O assunto da semana foram os ataques às escolas a partir da chacina perpetrada em uma creche de Blumenau no início de abril. Não acredito em orquestração nem sou adepto de teorias da conspiração, mas somos desafiados a discutir o que está por trás de tudo isso. Um verdadeiro frenesi tomou conta, nos últimas dias, de estudantes, suas famílias e até do pessoal das escolas. A maioria das ameaças não passa de fake news, mas concordo que o sentimento de insegurança é muito grande. As medidas prometidas ou tomadas pelas autoridades são as de praxe, mas paira no ar que elas seriam insuficientes ou que não atacam a raiz do problema. Este que é, antes de tudo, um problema sociológico e político.
Começo perguntando às nossas leitoras e aos nossos leitores: o que têm a ver os ataques às escolas com os ataques às instituições no dia 8 de janeiro em Brasília? A primeira reação de muitos pode ser no sentido de que não têm nada a ver. Discordo! Têm muito a ver. Os manés presos na Papuda e na Colméia ou que continuam usando tornozeleiras eletrônicas vivem no mesmo mundo paralelo que os assassinos de crianças e adolescentes dentro de nossas escolas. Não é à toa que todos estes são verdadeiros adoradores do bolsonarismo e de seus gurus. Basta ir até as suas redes sociais para constatar. Todos defendem golpes e soluções violentas para problemas que os angustiam. Todos ostentam fotos de Bolsonaro e de seus asseclas.
Esta onda de ameaças digitais de ataques a escolas está a serviço da “Guerra Híbrida”, como bem destacou o jornalista Mário Vitor Santos. Guerra Híbrida é uma estratégia de tomada de poder que mistura táticas de guerra política, guerra convencional, guerra irregular e ciberguerra com outros métodos de influência sobre a sociedade, tais como desinformação, diplomacia, lawfare e manipulação do jogo eleitoral. Ao combinar operações de campo com esforços subversivos, o agressor pretende evitar responsabilização ou retaliação. O termo pode ser utilizado pra descrever a dinâmica complexa e flexível do espaço de luta política, demandando uma resposta altamente adaptável e resiliente.
É justamente a isso que estamos assistindo não somente no Brasil e nos Estados Unidos, mas em outras várias partes do mundo. “O país assiste à caminhada da extrema-direita, fora do poder, em direção a ações mais radicais e que só lhe renderão ainda mais isolamento político. Desde a intentona de 8 de janeiro, incentivada pelo ex-presidente e pelo Alto Comando das Forças Armadas, o núcleo da base militante bolsonarista entrou em depressão”, escreveu Mário Vitor Santos. De qualquer forma, a onda de ameaças contra escolas assumiu a marca de escalões tresloucados do bolsonarismo, parte do qual vem passando por uma mutação anarquista. Essa gente necessita de tratamento na área de saúde mental. É urgente, antes que cometam novos desatinos.
Dentre esses grupos, vivendo no submundo de qualquer respeito à civilidade e à humanidade, existem células neonazistas ou lobos solitários dispostos a qualquer coisa. Boa parte desses grupos está na região sul do país. Só em Santa Catarina, a Polícia Federal já identificou mais de 500. Blumenau teve a principal corrente nazista no Brasil até a II Guerra Mundial. Um professor de Joinville ainda fez apologia do massacre à creche de Blumenau. Já está usando tornozeleira eletrônica. Santa Catarina foi o estado de maior votação de Bolsonaro em 2022, cerca de 70%. Meus queridos e minhas queridas, não são simples coincidências… É preciso investigar isso a fundo no campo da sociologia e da política!
O protofascismo naturalizou a barbárie. A política de disseminação de armas promovida pelo governo Bolsonaro combina com toda essa tragédia. Como bem afirmou Alberto Cantalice, no 247, “desarmar a população, punir os criminosos e exaltar a paz em detrimento da violência é o caminho que nos resta. O resto é barbárie e anomia. Não podemos falhar!” O ataque às escolas e este clima de insegurança que estamos vivendo são expressões muito claras dos microfascismos que pululam entre nós, naturalizando a barbárie e toda sorte de violência social. Tudo isso tem relação direta com o contexto político que estamos vivenciando. Não podemos perder a capacidade de estabelecer relações.