O tenente-coronel Alexander Vindman, um dos principais assessores do governo americano na Ucrânia, disse na terça-feira, 29 de outubro, em depoimento ao Congresso que ficou “alarmado” com o telefonema de 25 de julho entre Donald Trump e o presidente ucraniano, Volodmir Zelenski.
“Não achei adequado (Trump) exigir que um governo estrangeiro investigasse um cidadão americano e fiquei preocupado com as implicações para o apoio dos Estados Unidos à Ucrânia”, afirmou o militar, segundo documento obtido por jornalistas após a sessão a portas fechadas.
O depoimento de Vindman é considerado crucial, pois o tenente-coronel estava presente durante o telefonema. Na terça-feira, ele confirmou que o presidente mandou suspender a ajuda militar à Ucrânia até que Zelenski concordasse em investigar Joe Biden e seu filho Hunter – Biden lidera as pesquisas presidenciais de 2020.
O testemunho corrobora os depoimentos do embaixador dos EUA na Ucrânia, Bill Taylor, e de outros diplomatas americanos que confirmaram a barganha de Trump com Zelenski, que está na origem do processo de impeachment que tramita na Câmara dos Deputados.
A resposta de Trump foi imediata. Antes mesmo de Vindman chegar ao Congresso, o presidente atacou o caráter do militar, acusando-o de ser um opositor do governo. “Ele estava no mesmo telefonema que eu? Não é possível. Peçam a ele que leia a transcrição da conversa”, tuitou o presidente.
Outros republicanos fizeram o mesmo. Na CNN, o ex-deputado Sean Duffy referiu-se ao militar como “ucraniano” – Vindman de fato nasceu na Ucrânia e chegou aos EUA quando tinha 3 anos. “Ele fala ucraniano e tem afinidade com a Ucrânia”, disse o republicano.
O problema dos ataques à reputação de Vindman é que o tenente-coronel é condecorado como um Coração Púrpura, a mais importante honraria militar americana, após ser ferido no Iraque por uma bomba de beira de estrada – até hoje ele carrega os estilhaços no corpo. Os democratas pretendiam votar ontem na Câmara dos Deputados uma moção para aprovar oficialmente o inquérito de impeachment.
A votação não é necessária, segundo líderes da oposição. Mas os republicanos se recusavam a cooperar, chamando o inquérito de “ilegal” por não ter sido aprovado formalmente. Com o sinal verde protocolar, acreditam os democratas, os republicanos ficariam sem argumento e se colocariam na posição constrangedora de ter de defender as ações de Trump.