Tribuna Ribeirão
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Mensurando Psicologia (22): Eventos de Vida (Natal e Ano Novo)   

José Aparecido Da Silva 

 

Em várias ocasiões vocês me ouviram falar que a “vida é um contínuo processo de reajustamento social aos eventos de vida”. Os detalhes são agora perdidos por falta de espaço. Não obstante, posso relembrar que os eventos de vida com os quais nos deparamos ao longo dessa bela trajetória nos requerem diferentes graus de reajustamentos, podendo ser enquadrados em dois grandes contínuos: o grau de complexidade e o grau de estresse psicológico. Tal reajustamento envolve tanto a intensidade, quanto o período, necessários, para alguém se acomodar aos mesmos. Neste contexto, podemos mensurar a magnitude de cada evento de vida numa escala que reflita o grau relativo de reajustamento necessário para se acomodar a este evento, independentemente de sua desejabilidade. O reajustamento social inclui a quantidade e a duração da mudança num padrão habitual devido a vários eventos de vida. Evidentemente, várias variáveis moderadoras podem afetar os julgamentos, tais como idade, traços de personalidade, diferenças individuais em relação à vulnerabilidade, educação, fatores psicossociais e psicológicos. Mas a escala de eventos de vida é invariante entre diferentes nações, indicando alta similaridade nos julgamentos efetuados pelas diferentes populações culturalmente distintas. 

Com o propósito de escalonar o grau de ajustamento requerido para diferentes eventos de vida, pesquisadores elaboraram uma escala contendo, originalmente, 43 itens. Exemplos destes são: casamento, morte da esposa, luto, gravidez, mudança de residência, dificuldades sexuais, divórcios, problemas no emprego, pandemia da Covid-19, desemprego, férias, detenção, mudança nas atividades religiosas, elevado financiamento para aquisição de imóvel, aposentadoria e feriado de Natal e festividades de passagem de ano, entre muitos outros. Os participantes deste estudo foram, então, instruídos a assinalar um valor que refletisse a magnitude do reajustamento social requerido por cada evento de vida, em comparação a um módulo inicial, arbitrariamente selecionado desta lista, tomado como referencial. Deste modo, todos os demais itens eram escalonados em proporção a este módulo. O evento de vida previamente escolhido foi o casamento, cujo módulo foi 100. Assim, se um outro evento de vida requeresse metade de reajustamento social que o casamento, a ele deveria ser designado 50. Ao contrário, se um evento de vida necessitasse de um reajustamento social duas vezes maior que o casamento, os participantes deveriam assinalá-lo com o valor 200. Mas, por outro lado, se entendesse que o reajustamento social requerido fosse quatro vezes maior, eles deveriam estimá-lo com o valor 400. Seguindo estas instruções conhecidas como estimativas numéricas de magnitude, os observadores deveriam julgar os demais 42 eventos restantes levando em consideração o valor 100, previamente atribuído ao casamento tomado, no estudo, como o evento padrão, ou estímulo padrão. 

Esta escala foi aplicada em vários segmentos da sociedade norte-americana, bem como, nas culturas japonesa, mexicana, dinamarquesa, sueca, francesa, belga, holandesa etc., revelando, sempre, que as estimativas de magnitude dos reajustamentos sociais, requeridos por estes diferentes eventos de vida, são independentes da cultura e, mesmo, de etnias, raça e sexo. No Brasil, com colaboradores, realizamos estudos similares em Ribeirão Preto, Uberlândia e Rio de Janeiro. E os principais dados revelaram que os eventos de vida “morte do cônjuge”, ou de alguém íntimo da família, assim como, “detenção” na cadeia e “divórcio”, foram os de maior grau de reajustamento social. Por sua vez, enquanto feriado de Natal, festividades de entrada do Ano Novo, férias, alterações no sono, mudanças nos hábitos alimentares e pequenas violações da lei, foram considerados os de menor grau de reajustamento. Ademais, os dados obtidos com estas três amostras brasileiras foram altamente concordantes com a amostra americana. E, também, altamente estáveis ao longo do tempo. O que prova que os eventos Natal e entrada de Ano Novo demandam pouco reajustamento social, ou seja, são menos estressantes do que muitos acabam por julgar. 

Professor Visitante na UnB-DF 

 

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