajustado, de R$ 1.100.
Este valor bancaria as despesas com alimentação, moradia, saúde, educação, vestuário, higiene, transporte, lazer e previdência. Em dezembro, o valor do salário mínimo teria de ser de R$ 5.304.90, correspondente a 5,08 vezes o salário mínimo vigente à época, de R$ 1.045. Em janeiro de 2020, o mínimo ideal seria de R$ 4.347,61, quatro vezes o piso oficial da época, de R$ 1.039.
O salário mínimo de R$ 1.100 deste ano não repõe a inflação de 2020. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), indicador que corrige o piso nacional, registrou alta de 5,45% em 2020, segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), acima do reajuste de 5,26% dado no salário mínimo.
Isso significa que a alta no piso não repõe o poder de compra, como assegurado pela Constituição. Para isso, o piso deveria subir para R$ 1.101,95 ou R$ 1.102, após arredondamento. No ano passado, o governo anunciou que aumentaria o salário mínimo de R$ 998 para R$ 1.039, mas depois da divulgação do INPC, o valor foi reajustado para R$ 1.045 a partir de 1º de fevereiro.
A política de valorização do salário mínimo, com reajustes pelo índice de preços e pela variação do PIB, vigorou entre 2011 e 2019, mas nem sempre o salário mínimo subiu acima da inflação. Em 2017 e 2018, por exemplo, foi concedido o reajuste somente com base na inflação porque o PIB dos anos anteriores (2015 e 2016) encolheu. Por isso, para cumprir a fórmula proposta, somente a inflação serviu de base para o aumento.
Em 2019, houve um aumento real de 1%, refletindo o crescimento de dois anos antes e marcando o fim da política. Segundo o Ministério da Economia, cada R$ 1 a mais no salário mínimo eleva as despesas em R$ 351,1 milhões. Na prática, o aumento de R$ 55 no piso, de R$ 1.045 para R$ 1.100, se traduzirá num gasto maior em R$ 19,3 bilhões. Como parte desse impacto já estava incorporado, a diferença deve ser de R$ 4 bilhões.