Pesquisa realizada pelo Ibope mostra que 46% dos brasileiros estão insatisfeitos com as fakenews
Uma pesquisa realizada pelo Ibope aponta que 46% dos entrevistados se sentem incomodados com as notícias falsas, as fakenews. Em outro levantamento, do mesmo instituto de pesquisa, 90% dos usuários de internet do Brasil afirmaram que foram ‘vítimas’ das notícias falsas. Ambas foram realizadas no final de 2018, após o período do processo eleitoral, tema que foi alvo de muita discussão.
O levantamento do Ibope mostrou que apenas um, em cada dez internautas, caiu na armadilha das fakenews, apontou ainda que 76% tinham conteúdo com informações enganosas e falsas, 57% eram notícias antigas utilizadas como se fossem recentes, 45% continham conteúdo manipulado, 37% tinham um título que não condizia com o restante do conteúdo e outras 37% eram 100% falsas.
O Facebook e WhatsApp apareceram como os maiores responsáveis pela divulgação de conteúdos mentirosos, 80% e 75%, respectivamente. O boca a boca apareceu como responsável por 23% das divulgaçõese outras redes sociais como Instagram (18%), YouTube (15%) e Twitter (8%) também foram apontados pelos entrevistados.
Para se prevenirem de enganos, 47% dos entrevistados dizem sempre checar a veracidade de todas as notícias que leem ou recebem e 42% afirmam que, às vezes fazem isso, enquanto 11% declaram fazer isso nunca ou quase nunca.
Na hora de confirmar se a informação vista na internet é verdadeira, ou falsa, 58% verificam a fonte/site da notícia, 45% leem a reportagem completa para não ter dúvida sobre o assunto, 42% buscam outras fontes para validar a notícia, 30% conferem a data da publicação e 18% pesquisam sobre a fonte.
Neste cenário, os portais de notícias são citados como as fontes nas quais os internautas mais confiam (66%), enquanto somente 5% confiam nas informações do Facebook, mesmo percentual dos que confiam nas conversas com parentes e 4% confiam nas conversas com amigos. O WhatsApp é citado por apenas 4%. A pesquisa foi realizada com 2.000 internautas das classes A, B, C e D, de todas as regiões do Brasil.
Marcia Ceschini, diretora de social media da Chilli360, acredita que os números podem ser bem maiores que o apresentado nas pesquisas. “Precisamos pensar na ótica do usuário comum de internet. Eles acham que ‘se está na internet, então é verdade’. Outro fator que influencia na propagação dessas fake news, é que a notícia é compartilhada por alguém conhecido, e esse alguém tem influência sobre essa pessoa e ela acredita que é real”, diz.
Para o especialista em mídias sociais e professor universitário, Eduardo Soares, os dados da pesquisa “não são nada assustadores”.
“Vivemos em um mundo em que as fake news estão dominando os conteúdos. Elas disseminam muito rápido, porque o usuário quer acreditar no conteúdo.
É preciso trabalhar uma questão de postura e educação. O problema não é apenas a primeira pessoa que manda, mas as pessoas que abraçam a causa errada, negativa e que podem prejudicar outras”, afirma.
O jornalista e professor universitário Igor Savenhago, aponta que as fake news concorrem com a produção séria do jornalismo sério e de qualidade.
“Muitas pessoas não conseguem diferenciar uma informação apurada e bem produzida de uma produzida para o mercado de fake news. Isso virou um mercado poderoso. Tem empresas que apoiam essa produção de notícias falsas porque conseguem atingir visibilidade quando elas são divulgadas. Não deixa de ser um mercado criminoso”, avalia Savenhago. “Por outro lado o próprio jornalismo tem uma parcela de culpa, pois uma parcela da imprensa está a serviço de determinados grupos políticos e econômicos e não tem compromisso com o cidadão que consome a informação. Durante muito tempo esses grupos agiram assim e continuam agindo. Vejo uma oportunidade para o jornalismo retomar a confiança da população”, completa.
A Era da Pós-Verdade
Savenhago cita que estamos vivendo, o que é chamado na teoria da comunicação, de ‘Era da Pós-Verdade’. “Muita gente sabe que a informação é falsa e mesmo assim compartilha, porque a informação é condizente com a ideologia que ela acredita. Alimenta a notícia não porque acredita nos fatos, mas porque aquela notícia condiz com aquilo que ela acredita”, explica. “Temos então diferentes situações. Uma parcela falta discernimento e uma que sabe que é falsa, mas propaga mesmo assim”, complementa.
Nesse sentido, Soares diz que o WhatsApp é uma ferramenta poderosa. “Legalmente fica difícil de desmentir. É uma rede bem fechada que garante a privacidade na troca de informações. E, realmente, as pessoas tendem a acreditar, porque querem acreditar. Se não gosta de um determinado candidato, vê um discurso falso e quer que aquilo seja verdade, a pessoa propaga a informação”, finaliza.