Tribuna Ribeirão
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Minha terra, meu mundo

O tempo atribuiu à minha memória um desenho da cidade de Ribeirão Preto que era bem mais geométrico do que hoje. Ao norte as casas desapareciam com a entrada do Educandário Sinhá Jun­queira ou pela beiradas do Córrego do Tanquinho.

Para o oeste as ruas sumiam no final da Vila Tibério, onde surgia o Corredor dos Calabreses criado para ligar a cidade com a Escola de Agricultura hoje transformada em campus da USP. Soube que o Corredor dos Calabreses foi aqui rebatizado e agora é conhecido como Rua Paranapanema. O nome antigo, com certeza, tem muito mais raiz na história que os italianos ajudaram a construir aqui.

Para o leste havia uma estrada que ia até os limites do nosso mundo, onde ficava e fica Serrana.

Para o sul surgia uma estrada para Gaturamo, hoje Bonfim Pau­lista. De novo, Gaturamo está muito mais ligado à história do que o novo nome. A estrada iniciava-se na hoje Praça Spadoni, ou no Pos­to Volta, que apontava para uma tal “Venda de Tábuas” para além da Chácara das Freiras, hoje pelos lados da Avenida Fiuza. Talvez em São Simão, talvez em Santa Rita.

Ninguém ia para São Paulo saindo pela estrada de Serrana. O caminho de São Paulo hoje é a Avenida Getúlio Vargas. Eram rarís­simos os automóveis. Não havia ônibus para São Paulo, assim quem quisesse ir para lá, ia de trem. O certo é que não havia nem a Nove de Julho e nem a Independência. Hoje, as avenidas, ainda com outro rosto, já não são mais os limites da cidade.

Na época, a Recreativa abria sua porta para a Praça Camões, um jardim inglês. Na época, o clube era chamado de Comercial porque ali havia sido o campo e a sede do time de futebol. Basta ver que até hoje o distintivo da Recreativa tem o desenho consagrado pelo Comercial.

O caminho usado para um dia gerar a Independência nascia na beira do rio, num local conhecido como “lavador”. Ali os carrocei­ros, que eram muitos, lavavam os seus cavalos. Não só eles, mas também os animais dos coches da Praça XV que levavam as pessoas para passear especialmente no final da semana.

Muito embora Ribeirão Preto e Paris tenham uma face geodési­ca parecida, com um rio dividindo as cidades pelo meio, adotaram políticas diferentes para administrar sua história como também as ruas da zona urbana.

Em Paris os nomes antigos permanecem indicando os lugares do seu nascimento. Vale a pena lembrar o nome de dois lugares da Cidade Luz.

Nas proximidades da universidade há uma rua denominada Rua do Sabot. Como se sabe “sabot” era o tamanco de sola de madeira usado pelos operários durante a Revolução Industrial. Quando os operários não estavam satisfeitos com alguma coisa, jogavam seus tamancos na engrenagem e quebravam as máquinas, especialmente de tecelagem. Até hoje o local é conhecido pelo nome de Rua do Sabot, que emprestou o nome para “sabotagem”, usado até mesmo no Brasil. Os trabalhadores, algumas vezes,reuniam-se numa praça chamada “Greve”.

Saindo do Museu do Louvre pela Rua do Rivoli, tomando a direi­ta, está o bairro denominado “Marais”, onde se encontram as lojas populares. Ninguém se atreveu a rebatizar o “Marais” com o nome de um ditador. Em francês “marais” significa “pântano” porque fica na margem do Rio Sena, em Paris que os romanos no passado chamavam de Lutécia.

Seria relevantíssimo para Ribeirão Preto ler a linguagem deixada pelos caminhos de sua história, anotando a passagem daqueles que indi­caram a direção do seu destino o que engrandece a alma de seus filhos.

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