Tribuna Ribeirão
Cultura

Menino que ensina crochê se ‘inspira’ em Rodrigo Hilbert para superar preconceito

Por João Abel

Um celular, algumas agulhas e muita habilidade: foi assim que Junior Silva, um menino de 12 anos, chamou a atenção da internet ao ensinar como fazer crochê e chegou a 50 mil seguidores no Facebook. Depois de críticas e denúncias ao perfil do garoto, ele teve sua página removida da rede social na última terça-feira, 29. Mas não desistiu e criou uma nova conta para seguir publicando seus vídeos.

Segundo os termos legais, uma pessoa só pode administrar páginas no Facebook se tiver mais de 13 anos – idade que Junior completa no próximo dia 21. A nova conta agora é controlada pela mãe, Denise Vieira, de 32 anos, e já chegou aos 20 mil seguidores em 48 horas.

Para ela, o crochê é uma forma de levantar a autoestima do filho “Ele ficou muito arrasado por perder a página. Queria até desistir e falou pra mim: ‘Mãe, eu não vou mais fazer’. Mas depois que ele viu o sucesso da nova página, ficou todo feliz”, diz Denise.

O interesse pela técnica de costura começou quando o menino viu a tia e a avó trabalhando com as agulhas. “Ele pediu para elas ensinarem e, em pouco tempo, já tinha aprendido. Nós achamos que era ‘fogo de palha’ e que logo ele ia largar”, conta a mãe.

Além do Facebook, o ‘crocheteiro’ também tem um canal no YouTube que atingiu a marca de 10 mil inscritos. Os vídeos são produzidos pelo garoto com o próprio celular. Ele também edita as gravações, publica na página e escreve as legendas. “Meus amigos gostam e me apoiam”, ressalta Junior ao E+.

O menino vive com a mãe e mais três irmãos em Iaras (SP), cidade a 285 km da capital com pouco mais de 7 mil habitantes. No pequeno município, Denise conta que a repercussão do caso foi imensa. “Todo mundo me liga para elogiar, param na rua para perguntar. As pessoas do meu trabalho, da escola dele. Nós não imaginávamos esse alarde todo”, declara.

PRECONCEITO

Apesar do incentivo dos parentes e pessoas mais próximas, Denise admite que Junior recebeu muitos comentários preconceituosos na internet, mas “levou tudo na boa”, segundo a mãe. “Tem muita gente que dizia para ele largar o crochê, que um menino na idade dele tinha que brincar com outras coisas. As pessoas não entendem que ele só pega o crochê quando vai gravar um vídeo. Fora isso, ele brinca, vai à escola, faz as coisas normalmente”, destaca.

Para superar as críticas, Junior revela que uma das inspirações foi o ator Rodrigo Hilbert, que teve uma foto vazada na internet em junho, onde aparece fazendo crochê. “Quero ver se ele consegue fazer mais rápido do que eu”, brinca o garoto. Mesmo com a pouca idade, Denise acredita que o filho está quebrando tabus desde pequeno: “Por causa dele, outros meninos também começaram a fazer [o crochê]. Isso também é uma forma de acabar com o preconceito”.

Ela revela que Junior ensinou a técnica para a irmã Yasmim, de nove anos, e as professoras dela levaram o crochê para os alunos que quisessem aprender durante as aulas de Educação Artística.

Além do machismo, outra crítica que a família superou foi a alegação de que Junior estaria sendo submetido a trabalho infantil, mas a mãe faz questão de reforçar que o crochê é apenas um passatempo do filho. “Ele vende uma ou outra peça que faz e aí ajuda a pagar a internet, compra um sorvete com os amigos, jogos de videogame, essas coisas. Mas é algo muito informal”, diz Denise. “Ele é uma criança como qualquer outra”, completa a mãe.

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