José Aparecido Da Silva*
Esta crônica é dedicada ao meu amigo de e do coração Dr. Evandro Cesarino, um médico cardiologista que sempre está pensando na sua comunidade.
De modo geral, diagnósticos são centrais na prática médica. Contudo, inúmeros estudos sugerem que diagnósticos inadequados têm sido frequentes mesmo em condições clínicas comuns, com elevado potencial mortalidade e morbidade. Ao longo dos últimos séculos, o modelo prevalecente de diagnóstico tem sido um clínico individual avaliar o paciente e chegar, por si próprio, a um diagnóstico do mesmo. Todavia, uma exceção ocorre em hospitais nos quais uma equipe clínica multidisciplinar discute cada caso, elaborando, posteriormente, um diagnóstico. Supõe-se que um diagnóstico baseado numa equipe colaborativa seja superior a um diagnóstico baseado exclusivamente em decisões clínicas individuais.
A despeito da ideia favorável de que o diagnóstico baseado numa equipe seja mais acurado, há pouca evidência sobre as abordagens dos benefícios baseados em decisões coletivas. A habilidade da inteligência coletiva, grupo de indivíduos atuando independente ou coletivamente, sobrepuja indivíduos atuando isoladamente em diferentes arenas da vida, tais como, política, administração e economia, mas o papel da inteligência em ambientes clínicos pouco tem sido investigado. Assim sendo, diagnósticos originados de uma equipe de médicos (inteligência coletiva) está se tornando uma abordagem promissora para se reduzir os diagnósticos inadequados.
Recentemente, em um estudo publicado em JAMA Network 2019, pesquisadores procuraram avaliar a acurácia diagnóstica de grupos de médicos quando comparada a acurácia diagnóstica de médicos efetuada individualmente por estes. Para isso, a acurácia diagnóstica de três condições clínicas consideradas muito complexas foi submetida a avaliações diagnósticas individuais, bem como, a avaliações diagnósticas efetuadas por grupos de 2 a 9 médicos. Os resultados revelaram que a inteligência coletiva, refletida na acurácia diagnóstica, aumentou de 62,5% para os médicos que atuaram individualmente até 85,6% para os médicos que atuaram em grupos de 9 especialistas.
A amplitude de melhoramento variou de acordo com as especificações diagnósticas encontradas a cada grupo de médicos. Entretanto, o importante foi a revelação de que médicos agrupados avaliaram de forma muito mais correta que médicos fornecendo diagnósticos isoladamente, independentemente da abordagem efetuada por cada um dos médicos. A acurácia absoluta do melhoramento de indivíduos para grupos de 9 médicos variando em função dos sintomas apresentados, ou seja, desde um aumento de 17, 3% para dor abdominal à 29,8% para condições febris. Por sua vez, grupos compostos por 2 médicos (77,7% de acurácia) a grupos de 9 médicos (85,5% de acurácia) sobrepujaram especialistas individuais em suas subespecialidades (66,3%).
Tomados em conjunto, uma abordagem de inteligência coletiva, isto é, diagnósticos feitos por grupos de médicos, foi associada a uma acurácia diagnóstica mais elevada quando comparada com aquelas feitas individualmente por especialistas clínicos, cujas especialidades emparelhavam-se aos casos em estudo, independente das condições clínicas analisadas. Em outras palavras, a combinação de diagnósticos de múltiplos clínicos, independente da expertise destes, pode ser uma abordagem mais eficaz para o melhoramento da acurácia diagnóstica, eliminando vieses. Ninguém sendo mais forte de todos nós juntos.
Professor Visitante da Universidade de Brasília (UnB-DF)*