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MERCADO DE TRABALHO – Pandemia atrasou luta das mulheres por equidade

ALFREDO RISK

A luta pela equidade de gênero no mercado de traba­lho global encontrou na pan­demia um entrave. De acordo com o documento Women In Work Index, a covid-19 atrasou em, pelo menos, dois anos os avanços desta agen­da. O estudo ainda aponta que serão necessários 33 anos para que a taxa de mulheres empregadas, hoje 69%, seja equivalente ao índice atual de homens, 80%, nas economias da Organização para Coope­ração e Desenvolvimento Eco­nômico (OCDE – organização econômica intergovernamen­tal com 38 países membros, fundada em 1961 para estimu­lar o progresso econômico e o comércio mundial).

Levantamento feito pela consultoria PwC, com grandes empresas brasileiras que repre­sentam 1/3 do PIB brasileiro, indica uma tendência similar: até 2019 houve um crescimen­to médio de representativida­de feminina de 14% ao ano. A partir de 2020 e com um cená­rio de pandemia, a represen­tatividade passou a retroceder na ordem de 12% ao ano – com uma maior queda no percen­tual de mulheres na liderança: -14%. Os indicadores de desli­gamentos demonstram o mo­tivo: no período da covid-19 as mulheres tinham 7% mais chance de pedirem demissão e 28% mais chance de serem dis­pensadas pelas empresas.

Quanto às projeções para equidade salarial, as perspec­tivas são ainda piores. O Wo­men In Work Index indica que serão necessárias mais de seis décadas – 63 anos – para que a remuneração delas seja igual à deles. O intervalo para que a taxa de desemprego feminino caia para o patamar atual dos homens também não é anima­dor: são estimados nove anos.

Ao comparar o desempre­go com o crescimento das ocu­pações previstas antes da pan­demia, descobriu-se que havia 5,1 milhões a mais de mulheres desempregadas e 5,2 milhões a menos de mulheres partici­pando do mercado de trabalho do que seria a realidade, caso a pandemia não existisse.

A discrepância de realida­des se acentua de maneira mais intensa quando colocamos sob perspectiva grupos étnicos mi­noritários. O mesmo estudo mostra que no Reino Unido, por exemplo, no terceiro tri­mestre de 2021 mulheres des­ses grupos estão, em média, mais de uma década atrás das mulheres brancas em termos de desemprego e estão pro­porcionalmente piores do que estavam em 2011.

“Após uma década de ga­nhos lentos, mas consistentes, para as mulheres no mercado de trabalho em toda OCDE, vimos queda pela primeira vez. Essa realidade constata­da pelo estudo se reflete tam­bém no cenário brasileiro. Por aqui, nossas mulheres foram mais atingidas pelos cortes e pela necessidade de deixar o mercado de trabalho afetando objetivamente a representativi­dade de gênero nas empresas. Há perspectivas de uma recu­peração mais acelerada nos próximos anos do que vimos na última década, dado que nosso estudo de capital hu­mano indica que as mulheres têm melhor formação – ende­reçando desafios como lacuna de competências – e maior en­gajamento. Ainda assim, serão necessárias políticas públicas e privadas para voltarmos a pa­tamares pregressos de inclu­são”, afirma Luciana Medeiros, sócia da PwC Brasil.

Rotina doméstica e desemprego na pandemia
Cuidar dos filhos e da casa contribuiu de forma significativa para que mulheres deixassem o mercado de trabalho. Um relatório da OCDE mostra que as mulheres assumiram mais responsabilidades não remu­neradas durante a pandemia, o que as levou a deixar o trabalho mais que os homens.

De acordo com o estudo, as mães eram três vezes mais propensas do que os pais a assumir a maioria ou a totali­dade do trabalho doméstico por conta do fechamento de escolas e creches.

Carolina Sabbag Salotti, vice-presidente da Comissão da Mulher Advogada da 12ª Subseção da OAB/ SP, em Ribeirão Preto – FOTO: ARQUIVO PESSOAL

Mulheres comandam apenas 29% dos escritórios de advocacia
No início do século XX, Myrthes Gomes de Campos se tornou a primeira mulher a exercer a ad­vocacia no Brasil. Apesar de ser considerada, oficialmente, a pri­meira advogada brasileira, dois séculos antes, Esperança Garcia, mulher negra que foi submetida à condição de escravidão, já havia desafiado a ordem posta e enviado uma carta ao governa­dor do estado do Piauí relatando os maus tratos sofridos por ela e por outras mulheres e homens na região.

Esta carta é considerada, por historiadores, uma verdadeira petição, tanto que, em 2017, a Ordem dos Advogados do Brasil do Piauí a reconheceu como a primeira mulher advogada do Estado, o que a alçou à condi­ção, ainda que não oficial, de primeira advogada brasileira.

Entretanto, apesar de, no Brasil, o ingresso das mulheres na advocacia ter acontecido há, no mínimo, dois séculos, foi somente em 2021, mais espe­cificamente em abril daquele ano, que os dados do Conselho Federal da Ordem dos Advoga­dos do Brasil evidenciaram que, pela primeira vez na história, o número de mulheres brasileiras exercendo a profissão superou o número de homens. “Marco, cla­ro, que deve ser celebrado, afinal foi fruto das lutas femininas por direitos, mas que também deve ser encarado como reflexo das dificuldades enfrentadas ao longo dos anos pelas mulheres para ocuparem postos tradicio­nalmente tidos como masculi­nos na sociedade e no mercado de trabalho”, avalia Carolina Sabbag Salotti, vice-presidente da Comissão da Mulher Advoga­da da 12ª Subseção da OAB/SP, em Ribeirão Preto.

A advogada salienta que estas dificuldades estão longe de aca­bar. “Há que se considerar, por exemplo, que, segundo dados de levantamento realizado pelo Centro de Estudos das Socie­dades de Advogados (CESA), também em 2021, apenas 29% dos postos de comando nos escritórios de advocacia do Brasil eram ocupados por mu­lheres. Esta mesma disparidade pode ser observada, inclusive, dentro dos próprios quadros da Ordem dos Advogados do Brasil: com quase 90 anos de história, foi somente no final do ano passado que a OAB/SP elegeu sua primeira presidenta, a Dra. Patrícia Vanzolini”, acrescenta.

Carolina lembra que apesar de as advogadas serem hoje maioria no Brasil, nem todas as mulheres conseguiram acesso à carreira da mesma maneira. Basta mencionar que a primeira travesti a se inscrever na OAB, Janaína Dutra, concluiu sua graduação em Direito apenas em 1986 e a primeira indígena ad­vogada brasileira, Joênia Batista de Carvalho – Joênia Wapichana, formou-se somente em 1997.

“E faço estas reflexões não para que tenhamos um olhar pessi­mista e desanimador sobre a realidade da advocacia feminina brasileira, mas para que, reco­nhecendo os avanços e perce­bendo as dificuldades, possa­mos, cada vez mais, enquanto advogadas (e advogados), nos unir e construir, dia após dia, uma advocacia mais respeitosa e equânime para as mulheres. E isso envolve, sem sombra de dúvidas e de maneira urgente, a construção de soluções efetivas para que as barreiras enfren­tadas por algumas de nós (em razão das interseccionalidades entre gênero e raça, identidade de gênero, orientação sexual, entre outras) sejam superadas, o que inclui, por exemplo, a luta por maior paridade – para TODAS – nos postos de coman­do e nas posições de liderança, dentro e fora da OAB”, finaliza.

Cleide Prates é gestora da Comunicação Estratégica da empresa, setor que engloba várias áreas – FOTO: DIVULGAÇÃO

Mulheres ocupam 57% dos cargos de liderança em rede de Ribeirão
Em um departamento da Rede Tonin, que por muito tempo foi ocupado em sua maioria por ho­mens, o administrativo-financei­ro, 57% dos cargos de liderança são de mulheres.

Um deles é de Cleide Prates. Ela entrou na empresa como estagiária do Departamento de Vendas e Marketing, em um pro­grama que deveria ter a duração de dois anos. Mas devido à sua performance no trabalho, em seis meses foi efetivada.

Natural de Jacuí, uma pequena cidade do interior de Minas Gerais, formou-se em Contabi­lidade, mas a oportunidade que teve na Rede a levou a continuar os estudos em outras áreas. “Fui uma das responsáveis pela cria­ção e estruturação do Departa­mento de Marketing dentro da empresa, participei de todos os processos de evolução, inclusive da grande reviravolta da trans­formação digital”, explica.

Dos 60 anos de existência da Rede, um terço foi com a cola­boração de Cleide. Atualmente, ela é gestora da Comunicação Estratégica da empresa, setor que engloba várias áreas como SAC, Marketing, E-commer­ce/Aplicativos, Trade, CRM, Endomarketing. Além de oito colaboradores internos sob sua coordenação, ela é a interface com os prestadores de serviços: assessoria de imprensa e agên­cia de publicidade.

Mãe, esposa e apaixonada pelo que faz, Cleide não para de estudar. Já concluiu o curso de Gestão Empresarial pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), fez vários outros cursos ao longo da carreira e agora vai iniciar a formação em Ex­periência do Cliente, também pela FGV. Em poucas palavras, Cleide resume a sua trajetória profissional com muito orgulho e incentiva outras mulheres a lutarem pelo que acreditam.

“Tudo começou quando passei a ocupar uma vaga de estágio no Departamento de Vendas e Marketing e em 2022 completo 20 anos de trabalho. Gosto de desafios. Foco, dedicação, de­terminação, gratidão, propósito são palavras que me definem. Muitos foram os momentos de aprendizado, superação e inú­meras conquistas. Me conside­ro estar em constante proces­so de aprendizado. O que tem por trás de um profissional? A família, minha base, meu alicerce e de onde vêm os meus valores. Onde aprendi que é preciso correr atrás porque nada vem de graça. Trabalhe em empresas que tenham os mesmos valores que os seus”, conclui.

Diretoria feminina
Outro exemplo de liderança feminina é Elisa Tonin, vice-pre­sidente do Grupo Tonin, que está prestes a ocupar o cargo maior na empresa. Quando tinha 12 anos e sua irmã mais velha 14, o pai, Luiz Antonio Tonin, atual presidente do Grupo Tonin, fez o primeiro plano de estágio para as filhas.

“Colocamos a mão na massa, passamos por todos os setores da empresa, fazendo de tudo. Todas as minhas férias esco­lares, até os 17 anos, foram dentro dos supermercados. Com 14 anos fiz intercâmbio para o Canadá, depois fiz High School nos Estados Unidos e voltei para o Brasil para fazer faculdade de Administração de Empresas na Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM)”, conta.

Nos dois últimos anos de facul­dade, Elisa trabalhou na Aliança de Varejo Independente, em São Paulo, que tinha vários sócios supermercadistas. Depois ainda trabalhou três meses fazendo estágio na Disney, vendendo sorvete. “Apesar de pouco tempo, a experiência na Disney foi uma lição de vida e também de administração. Tive oportu­nidade de conhecer de perto a logística de uma empresa da­quele porte e muitas coisas que aprendi lá levo até hoje comigo e implementei na empresa”.

Formada, Elisa tinha opção de ir trabalhar no exterior ou então voltar para São Sebastião do Pa­raíso para trabalhar na empresa familiar. Já namorando firme e pensando em conciliar carreira e vida pessoal, escolheu a segunda opção. Em 2007, começou a tra­balhar no Tonin. “Meu pai sempre deixou claro que a empresa não era cabide de emprego. Passei de novo por todos os departamentos para identificar os que tinha mais afinidade. Eu tinha que conquis­tar o meu lugar. Decidi que iria ficar na área comercial. Fiz um projeto grande de Gerenciamen­to de Categoria, que está em atividade até hoje”.

Em 2015, a família decidiu ini­ciar um processo de governança corporativa, que está em anda­mento até hoje. Foram ouvidos todos os funcionários da empre­sa e liderança da família ou não. “Tínhamos muitos líderes pre­parados porque sempre incenti­vamos o crescimento profissional de nossos funcionários, inclusive com um plano de carreira bem definido, mas naquele momento a empresa me escolheu para ser líder. Foi uma escolha baseada no sentimento empresarial como um todo. Não estou aqui neste cargo por indicação do meu pai ou de qualquer outra pessoa, mas por uma avaliação profissional que revelou o sentimento do todo. Isso muito me conforta e me dá ainda mais responsabilidade para representar essa equipe”.

Elisa é a segunda das quatro filhas do presidente Luiz Antonio Tonin. A primogênita, Ana Luiza, atua na diretoria Comercial, a terceira, Lilian é a diretora de Marketing e a caçula, Lídia, está na diretoria Financeira. O pro­cesso de governança continua e está na etapa de formação do conselho administrativo e fi­nanceiro que será composto por conselheiros externos e internos, inclusive o sr. Luiz Antonio Tonin irá para o conselho e em breve deixará a presidência do grupo.

 

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