José Aparecido Da Silva
Crônica dedicada aos pesquisadores talentosos e criativos do SUPERA Parque de Inovação e Tecnologia de Ribeirão Preto.
Gênios. Invenção? Talento? Criatividade? São palavras usadas para descrever os níveis mais elevados do desempenho humano. Quando nos engajamos em comportamentos criativos, sentimos que estamos desempenhando no pico de nossas habilidades. Ademais, trabalhos criativos dão-nos insight e enriquecem nossas vidas. Na verdade, criatividade é parte do que nos faz humanos. Para explicá-la temos que considerar uma vasta amplitude de comportamentos criativos, incluindo pintura, desempenho sinfônico e dramático, comicidade, desenhos animados, cinema, vídeos musicais, teoria matemática, ciência experimental em laboratório, estilos musicais, animação computacional, artes finas, escrita, escultura e muitas outras (você nomeia).
Explicar criatividade é importante por muitas razões: 1ª) pode ajudar-nos a identificar e determinar os talentos criativos genuínos de cada pessoa. Do contrário, torna-se difícil reconhecer e fomentar indivíduos com importantes habilidades criativas; 2ª) pode ajudar nossos líderes a responderem melhor aos desafios que as sociedades modernas enfrentam. Trata-se de uma habilidade essencial para a liderança eficiente, pois líderes criativos têm mais impacto ao motivar suas equipes mais efetivamente, sendo, além disso, eficazes em manipular desafios inéditos que os forçam a seguir fora da rotina; 3ª) pode ajudar-nos a sermos melhores solucionadores de problemas. Ao longo da vida, enfrentamos inúmeros problemas a requererem respostas criativas, tais como, nossa sociedade deparar-se com os desafios da poluição, da pobreza, do terrorismo, das guerras, da criminalidade, da saúde, das informações falsas etc., dos quais, alguns podem ser solucionados de forma simples, por um único indivíduo, tendo uma boa ideia. Entretanto, muitos outros requerem grupos de pessoas trabalhando juntas; 4ª) pode ajudar na determinação da relevância das elevadas e positivas experiências voltadas à saúde mental. Durante as experiências altamente elevadas, as pessoas se sentem em seus processos mais criativos, de forma que, criatividade contribui para uma vida completa e feliz; 5ª) pode ajudar educadores a ensinar mais eficientemente, pois criatividade desempenha papel muito importante no desenvolvimento e na aprendizagem, tanto em sala de aula quanto informal nos anos pré-escolares. Criatividade ajuda-nos a fazermos amigos e engajar-nos em jogos coletivos, bem como, como nos comportarmos numa mesa de jantar.
Pesquisadores em criatividade podem ser agrupados em duas grandes tradições de pesquisa, a saber: uma abordagem individualista e outra sociocultural. Cada uma delas tem seu próprio foco analítico e cada uma define criatividade de forma levemente diferente. A abordagem individualista estuda uma única pessoa, conquanto esta esteja engajada em comportamento ou pensamento criativo. Esse enfoque estuda os traços das pessoas criativas, bem como, a maneira destas pensarem, perceberem e relembrarem. Em outras palavras, a definição individualista de criatividade refere-se apenas às estruturas e processos que são associados com uma única pessoa. Decompondo essa definição encontramos três elementos essenciais. Primeiro, criatividade é o novo, ou seja, o elemento mais básico de um pensamento, ou ação, criativos é que ele seja novo e original. Em segundo lugar, criatividade é uma combinação que envolve dois, ou mais, pensamentos e conceitos que nunca foram combinados antes. Terceiro, criatividade é expressa no mundo, ou seja, os pesquisadores de criatividade não podem estudar o que eles não podem ver. Por definição, criatividade tende a excluir ideias que estão na cabeça de uma pessoa e nunca são expressas, ou que nem podem ser vistas ou entendidas.
A definição sociocultural explica como estudar grupos criativos que coletivamente geram inovação, estruturas e processos dos sistemas social, cultural e organizacional. Desta forma, criatividade é a geração de um produto que é julgado ser novo e apropriado, útil ou valorizado por um grupo social reconhecido. Sua definição sociocultural é bastante similar às definições de inovação nas organizações. Todavia, novidade não é suficiente; a criação deve também ser apropriada e reconhecida como socialmente valiosa para alguma comunidade. Por exemplo, a FAPESP está apoiando um projeto brasileiro visando desenvolver uma bateria capaz de durar até 100 anos. Utilidade e novidade podem ser julgadas apenas por um grupo social. Muitos pesquisadores em criatividade têm sido influenciados por uma divisão em 4 partes da pesquisa em criatividade, conhecida como Quatro P (Produto, Pessoa, Processo e Pressão). Produto: neste caso, a pesquisa deve focar produtos julgados novos e apropriados por um relevante grupo social. Criatividade, neste caso, é sempre definida e avaliada usando uma definição sociocultural. Pessoa: pesquisas que estudam os traços de personalidade associados com criatividade. Pessoas criativas são aquelas identificadas com uma definição individualista. Processo: pesquisas que estudam os processos envolvidos durante o pensamento e o trabalho criativo. Pressão: envolve pesquisa que focaliza pressões ou forças externas atuando sobre o processo (contexto social) ou a pessoa criativa (contexto cultural).
As duas definições englobam o indivíduo e o contexto em que os pensamentos ou ações criativas ocorrem, o que nos leva a definir Criatividade como um construto multifacetado.
Professor Visitante da UnB-DF