José Aparecido Da Silva*
Dentre as várias emoções ligadas a outras pessoas destaca-se a emoção denominada amor. A emoção amor refere-se tanto a uma disposição emocional duradoura em relação à outra pessoa, quanto ao sentimento imediato de forte emoção na presença dessa pessoa. Os sentimentos de amor podem apresentar muitas formas (amor maternal, amor romântico, amor por si mesmo). Também as emoções do amor podem variar nestas e em outras formas, com a intensidade da experiência variando desde a suave até a profunda. O grau de tensão pode variar da mais serena afeição até a mais violenta e agitada paixão. Amor é uma emoção que todos já vivenciaram em algum momento de suas vidas. Pelo fato de ser um conceito tão familiar, qualquer um suporia que todos os pesquisadores concordam plenamente com o que constitui o amor e como se pode mensurá-lo. Isto não é o que de fato ocorre. A maioria das pesquisas sobre o amor é baseada em concepções teóricas definidas a priori. Usualmente, o pesquisador começa definindo o que é amor e então desenvolve uma escala para quantificar aquela concepção e os resultados tendem a refletir este processo. Estas escalas são designadas para medir um ou mais aspectos do amor, tais como postulados pela teoria. Nos últimos anos tem havido um crescente interesse pela pesquisa sobre o amor e também sobre outras emoções positivas do homem. Este domínio da Psicologia tem sido denominado de Psicologia Positiva.
A teoria trifatorial do amor constitui-se num enfoque teórico bastante significativo. A teoria supõe que praticamente todos os tipos de amor podem ser entendidos a partir da combinação de três construtos: intimidade, paixão e compromisso. A dimensão intimidade emocional é mais bem caracterizada por sentir amor mais do que estar enamorado de alguém. Esta dimensão focaliza a união, a amizade, a confiança e os sentimentos de proximidade que resultam da capacidade de compartilhar desejos e pensamentos mais íntimos com um parceiro. A dimensão compromisso do amor é freqüentemente observada como a decisão de estar e de permanecer com outro durante toda vida. Os compromissos podem variar de simples acordos verbais (estes acordos não podem envolver os aspectos emocional e/ou sexual com a outra pessoa) a contratos legalmente formalizados (casamento). A dimensão apaixonada do amor pode melhor ser caracterizada pelos sentimentos de estar enamorado do outro. A dimensão paixão focaliza aqueles sentimentos intensos de excitação que surgem da atração física e da atração sexual. Inicialmente, a paixão é freqüentemente baseada mais nas qualidades externas de como a pessoa parece e age, do que nos valores, crenças, interesses ou atitudes compartilhadas.
Para estudiosos das teorias culturais do Amor três questões se sobressaem: 1ª) Qual é o papel da cultura no Amor?, (2ª) O Amor é universal? e 3ª) O Amor manifesta-se de diferentes formas em diferentes culturas?. Embora o Amor Romântico possa parecer algo muito natural para todos nós, muitos estudiosos têm constatado que o mesmo parece uma invenção ocidental, não encontrada em outras culturas. Compartilham desta posição não só os psicólogos, estudiosos do comportamento que são, mas, também, antropólogos, sociólogos e historiadores que endossam a mesma concepção. Há estudos que sugerem que o Amor Romântico não existe em países não ocidentais, exceto, possivelmente, para a elite daquelas nações que tem tempo para cultivá-lo. Em posição contrária, os psicólogos evolutivos argumentam que o Amor Compassivo é inato na natureza humana, sendo baseado em processos biológicos universais, aplicando-se às pessoas e a todas as coisas.
Um estudo precioso na área fez uso de amostras interculturais visando investigar se é, de fato, verdadeiro, que muitas pessoas, em vários países do mundo, experimentam o Amor Romântico. Primeiramente, os estudiosos examinaram os dados das amostras interculturais e também analisaram informações disponíveis sobre o folclore e outras etnografias particulares de cada cultura. O que encontraram? Uma quantidade suficiente de informação útil para 166 sociedades. Para cada uma destas, em particular, a informação foi filtrada para sinais de que o Amor existe naquela nação, com os pesquisadores distinguindo Amor de Luxúria, o que não é rotineiro em estudos do tipo. O que buscavam? Sinais que pudessem servir como indicadores de que o Amor estivesse presente durante os dois primeiros anos de um envolvimento pessoal de um casal. Os indicadores usados foram: a) se as pessoas descreviam sofrimento e um desejo para seu amado quando este não estava presente; b) a presença de antigas de amor tradicionais que enfatizavam a motivação subjacente das relações amorosas íntimas; c) registros de Amor Compassivo numa dada cultura; d) as razões pelas quais as pessoas deixam suas casas devido ao seu Amor por alguma pessoa; e d) registros etnográficos sobre Amor Romântico numa dada cultura.
Tomados em conjunto, esses indicadores mostraram aos pesquisadores que o Amor Romântico estava presente em 147 (88.5%) das 166 culturas estudadas. Para as 19 culturas restantes, os estudiosos não foram hábeis em encontrar sinais indicando que as pessoas experenciavam Amor Romântico. Esses dados, todavia, não significam que o Amor Romântico não exista em tais culturas, mas, sim, que este tipo de Amor não foi mencionado como tal nas informações disponíveis. Ainda que os resultados mostrem que o Amor Romântico seja quase universal no mundo, nós não podemos categoricamente concluir que cada pessoa irá se apaixonar alguma vez na vida. Apaixonar-se pode rápido ou lento, intenso ou sutil, e disparado por inúmeros fatores. Assim, como é possível observar, diferentes variáveis podem influenciar se duas pessoas irão se apaixonar ou não. Certamente, a ênfase cultural dada a cada uma dessas variáveis pode fazer a diferença.
Professor Visitante da UnB-DF*