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Mete a colher, sim!

O Brasil é um dos países mais perigosos do mundo para uma mulher se envolver emocionalmente com um homem, é o país em que ainda se diz que “em briga de marido e mulher, não se mete a colher, porque o homem pode não saber porque está batendo, mas a mulher sabe porque está apanhando”.

Em primeiro lugar quando é que violência é boa ou recomendá­vel? Que tipo de conflito é recomendável que se use a violência para resolvê-lo? Em nenhum caso a violência é recomendável para se re­solver conflitos. A violência é um mal, e com um mal não se resolve nada, ao contrário. Sendo assim, como aceitá-la ou defendê-la numa briga de casal, em que um homem passe a bater, violentar ou abusar de uma mulher?

Se não se deve bater nas pessoas, como defender ou aceitar que em briga de marido e mulher, ou, em violência de marido e mulher, não se mete a colher, e deixe que a violência “corra solta”?
Se mete a colher, sim! É um direito e um dever de toda a pessoa que tenha conhecimento dessa violência. E é um direito e um dever não só porque a omissão de socorro constitui crime previsto no Código Penal (artigo 135), mas, principalmente, e antes de tudo, porque se trata de solidariedade, e de empatia!

É comum pensar que aquela mulher, vítima de violência, só está apanhando “porque é mulher de malandro”, e se não fosse sairia dessa situação a qualquer momento. Mentira!

Na prática a teoria é outra e a realidade não é tão simples assim. É possível elencar vários motivos do porque essa mulher continua na situação e apanhando, e aqui vai alguns: não ter para onde ir com suas crianças porque o imóvel que o casal mora é o único; não tem família para ampará-la, porque, por religião, ignorância e conser­vadorismo, muitas mães e muitos pais dizerem “ruim com ele, pior divorciada”; os municípios, na quase totalidade deles, não propor­cionam as medidas protetivas previstas na lei, tais como casa abrigo; a Polícia, em muitos municípios, não tem estrutura necessária para atender com a urgência e a rapidez necessárias toda a demanda exis­tente e com isso pode demorar para dar resposta à denúncia e essa demora pode ser fatal após a denúncia feita pela vítima, que ficará mais ainda a mercê do agressor.

Poderíamos continuar a elencar motivos aqui, mas uma pergunta resume todos eles: qual a pessoa, mulher ou homem, que gosta de ser violentada, estuprada, abusada, agredida, ofendida e fica nessa situação por prazer?

Se colocar no lugar da outra pessoa é o exercício da empatia, que nos permite sair do lugar de “julgamento” e passar para o lugar de “sentimento”, de buscar sentir o que a outra pessoa sentiu na situa­ção que ela vivenciou. E esse exercício nos permite ser mais útil do que se estivéssemos no lugar de simples julgamento, onde, amiúde, somos inúteis.

O julgamento não ajuda em nada, além de, na maioria das vezes, ser errado posto que é proveniente da falta de conhecimento de tudo que pode envolver uma dada situação. O que é necessário e útil é que prestemos solidariedade e ajuda às vítimas, que falemos da violência doméstica, que conscientizemos sobre o seu mal, que busquemos e lutemos por espaços adequados para acolher as vítimas com sua crianças, que lutemos por estrutura nos órgãos e entidades públicas para a aplicação das medidas protetivas.

A Lei Maria da Penha e a Lei do Feminicídio existem, mas ainda não existe em todos os municípios do Brasil toda a estrutura necessária prevista na lei para que as vítimas de violência denunciem seus agresssores e com isso estejam seguras, e não mais ameaçadas, e tenham para onde ir e receber medidas protetivas. Eis o problema.

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