Mais uma vez, nosso país teve uma ótima oportunidade de se projetar positivamente em nível internacional. Pelo contrário, foi um vexame. Mas já era de se esperar de quem só sabe trocar os pés pelas mãos e alçar o Brasil como verdadeiro pária entre as nações. Bolsonaro rasgou o discurso, preparado pela diplomacia, que deveria proferir na abertura da Assembleia Geral da ONU. Preferiu destilar uma peça desconexa e voltada para agradar a escória da extrema-direita daqui e de alhures. Discursinho reba preparado pelos seus filhos.
Como sempre, recitou mentiras, disparates, delírios e reafirmou a sua visão fascista e reacionária. Chegou a dizer que o seu gado fez a maior manifestação pública da nossa história no 7 de setembro. Digno de gargalhadas. Ele se colocou como se estivesse conversando com apoiadores no chiqueirinho do Alvorada. No conteúdo do discurso, ele simplesmente ignorou a retumbante audiência que costuma acompanhar esse que é o principal evento anual das Nações Unidas. Os presentes devem ter ficado assombrados com as barbaridades que ouviram.
O tresloucado não se referiu a nenhum tema central da agenda internacional da atualidade. Se contentou em desfilar questões doutrinárias e ideológicas que fazem parte do ideário da extrema-direita. E, assim, gastou 12 minutos com “família tradicional”, fundamentalismo religioso, anticomunismo, negacionismo e ataques à democracia. O único momento, em que tocou em um assunto internacional, foi para dizer que o Brasil receberia refugiados afegãos. Mesmo assim, recheando com uma pérola: somente os cristãos!
O vexame internacional do Genocida foi acompanhado pela sua trupe. “Um manda, outro obedece” – essa máxima foi seguida ao pé da letra pelo Ministro da Saúde, Marcelo Queiroga. Primeiro reagiu com gesto obsceno aos manifestantes contrários ao chefe. “Brasil mostra o dedo do meio ao mundo” foi a manchete do jornal alemão FrankfurterAllgemeineZeitung (FAZ). E para encerrar a ópera bufona, o próprio Queiroga é diagnosticado com Covid-19 e fica retido em Nova Iorque. Estamos, de fato, muito mal na fita.
Só mesmo vergonha e repulsa diante deste espetáculo dantesco. Estes sentimentos, no entanto, não sensibilizam o gado, para quem a estupidez do duce ecoa como música. Há muito de calculado nas ações de Bolsonaro. A cena com a comitiva de bárbaros comendo pizza na rua, porque foram impedidos de ingressar em restaurantes por não estarem vacinados, valeu muitos pontos na sua popularidade junto aos apoiadores aqui no Brasil. Sua aparência enganosa de humildade faz parte de uma eficiente estratégia de comunicação.
Enquanto consideramos Bolsonaro uma ameaça, seus adoradores entram em êxtase com o “mito” que move céus e terra contra toda a engrenagem do “sistema opressor”. Aliás, um dos vetores da sua eleição foi ser o “candidato antissistema”. Nada no Genocida surpreende. Quando se imagina que já chegou no fundo do poço, ele surge com uma pá nas mãos para cavar ainda mais fundo o buraco do precipício. Com ele, sempre pode piorar. E é o que vai acontecendo, dia após dia, com este nosso sofrido país.
O Genocida detém a fatia eleitoral mais competitiva das classes dominantes na cruzada anti-Lula. Ele ainda ostenta, sozinho, um cacife eleitoral maior que a soma de intenções de votos de todos os candidatos da famigerada 3ª via. Ele sabe que, enquanto possuir este relevante ativo eleitoral, ninguém ocupará o seu posto de anti-Lula mais competitivo e, dessa forma, conseguirá ficar blindado de um eventual impeachment. E Lira é o fiador desta blindagem. Passará à História como capataz do Genocida.
Bolsonaro também sabe que, na eleição do ano que vem, como em 2018, poderá ser outra vez a “escolha muito difícil” das classes dominantes para tentar impedir o retorno de Lula à presidência. Mesmo que elas tenham de usar ou apoiar fraudes ou golpe. Esta é a tragédia do Brasil. Em 64, essa corja já deu demonstrações de seu amor “eterno” pela democracia. Não custa nada repetir a dose. O Brasil tem a elite do atraso, como lembra o livro de Jessé Souza. Esta é a nossa tragédia.